Ciência e Saúde

Coronavírus: cientistas chineses descobrem anticorpos com ação eficaz

Duas moléculas presentes no sangue de pessoas que foram curadas da Covid-19 conseguem impedir que o Sars-Cov-2 infecte as células. Resultados laboratoriais animam pesquisadores chineses, que planejam iniciar testes com humanos em seis meses

Correio Braziliense
postado em 02/04/2020 06:00
Pesquisa começou com a análise de 206 anticorpos: a equipe identificou dois após estudar quase 10% da amostraCientistas da China detectaram mais uma abordagem com potencial de combater o vírus causador da Covid-19. Os investigadores observaram, em laboratório, uma resposta extremamente eficaz de alguns anticorpos contra o Sars-Cov-2. O plano da equipe é testar “o mais rápido possível” as moléculas em animais e, logo em seguida, em humanos.

Iniciado em janeiro, o estudo é conduzido por cientistas da Universidade Tsinghua, em Pequim, que contaram com a ajuda de especialistas do Terceiro Hospital Popular em Shenzhen, também na China. O grupo analisou anticorpos coletados de amostras sanguíneas de oito pessoas infectadas pelo  vírus da Covid-19 e que foram curadas da doença. A partir do material, a equipe isolou 206 anticorpos monoclonais devido à forte capacidade de se ligar ao novo coronavírus e a suas proteínas.

Em seguida, foram realizados novos testes para detectar se os anticorpos realmente podiam impedir que o vírus entrasse nas células humanas. Entre os primeiros 20 anticorpos testados, quatro conseguiram bloquear a entrada viral. Desses, dois são considerados “extremamente bons” na função, segundo os pesquisadores.

Os anticorpos promissores interrompem uma ação essencial para que o vírus infecte células. “Eles impedem a interação entre o receptor-binding domain  (RBD viral) e o receptor celular ACE2, interferindo, assim, na entrada viral”, explicaram os cientistas em artigo publicado na plataforma on-line bioRxiv.

Ação conjunta

A equipe, agora, está focada em identificar os anticorpos mais poderosos entre os 206 separados e, possivelmente, combiná-los para potencializar suas forças no combate ao novo coronavírus. Se os resultados forem positivos, a equipe acredita que outros especialistas poderão produzir essas moléculas, aumentando o material a ser usado em novas pesquisas científicas.

Líder do estudo e pesquisador da Universidade de Tsinghu, Linqi Zhang estima que os anticorpos serão testados em humanos em seis meses. Segundo ele, as expectativas da equipe são grandes. “A especificidade e as características dos anticorpos detectadas nessa investigação requerem uma análise mais aprofundada. No entanto, os diversos e potentes anticorpos neutralizantes identificados são candidatos promissores para intervenções profiláticas e terapêuticas em Sars-Cov-2”, frisou.

O pesquisador enfatiza ainda que anticorpos não são uma vacina, mas são uma grande aposta da ciência contra complicações. “A importância dos anticorpos já foi comprovada no mundo da medicina há décadas. Eles podem ser usados para tratar câncer, doenças autoimunes e infecciosas”, ilustrou. Segundo  Linqi Zhang, as moléculas poderiam ser dadas a pessoas mais vulneráveis à infecção pelo novo coronavírus. “Normalmente, leva cerca de dois anos para que um medicamento chegue perto da aprovação para uso em pacientes, mas, com a pandemia da Covid-19, as coisas estão se movendo mais rapidamente”, justificou.

Outros especialistas pedem mais cautela com esse tipo de abordagem. “Há várias etapas que, agora, precisam ser seguidas antes que os anticorpos possam ser usados como tratamento para pacientes com coronavírus”, destacou, em comunicado, Ben Cowling, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Hong Kong. “Mas é realmente emocionante encontrar esses tratamentos em potencial e ter a chance de testá-los. Se conseguirmos encontrar mais candidatos, teremos um tratamento melhor.”

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