Ciência e Saúde

Estudo aponta que bactérias da boca mudam ao longo do tempo

Fenômeno foi descoberto por cientistas americanos após sequenciarem o microbioma oral de crianças com diferentes idades. A descoberta poderá ajudar no desenvolvimento de medidas mais personalizadas para tratar e prevenir cáries e periodontite

postado em 21/06/2019 06:00
Fenômeno foi descoberto por cientistas americanos após sequenciarem o microbioma oral de crianças com diferentes idades. A descoberta poderá ajudar no desenvolvimento de medidas mais personalizadas para tratar e prevenir cáries e periodontiteA microbiota humana se tornou um fator de extrema importância para entender e tratar uma série de enfermidades, como o câncer e a obesidade. Além dos micro-organismos que habitam o intestino, especialistas têm estudado aqueles que vivem na cavidade oral de indivíduos e seus impactos sobre o resto do corpo. Nessa linha, cientistas americanos mapearam as bactérias presentes na boca de crianças com 1 a 12 anos e detectaram uma evolução na diversidade desses seres microscópicos ao longo da idade dos voluntários. As descobertas, publicadas na revista Journal of Dental Research, poderão auxiliar em estratégias mais personalizadas de tratamento e prevenção de complicações como a cárie e a periodontite.

Participaram do estudo 252 crianças, que tiveram a composição do microbioma bacteriano oral avaliada por meio de sequenciamento genético altamente avançado. O objetivo dos especialistas era entender melhor a composição das bactérias orais durante o desenvolvimento humano. ;A composição do microbioma oral é criticamente importante na saúde bucal e na doença, mas os padrões e os mecanismos relacionados a esse tema ainda não foram estudados de forma abrangente;, justificam, no artigo, os autores do estudo, liderado por Ann Griffen, pesquisadora da Universidade Estadual de Ohio.

Na análise, a equipe descobriu que a riqueza de espécies de microbiota aumenta com a idade tanto na placa supragengival quanto na subgengival e tende à saliva. ;Aproximadamente, 20% das espécies aumentaram significativamente;, frisam os autores. Entre as diversas variáveis clínicas examinadas, apenas idade, níveis de placa e presença de tártaro mostraram efeito significativo na composição da comunidade microbiana dos voluntários. ;Os resultados sugerem que o amadurecimento de comunidades microbianas orais em crianças segue um padrão comum. Ele se torna mais complexo com o avanço da idade e tem como característica um núcleo estável das principais espécies;, explicam os pesquisadores.

Também foi identificada a existência de um grupo compartilhado de espécies precoces que são perdidas ou diminuem em abundância com o avançar da idade. Outro grupo, por outro lado, vai ganhando mais espaço. ;Acreditamos que esses dados são valiosos, pois podem nos ajudar a entender melhor o desenvolvimento de bactérias orais e, se necessário, controlá-lo. Mas é preciso se aprofundar no tema, mais dados são necessários para confirmar os resultados desse estudo;, ponderam os autores do artigo.

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Ítalo Barbosa, cirurgião dentista, acredita que o estudo internacional mostra dados valiosos, que seguem uma linha que tem sido bastante explorada por especialistas na área odontológica. O especialista também concorda com o trabalho precisa ser aprofundado. ;A alimentação, por exemplo, é um fator que não foi analisado e que pode influenciar, de forma gigantesca, a comunidade de bactérias orais em crianças. O uso de antibióticos também. Ele é tão significativo que, quando ingerimos esse medicamento, demora cerca de dois anos para as bactérias mortas por ele serem restauradas pelo organismo;, ilustra.
Segundo o médico, estão surgindo opções terapêuticas relacionadas ao mapeamento de bactérias orais. Para ele, essas abordagens podem contribuir para tratamentos mais eficazes de problemas bucais comuns, como a cárie e a periodontite. ;Temos uma pesquisa feita por cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, em que os especialistas testaram uma transferência de genes com o objetivo de tratar pacientes com doenças crônicas, como a periodontite. É algo com resultados preliminares positivos, que ainda precisa ser mais estudado, mas que já começa a tomar forma;, relata.

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