Ciência e Saúde

Crânio do mais antigo Homo sapiens não africano é descoberto na Grécia

Crânio descoberto na Grécia tem cerca de 200 mil anos e adianta em mais de 150 mil anos a chegada do homem moderno à Europa. Descoberta soma-se a recentes estudos que estão recontando as primeiras migrações humanas

Correio Braziliense
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postado em 11/07/2019 06:00
Encontrado no fim da década de 1970, na Grécia, o Apidima 1, após análises mais recentes, passou a ser considerado um ''Homo sapiens precoce''Cientistas encontraram vestígios do Homo sapiens não africano mais antigo: um espécime grego que tem aproximadamente 210 mil anos. As descobertas, publicadas na última edição da revista britânica Nature, adiantam em mais de 150 mil anos a chegada da espécie à Europa. Batizado pelos especialistas de Apidima 1, o crânio analisado é reconhecido tardiamente, já que foi encontrado no fim da década de 1970, na caverna de Apidima, na Grécia. Só agora, com avanços tecnológicos, sua origem foi decifrada.

Apidima 1 é ;mais velho que todos os outros espécimes de Homo sapiens encontrados fora da África;, explicou à agência France-Presse de notícias (AFP) Katerina Harvati, pesquisadora da Universidade de Tübingen, na Alemanha, e coautora do estudo. Até agora, contava-se como fóssil mais antigo do Homo sapiens um fragmento de mandíbula encontrado em uma caverna de Israel. A peça remonta a um período de entre 177 mil e 194 mil anos. Os outros mais antigos têm entre 90 mil e 120 mil anos. O até então mais velho da Europa datava de 70 mil anos.

Apidima 1 foi encontrado, no fim dos anos 1970, por integrantes do Museu de Antropologia da Universidade de Atenas, em uma caverna em Apidima, no Peloponeso. Na época, havia sido catalogado como o crânio de um pré-neandertal. Técnicas modernas de datação e de imagens ; os cientistas usaram um computador tomográfico e um escâner para reconstruir virtualmente em 3D o fóssil e compará-lo a outras espécies ; permitiram que Harvati e sua equipe identificassem uma ;mistura de características humanas modernas e arcaicas;.

Para a equipe, a descoberta faz dele um ;Homo sapiens precoce;. Porém, como os arqueólogos só encontraram a parte traseira do crânio, abre-se dúvidas sobre a sua origem. ;Alguns poderiam argumentar que o espécime está incompleto demais para que seu status de Homo sapiens seja inequívoco;, justifica Eric Delson, do Lehman College de Nova York, em um comentário publicado também na revista Nature.

Dois grupos

Perto de Apidima 1, havia outro crânio, batizado Apidima 2. Segundo o estudo, trata-se de um neandertal de 170 mil anos. ;Nossos resultados sugerem que ao menos dois grupos de pessoas viveram no Pleistoceno Médio onde atualmente é o sul da Grécia: uma população precoce de Homo sapiens e, mais tarde, um grupo de Neandertais;, explica Katerina Harvati, sugerindo que os segundos substituíram os primeiros.

O Homo sapiens apareceu na África. Os mais antigos representantes conhecidos de nossa espécie datam de 300 mil anos e foram encontrados em Jbel Irhud, no Marrocos. Durante muito tempo, estimou-se que eles haviam deixado o ;berço africano; muito mais tarde, há cerca de 70.000 anos, durante uma onda migratória de envergadura. Descobertas recentes têm mostrado o contrário, aproximando cada vez mais a data das primeiras migrações e estendendo a zona de suas dispersões.

Segundo os cientistas, a pesquisa divulgada reforça a ideia de que houve múltiplas dispersões de humanos para fora da África e de que a colonização da Eurásia foi provavelmente mais complexa do que o imaginado. ;O Apidima 1 mostra que a dispersão do Homo sapiens fora da África não só ocorreu antes do que se pensava, há mais de 200 mil anos, como também que eles chegaram até a Europa;, ressalta Katerina Harvati

Palavra de especialista

Sinal de várias dispersões

;A origem e a rápida dispersão do Homo sapiens têm sido um assunto de grande interesse popular e acadêmico há décadas. É quase universalmente aceito que o H. sapiens (humanos modernos) evoluíram na África, como os primeiros representantes fósseis conhecidos. Esse estudo mostra que, em vez de uma só saída de hominídeos da África para povoar a Europa e a Ásia, deve ter havido várias dispersões, e algumas não tiveram instalações permanentes. Talvez uma ou várias vezes, as espécies substituíram uma a outra. Nem sempre é possível recuperar o DNA de fósseis antigos. No entanto, analisando antigas proteínas preservadas em fósseis, um método denominado de paleoproteômica está começando a ser usado para identificar essas espécies. Até que esses fósseis sejam estudados utilizando a paleoproteômica, análises como os de Harvati e colegas nos ajudam a entender melhor a complexa história da nossa espécie e de nossos parentes próximos.;, Eric Delson, pesquisador do Lehman College, em Nova York, em um artigo opinativo publicado na revista Nature.

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