Paris, França ; Um punhado de euros, alguns cliques e uma árvore é plantada. Em uma época em que viajar de avião começa a provocar culpa, compensar as emissões de carbono parece mais fácil do que nunca. Mas a eficácia destas ações é alvo de debate.
Ante a demanda cada vez mais exigente em termos de compromissos ecológicos, os mecanismos de compensação voluntários se multiplicam e até as grandes empresas energéticas competem com seus projetos de reflorestamento.
A Shell dedica 300 milhões de dólares ao plantio de florestas, com o objetivo de reduzir sua pegada de carbono entre 2% e 3%; a ENI recorre a "imensas florestas" em suas atividades de exploração e produção com o objetivo de alcançar "zero emissões líquidas"; e a Total contará com uma "business unit" dotada com 100 milhões de dólares por ano a partir de 2020.
Embora o objetivo dessa unidade ainda não esteja muito definido, a empresa se compromete a desenvolver "atividades de conversão de meios naturais degradados em sumidouros de carbono (...) e atividades de conservação".
Além dos grandes anúncios, a compensação voluntária, que obedece em geral a um mecanismo simples, se desenvolveu nos últimos anos.
A empresa contaminante compra um crédito equivalente a uma tonelada de CO2 e a quantia paga contribui para financiar direta ou indiretamente um projeto de redução de emissões, como o reflorestamento ou o investimento em energias renováveis.
Esta é a lógica que a aviação civil aplicará com o dispositivo Corsia em 2020. Já há 65 Estados voluntários, que representam 87% da atividade internacional.
"Haverá uma certa quantidade de projetos de redução das emissões de CO2 sobre os quais se poderá escolher, e as companhias aéreas poderão comprar equivalentes em toneladas de CO2 nesses projetos", detalha Nathalie Simmenauer, diretora para o meio ambiente e desenvolvimento sustentável na Air France.
O objetivo é alcançar "a neutralidade do crescimento do carbono", ou seja, manter o nível de emissões que for alcançado em 2020.
Por enquanto só estão envolvidos os voos internacionais, em uma indústria responsável por entre 2% e 5% das emissões mundial de CO2.
"Um subterfúgio"
Alguns, como Jean-François Rial, CEO da Voyageurs du Monde, defendem um sistema de absorção em que projetos de replantio "precisos e perenes" sejam identificados e financiados sem passar por sistemas de créditos de carbono, considerados menos transparentes e eficazes.
Mas se a floresta permanece uma ferramenta importante de regulação climática, o replantio não permite, no entanto, isentar-se de responsabilidade sobre as emissões de carbono.
"Se você não reduz suas emissões e se não detivermos o desmatamento não é porque você plantou árvores que vai resolver alguma coisa", afirma Stéphane Hallaire, presidente e fundador da Reforest;Action.
No entanto, o replantio é a atividade fim desta empresa, que reivindica o plantio de 3,8 milhões de árvores em nove anos de existência. Por três euros, a companhia planta uma árvore, adaptada à biodiversidade local e compra uma parte em crédito de carbono para um projeto de conservação florestal no exterior.
"Se você se contentar em absorver suas emissões de CO2, isso não vai funcionar. É preciso antes reduzir absolutamente a quantidade de CO2 utilizado pelos economistas e financiar a transição", emenda Jean-François Rial.
"É um subterfúgio que corre o risco de dissuadir a sociedade coletivamente a fazer esforços importantes, de dissuadir de investir em tecnologias mais caras", completa Alain Karsenty, pesquisador do Centro Internacional para a Pesquisa Agronômica e o Desenvolvimento (CIRAD).
Outros problemas também podem aparecer com o reflorestamento em larga escala: os projetos podem entrar em competição com as culturas ou as florestas naturais e as árvores plantadas não são sempre benéficas a seus ambientes.
"São frequentemente espécies de crescimento rápido, como os eucaliptos, os pinhos, porque temos a necessidade de árvores que estoquem carbono muito rapidamente, mas isto pode acabar por trazer problemas de biodiversidade, de drenagem dos solos", aponta Alain Karsenty.
"Insuficiente", mas "melhor que nada", a compensação por replantio se mantém como uma ferramenta entre vários meios para reduzir as emissões. À espera de que o avanço técnico apresente soluções menos poluentes, como o avião a hidrogênio...
"Isto permite ganhar tempo! Esta estocagem temporária pode ser um meio de realizar a transição à espera de se encontrar tecnologias de ruptura", conclui M. Karsenty.