Embora realizado nos Estados Unidos e no Canadá, o estudo tem implicações para o continente americano como um todo, segundo Adam Smith, do Environment and Climate Change Canada e coautor do artigo. ;É uma crise que ultrapassa fronteiras individuais. Muitos dos pássaros que procriam nos quintais canadenses migram ou passam o inverno nos Estados Unidos e em lugares ainda mais ao sul, do México e o Caribe à América Central e a do Sul. O que nossos pássaros precisam agora é de um esforço histórico que una pessoas e organizações com um objetivo comum: trazê-los de volta.;
Para chegar a esses números, os pesquisadores usaram múltiplos bancos de dados padronizados de monitoramento de pássaros e analisaram como, em 529 espécies continentais, houve alterações populacionais nas últimas décadas. Eles admitem que ficaram surpresos com o que viram. ;Esperávamos ver declínios contínuos no caso de espécies ameaçadas. Mas, pela primeira vez, os resultados também mostraram perdas generalizadas entre os pássaros comuns em todos os habitats;, conta Ken Rosenberg, principal autor do estudo e cientista do Cornell Lab of Ornithology e do American Bird Conservancy.
O artigo destaca que as aves são indicadores de saúde ambiental e que, portanto, uma perda tão expressiva significa que, nos Estados Unidos e no Canadá, os ecossistemas estão ;severamente afetados pelas atividades humanas, que não comportam mais as mesmas populações robustas de animais silvestres; como no passado.
Rosenberg lembra, ainda, que os pássaros têm papéis importantes nas teias alimentares e no funcionamento adequado do ecossistema: da dispersão de sementes ao controle de pragas. As aves de pastos ; aquelas que dependem desse habitat para sobreviver ; são as mais atingidas, com uma redução populacional de 53% na população, ou mais de 720 milhões de aves, desde os anos 1970. As limícolas, que, em sua maioria, vivem em zonas úmidas, já estavam em declínio acentuado e perderam mais de um terço da população. O volume da migração de primavera, medido por radar no céu noturno, caiu 14% apenas na última década.
;Esses dados são consistentes com o que estamos vendo em outros lugares com outros táxons, mostrando declínios maciços, incluindo insetos e anfíbios;, disse, em nota, o coautor Peter Marra, ex-chefe do Smithsonian Migratory Bird Center e, agora, diretor da Georgetown Environment Initiative na Universidade de Georgetown. ;É imperativo lidar com ameaças imediatas e contínuas, tanto porque o efeito dominó pode levar à deterioração dos ecossistemas dos quais os seres humanos dependem para a própria saúde e meios de subsistência, tanto porque as pessoas em todo o mundo apreciam os pássaros por si mesmos. Você pode imaginar um mundo sem o canto dos pássaros?;.
Habitat perdido
De acordo com os autores do estudo, esse levantamento também fornece informações importantes sobre ações que podem ser tomadas para reverter o declínio populacional dos pássaros. Embora o estudo não tenha analisado as causas da queda acentuada da população, observou-se que, nas aves norte-americanas, ela é paralela à perda de aves em outras partes do mundo, sugerindo múltiplas causas de interação que reduzem o sucesso reprodutivo e aumentam a mortalidade. Também detectou que o maior fator que impulsiona esses declínios é, provavelmente, a perda e a degradação generalizada do habitat, principalmente devido à intensificação agrícola e à urbanização.;A história não acabou;, escreveu o coautor Michael Parr, presidente da American Bird Conservancy. ;Existem muitas maneiras de ajudar a salvar pássaros. Algumas exigem decisões políticas, como o fortalecimento da Lei do Tratado sobre Aves Migratórias. Também podemos trabalhar para proibir pesticidas nocivos e financiar adequadamente programas eficazes de conservação de aves. Cada um de nós pode fazer a diferença nas ações diárias que, juntas, são capazes de salvar a vida de milhões de pássaros. Ações como tornar as janelas mais seguras para eles, manter os gatos dentro de casa e proteger o habitat.;