Correio Braziliense
postado em 16/03/2020 06:00
Apesar dos avanços da medicina, metade dos bebês nascidos com menos de 32 semanas não sobrevive. Essa é uma realidade de centros de saúde com poucos recursos: naqueles bem equipados, quase todos se recuperam e recebem alta sem sequelas. Para ajudar a mudar essa realidade, uma equipe interdisciplinar de pesquisadores da Universidade de Northwestern desenvolveu um novo sistema de monitoramento acessível, sem fio e com bateria, que pode ser facilmente implementado em praticamente qualquer ambiente. A tecnologia foi descrita na revista Nature Medicine.
Os novos dispositivos também vão além das capacidades das tecnologias de monitoramento com fio existentes e fornecem mais informações que os sinais vitais tradicionais. Eles registram choro, movimento, orientação corporal e sons cardíacos. Segundo os pesquisadores, os sensores macios e flexíveis também são muito mais gentis com a pele frágil dos recém-nascidos, e os recursos sem fio permitem mais contato pele a pele com os pais.
“A tecnologia não apenas pode reduzir os riscos monitorando bebês prematuros, mas também pode monitorar as mulheres grávidas durante o trabalho de parto para garantir um procedimento saudável e seguro, reduzindo os riscos de mortalidade materna”, afirma John A. Rogers, pesquisador da Northwestern, instituição pioneira no campo emergente da eletrônica biologicamente integrada. “Ao checar de perto os pacientes mais vulneráveis, os médicos podem ser alertados a intervir antes que o bebê ou a mãe fique gravemente doente.”
De acordo com os pesquisadores, a tecnologia foi testada em recém-nascidos no Hospital Infantil Ann & Robert H. Lurie, em Chicago, e no Hospital Prentice Women’s, na mesma cidade. Os sensores também estão passando por testes no Hospital Universitário Aga Khan, em Nairóbi (Quênia), e em gestantes atendidas no Hospital Universitário de Ensino em Lusaka, Zâmbia. Os próximos países a receberem os equipamentos serão Gana e Índia, com o apoio da Fundação Bill & Melinda Gates e da Save the Children.
“Projetamos nossa tecnologia para oferecer recursos acessíveis de monitoramento clínico para uso em qualquer lugar do mundo — do hospital à casa e ao campo”, conta Rogers. “Usando conceitos avançados em eletrônica, desenvolvemos dispositivos que são seguros, fáceis de usar e centrados no paciente. Nos focamos em recursos que permitem a aplicação dos equipamentos em ambientes com poucos recursos, pensando no mundo em desenvolvimento, onde esse tipo de tecnologia tem o maior potencial para melhorar e, possivelmente, salvar vidas.”
Em nota, Debra Weese-Mayer, pediatra e pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade Northwestern Feinberg, disse que a tecnologia representa um “avanço monumental” nos cuidados neonatais e pediátricos. “Não se trata estritamente de tornar os sistemas de cuidados intensivos ‘sem fio’. Trata-se de pensar amplamente sobre quais variáveis não tradicionais precisamos incorporar para estudar mais profundamente a saúde e garantir a estabilidade dos pacientes.”
Energia estável
O novo estudo baseia-se em pesquisas anteriores realizadas no laboratório Rogers. Em fevereiro do ano passado, a equipe do pesquisador publicou, na revista Science, resultados de um estudo realizado no Lurie Children’s Hospital e no Prentice Women’s Hospital em Chicago. Na ocasião, os pesquisadores testaram um par de sensores sem fio, sem bateria e flexíveis em bebês prematuros. Os dispositivos provaram ser tão precisos e exatos quanto os equipamentos tradicionais de monitoramento, que usam fios e, por isso, interferem no abraço entre pais e bebês.
Para levar as plataformas de Chicago para o mundo em desenvolvimento, a equipe adicionou uma bateria pequena, fina e recarregável, garantindo energia estável ao dispositivo. Assim, ele pode operar em ambientes rurais, com grande alcance operacional, devido à falta de fios. A equipe também adicionou recursos extras de detecção para monitorar choro, movimento e sons do coração.
“Não podíamos simplesmente exportar nossa tecnologia para outros países sem levar em conta suas necessidades específicas”, diz Rogers. “Queríamos entender o cenário mais amplo e desenvolver uma tecnologia fácil de usar, útil e prática. Sabíamos que precisávamos construir as bases para dispositivos reutilizáveis e altamente robustos, aplicáveis em regiões com recursos e instalações limitados.” Shuai Xu, dermatologista da Northwester e um dos autores do estudo, lembra que alguns países sofrem apagões diários e têm cobertura desigual da internet. “As pessoas nessas áreas precisam de um dispositivo prático, que funcione e que seja mais barato de fabricar.”
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