Ciência e Saúde

O perigo ainda não passou: casos de coronavírus disparam na China

Novo método de contagem inclui pacientes com sinais de pneumonia, antes mesmo da confirmação pelo teste de ácido nucleico. Assim, quase 15 mil novos diagnósticos foram anunciados em 24 horas, aumentando o número de infectados para aproximadamente 60 mil. Em Hubei, epicentro da epidemia, registraram-se 242 mortes em um dia

Correio Braziliense
postado em 14/02/2020 06:00
Menino com caixa na cabeça para se proteger do COVID-19, em Xangai: nova metodologia de diagnóstico permitirá tratamento mais cedoUm dia depois de afirmar que o número de contágios havia se estabilizado e que, provavelmente, no fim do mês, a quantidade de infecções começaria a cair, o governo da China admitiu nesta quinta-feira (13/2) que houve uma explosão de novos casos e de óbitos. As autoridades do país mudaram o método de contagem, revelando que o novo coronavírus, agora chamado COVID-19, matou mais 242 pessoas na província de Hubei, o epicentro da epidemia — até a noite desta quinta-feira (13/2), as mortes ultrapassavam 1,3 mil na porção continental do gigante asiático. O anúncio reforça a preocupação mundial de que a epidemia seja muito pior do que o quadro pintado até agora.

O governo também divulgou 14.840 novos casos de contágio, elevando o total a aproximadamente 60 mil infectados. O aumento considerável do número de infectados no curto prazo de 24 horas — de quarta a quinta-feira — se deve à adoção de um sistema de cálculo diferente, que amplia a noção de casos positivos.

Desde esta quinta-feira (13/2), o balanço passou a incluir todos os pacientes cuja radiografia pulmonar apresente sinais de pneumonia, sem esperar o exame de ácido nucleico, até então indispensável para confirmação do diagnóstico de infecção pelo COVID-19.

O teste é mais lento e complexo, o que atrasava o início do tratamento do paciente. A Comissão de Saúde de Hubei afirmou que o novo método permitirá que os pacientes recebam o tratamento o mais rápido possível. Kentaro Iwata, professor da Universidade de Kobe (Japão) e especialista em doenças infecciosas, considerou “compreensível” a mudança, porque os hospitais estão saturados. Para Yun Jiang, da Universidade Nacional da Austrália, a nova metodologia é uma “medida pragmática” ante a falta de testes rápidos de detecção.

Embora a China tenha recebido elogios da Organização Mundial da Saúde (OMS) pela “transparência na gestão da crise da saúde”, a nova metodologia adotada pelas autoridades para definir os casos confirmados pode alimentar as suspeitas de que a doença foi subestimada. Na quarta-feira, o presidente Xi Jinping comandou uma reunião com as lideranças do Partido Comunista e destacou uma “evolução positiva” da situação, depois da divulgação de números que indicavam uma redução nos casos confirmados pelo segundo dia consecutivo. Contudo, em Genebra, Michael Ryan, chefe do departamento de emergência da OMS, declarou “que é cedo demais para tentar prever o fim da epidemia”.

Temor

Enquanto os números disparam na China, outra frente de preocupação surgiu no Vietnã, que colocou em quarentena por 20 dias a cidade de Son Loi, que tem quase 10 mil habitantes e fica a 30km da capital, Hanói, depois que seis casos foram registrados na localidade. É o primeiro país fora da China a adotar essa medida drástica. O governo chinês também isolou a população de Hubei, mantendo 56 milhões de pessoas em uma quarentena gigantesca, especialmente na capital Wuhan, além de restringir os movimentos de vários milhões a mais em diversas cidades.

Nesta quinta-feira (13/2), o Japão anunciou a primeira morte em seu território de um infectado. O país também divulgou que houve mais 44 casos de contágio entre os passageiros do cruzeiro Diamond Princess, que está em quarentena no litoral, o que eleva a 218 o número de infectados no navio. É o terceiro óbito fora da China continental — em Hong Kong e nas Filipinas também houve mortes.

Um cruzeiro americano vindo da China, proibido de atracar em cinco portos asiáticos pelo temor do novo coronavírus, chegou Nesta quinta-feira (13/2) ao Camboja, onde seus 1.455 passageiros foram autorizados a descer. Vários países proibiram o desembarque de passageiros procedentes do gigante asiático, enquanto as principais companhias aéreas suspenderam voos com destino ao território chinês.

O temor internacional de contágio provocou o cancelamento do World Mobile Congress (WMC), salão mundial da telefonia móvel de Barcelona, que seria realizado entre 24 e 27 de fevereiro. Nesta quinta-feira (13/2), os torneios de Rugby 7 de Hong Kong e Cingapura, que ocorreriam em abril, foram remarcados para outubro. Na véspera, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) também anunciou o adiamento do Grande Prêmio da China de Fórmula 1, previsto inicialmente para ser realizado em 19 de abril, em Xangai.

Demissões

O anúncio do novo método de contagem dos casos de infecção pelo novo coronavírus coincidiu com a destituição de dois altos funcionários do Partido Comunista da China em Hubei, em meio a críticas à gestão da crise. O principal líder na província, Jiang Chaoliang, foi substituído pelo prefeito de Xangai, Ying Yong, figura próxima ao presidente Xi Jinping. Ma Guoqiang, mais importante dirigente comunista de Wuhan, capital de Hubei, também perdeu o cargo. As destituições são uma resposta à revolta da opinião pública, que considera que as autoridades demoraram a reagir quando surgiram os primeiros casos da doença. Os dois principais funcionários do Departamento de Saúde da província de Hubei já haviam perdido os cargos.

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