Vilhena Soares
postado em 04/12/2019 06:00
[FOTO1]Para tratar o câncer com mais eficácia e rapidez, pesquisadores têm se dedicado a encontrar tecnologias que possam atingir diretamente as células doentes. Nesse sentido, cientistas japoneses testaram a aplicação de medicamentos contra o tumor de mama com a ajuda de ondas sonoras. Em testes com ratos, obtiveram resultados extremamente positivos. Os dados foram publicados na revista especializada Scientific Reports e podem, segundo os autores do artigo, ajudar a aprimorar o tratamento principalmente da doença em estágio mais avançado.O câncer de mama é o mais comum em mulheres e responsável pelo maior número de mortes relacionadas a tumores entre elas. Isso ocorre porque, em estágios mais críticos, as células cancerígenas podem se romper e viajar através do sistema linfático para estabelecer metástases nos linfonodos (gânglios linfáticos). Segundo os cientistas, nesses casos, o prognóstico da doença poderia ser melhorado se houvesse uma maneira de tratar com segurança e eficácia as metástases linfonodais, já que as terapias disponíveis são muito invasivas e podem ter efeitos colaterais graves.
Na tentativa de resolver esses problemas, os cientistas desenvolveram um tratamento que combina a injeção de pequenas bolsas que transportam drogas anticâncer e ultrassom. Essas espécies de vesículas, chamadas lipossomas, viajam através do sistema linfático para alcançar os linfonodos afetados pela metástase do câncer, localizados nas axilas. Quando o ultrassom de alta potência é aplicado à axila, as vesículas se rompem, levando à liberação direcionada do medicamento.
Os cientistas testaram a técnica em ratos manipulados para ter um tipo de tumor de mama que produz metástases mais invasivas. A eficácia foi comprovada, resultando na morte do tecido doente. Exames de imagem ajudaram a equipe a acompanhar o movimento das pequenas bolsas com medicamentos e o seu rompimento.
Experimento parecido foi conduzido em roedores com um tipo de tumor de mama que produz metástases linfonodais, mas tinha baixo crescimento invasivo e bordas bem definidas. A equipe detectou ação semelhante. ;Acreditamos que nossa técnica tem potencial para gerar um tratamento para casos de tumor de mama em que os linfonodos são invadidos por células tumorais metastáticas;, frisa, em comunicado, Tetsuya Kodama, engenheiro biomédico da Universidade Tohoku, no Japão, e um dos autores do estudo.
Os cientistas ressaltam que serão necessárias investigações adicionais para determinar a quantidade ideal de medicamento a ser colocada nas pequenas bolsas. Mas, segundo eles, os resultados atuais são um grande passo em direção a tratamentos mais eficazes para o câncer de mama.
Pré-clínico
Ana Carolina Salles, oncologista clínica do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, acredita que o estudo mostra dados interessantes, apesar de ser muito experimental. ;Trata-se de um estudo pré-clínico, feito em camundongos, que testa uma hipótese bastante interessante, que é a utilização de lipossomas, vesículas carreadoras de quimioterapia;, diz.A especialista em câncer de mama explica que essa estratégia com lipossomas é chamada drug delivery. ;Com o uso dessa tecnologia, o trabalho mostrou resposta muito interessante, com diminuição tumoral. Há muitas pesquisas voltadas para drug delivery e utilização de lipossomas em oncologia e outras especialidades;, completa.
A médica também acredita que o estudo pode render dados ainda mais positivos caso tenha desdobramentos, como a redução da exposição de mulheres a possíveis danos ligados ao tratamento desse tipo de tumor. ;Os dados do trabalho pré- clínico são muito animadores e há necessidade de mais estudos. A ideia de utilização de lipossomas faz com que haja diminuição das chances de toxicidade medicamentosa do tratamento, além da eficácia;, explica Ana Carolina Salles.
A oncologista lembra que os estudos sobre o câncer de mama são um dos que mais se destacaram nos últimos anos. ;É também uma das áreas da oncologia que mais evoluíram nos últimos anos, tanto no conhecimento dos subtipos da doença quanto em relação aos grandes avanços no tratamento da doença localizada e metastática;, diz. ;Mas precisamos reforçar que o diagnóstico precoce ainda é a melhor arma para vencer a doença.;