Correio Braziliense
postado em 08/04/2020 06:00
Uma vacina desenvolvida inicialmente para a Mers — doença provocada por um coronavírus “primo” do Sars-Cov-2, conseguiu proteger ratos de uma dose letal da síndrome respiratória do Oriente Médio. Em um artigo publicado na revista mBio, pesquisadores da Universidade de Iowa e da Universidade da Geórgia disseram que, embora ainda na fase inicial, o estudo é promissor para proteger contra o causador da Covid-19.
Tanto a Mers quanto a Covid-19 são causadas por coronavírus. A primeira é mais mortal: cerca de um terço dos casos conhecidos termina em óbito. Porém, houve apenas 2.494 casos desde 2012, quando o vírus surgiu. Por outro lado, até agora, foram registrados 1,25 milhão de infecções confirmadas de Covid-19 em todo o mundo desde que a doença surgiu, no fim de 2019. Quase 70 mil pessoas morreram, segundo o balanço mais recente.
A vacina usa um vírus inócuo da parainfluenza 5 (PIV5) para levar a proteína spike do coronavírus até as células do animal hospedeiro. Essa estrutura é a responsável pela entrada do patógeno na membrana celular. Com isso, é gerada uma resposta imune capaz de exterminar o invasor. A equipe, liderada por Paul McCray e Biao He, testou o candidato à vacina em camundongos projetados para serem suscetíveis ao causador da Mers. Todos os ratos imunizados sobreviveram a uma dose letal do coronavírus.
“Nosso estudo indica que o PIV5 pode ser uma plataforma útil de vacina para doenças causadas por coronavírus, incluindo o Sars-Cov-2, que causa a pandemia de Covid-19”, diz McCray, professor de pediatria da Universidade de Iowa. Usando a mesma estratégia, foram geradas candidatas à vacina também à base do PIV5 que expressam a proteína spike do Sars-Cov-2. “Estamos planejando mais estudos em animais para testar a capacidade dessas substâncias na prevenção de Covid-19”, completa o cientista.
A pesquisa mostrou que apenas uma dose relativamente baixa da vacina administrada aos ratos por via intranasal (inalada pelo nariz) foi suficiente para protegê-los completamente do vírus da Mers. Quatro semanas após os animais serem vacinados, eles foram expostos a uma cepa adaptada para causar uma infecção letal em camundongos. O coronavírus também foi administrado a grupos de ratos que receberam uma vacina PIV5 diferente (sem os genes da proteína spike) ou uma vacina intramuscular com o vírus da Mers inativado.
Todos os ratos imunizados com o PIV5 modificado sobreviveram à infecção potencialmente letal. Por outro lado, 100% do segundo grupo morreram. A vacina intramuscular do vírus da Mers inativado protegeu apenas 25% dos camundongos de um contágio letal. Esses animais apresentaram níveis acima da média de eosinófilos, glóbulos brancos que indicam infecção ou inflamação. Isso levanta uma preocupação sobre a segurança da última abordagem, afirma He. “O estudo demonstra que uma vacina intranasal à base de PIV5 é eficaz contra Mers em camundongos e deve ser investigada quanto ao seu potencial contra outros coronavírus perigosos, incluindo Sars-Cov-2”, diz
Pulmões
Quando os cientistas analisaram as respostas imunes geradas pela substância, descobriram que foram produzidos anticorpos e células-T protetoras. No entanto, o efeito do anticorpo foi bastante fraco — parece mais provável que a resposta da vacina seja devido à proteção das células-T nos pulmões dos camundongos.
Os pesquisadores citam vários fatores que tornam o PIV5 expressando a proteína spike uma plataforma atraente para o desenvolvimento de vacinas contra os coronavírus emergentes. Primeiro, o vírus inócuo pode infectar mamíferos diversos, incluindo humanos, sem causar doenças. O PIV5 também está sendo investigado como uma vacina para outras doenças respiratórias, incluindo vírus sincicial respiratório (VSR) e influenza.
Além disso, o fato de uma dose baixa da vacina ser suficiente para proteger os camundongos pode ser benéfico para a fabricação de substância suficiente em uma imunização em massa. E, finalmente, a vacina desse estudo foi a mais eficaz até hoje em modelos animais de Mers.
“Encontrar uma vacina eficaz contra o coronavírus que causa a Covid-19 é uma corrida contra o tempo”, diz McCray. “Nem toda a população terá sido exposta ao vírus agora, o que significa que haverá mais pessoas para infectar quando ele voltar. Ainda não sabemos se as pessoas têm imunidade duradoura contra a infecção por Sars-Cov-2. Por isso, é importante pensar em maneiras de proteger a população”.
Rússia prevê testes em junho
A Rússia planeja começar, em 29 de junho, os testes clínicos, com humanos, de uma vacina para a Covid-19. A equipe do centro estatal Vektor desenvolve protótipos de imunização com base em seis plataformas tecnológicas. No momento, eles realizam testes em ratos, coelhos e outros animais para indicar o mais promissor até 30 de abril. Os estudos pré-clínicos devem ser finalizados até 22 de junho, pouco antes das testagens em humanos. Segundo Rinat Maksiutov, que dirige o centro de pesquisa, mais de 300 pessoas se candidataram para participar da pesquisa. Ainda de acordo com Maksiutov, há a possibilidade de iniciar a etapa clínica em maio caso haja autorização do Ministério da Saúde.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.