Ciência e Saúde

Coronavírus: cientistas defendem a importância do uso de água e sabão

A combinação é suficiente para desarmar o novo coronavírus, garantem químicos estadunidenses. Dessa forma, as pessoas devem usar o álcool em gel quando estão na rua ou não têm condições de lavar as mãos da forma tradicional

Correio Braziliense
postado em 28/03/2020 07:00
Mãos sendo lavadasA pandemia de Covid-19 reforçou a necessidade de higienizar as mãos constantemente e provocou uma corrida em busca de álcool nas prateleiras de farmácias e supermercados. Cientistas explicam que o produto é importante para ser usado na rua, quando não se tem tempo de lavar as mãos, e destacam que o sabão consegue realizar a tarefa de matar o Sars-Cov-2 com sucesso. Para convencer a população, dois químicos resolveram explicar minuciosamente como esse produto consegue “desmontar” o  novo coronavírus.

Samantha Jones, pesquisadora e membro da Sociedade Americana de Química, explica que, com a pandemia de Covid-19, muitas pessoas começaram a duvidar da capacidade do sabão no combate à disseminação do Sars-Cov-2. “Acredito que mostrar como esse produto de limpeza age eliminando esse vírus e também outros pode ajudar na compreensão do público em geral e incentivar ainda mais essa prática de higienização”, afirma, em comunicado.

A cientista e o colega Palli Thodarson, químico e professor da Universidade de New South Wales, na Austrália, produziram, em quarentena, um vídeo em que explicam características do vírus e por que ele não é imune ao sabão e à água. Como outros micro-organismos do tipo, o Sars-Cov-2 tem um RNA, diversas unidades de proteínas e é envolto por uma bainha de lipídios, com função protetora.

Esses três elementos estão unidos por interações não covalentes, que são mais fracas. “Essas ligações não são o que você veria, por exemplo, entre átomos de carbono em um diamante, em que há o compartilhamento de pares de elétrons. Isso cria vínculos muito mais fortes e estáveis. No vírus, isso não ocorre, as ligações não covalentes incluem elementos como ligações de hidrogênio, que são muito mais fracas”, detalha Jones.

Segundo os especialistas, o sabão tem moléculas surfactantes, formadas por uma ponta hidrofóbica e outra hidrofílica (com e sem afinidade com a água, respectivamente). Isso faz com que ele consiga interagir com sujeiras e água. Ao lavar as mãos, as moléculas surfactantes conseguem quebrar a bainha de lipídios do coronavírus, levando ao seu desmonte, como uma casa de cartas.

“O vírus enfrenta muita instabilidade caso entre em contato somente com a água, mas lavar as mãos apenas com ela não vai garantir que ele vá embora. Se você usar o sabão, as moléculas surfactantes, com certeza, vão abalar a barreira protetora de lipídios, e não existem chances de o coronavírus permanecer”, frisa Thodarson. “Por isso, orientamos que lavar constantemente as mãos é essencial, é algo extremamente simples, que funciona e vai te deixar mais seguro.”

Sem excessos

Luisa Fernanda Rios Pinto, pesquisadora colaboradora da Faculdade de Engenharia Química da Universidade de Campinas (Unicamp), acredita que o trabalho dos cientistas é valioso por reforçar para a população a importância desse hábito de higiene, além de explicar por que não é necessário o uso do álcool em demasia. “As pessoas criam correntes de desespero, o que é errado. É importante frisar que o álcool em gel somente deve ser usado quando não há disponíveis água e sabão. Além disso, tem que ser necessariamente o conjunto água e sabão. Não adianta somente passar água, pois o vírus não será destruído. É necessário passar o sabão durante 20 segundos e esfregar as mãos inteiras”, ensina.

A pesquisadora brasileira também alerta que muitas pessoas não estão usando o álcool adequado para a higienização das mãos e que, para limpar superfícies, há outros produtos também indicados. “Podemos usar água sanitária e desengordurantes, entre outros. O vírus tem uma camada de gordura que o protege. A ideia é acabar com essa camada e destruir o vírus para, depois, eliminá-lo. Então, qualquer produto que seja capaz de agir na gordura pode acabar com o vírus. Mas esse tipo de produtos não é recomendado para aplicar nas mãos, pois pode ressecar a pele e criar dermatites”, explica.

A especialista ressalta ainda a importância de evitar excessos, que podem irritar e ressecar a pele. Por isso, é recomendado também hidratá-la. “Acredito que qualquer tipo de exagero leva a uma consequência. Mas lembrando que, se estamos em casa, a recomendação é lavar frequentemente as mãos. O álcool é indicado somente para casos extremamente necessários, como ao sair de casa e passar as mãos em superfícies diversas”, diz Luisa Fernanda Rios Pinto.

De 60% a 70%
Para ter o efeito de higienização, o álcool deve ser entre 60% e 70%. Um valor menor não ajuda a eliminar o vírus. E um maior, pode prejudicar a pele. “Precisa ter essa quantidade de água, de 40% a 30%, para o álcool não evaporar muito rápido e não fazer efeito. Ele precisa ser colocado nas mãos e as pessoas têm que esfregá-las, como se estivessem usando um sabão”, ensina a pesquisadora Luisa Fernanda Rios Pinto.

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