Ciência e Saúde

Coronavírus: Nova onda de infecção poder ocorrer em 2025, aponta projeção

Projeção considera medidas de isolamento, a imunidade adquirida pela população e o comportamento do Sars-Cov-2, que tem sido similar ao de uma gripe sazonal. Para evitar o problema, pesquisadores americanos defendem a adoção de distanciamentos intermitentes até 2022

Correio Braziliense
postado em 15/04/2020 06:00
Restringir a circulação de pessoas diminui a disseminação do patógeno, cujos maiores índices ocorrem em meses mais friosA pandemia de Covid-19 levanta dúvidas quanto à persistência dessa ameaça à saúde da população quando a fase crítica atual acabar. Em busca de respostas, cientistas internacionais realizaram modelos de análises de vários cenários futuros da propagação do novo coronavírus, considerando diferentes níveis de isolamento social e o grau de imunidade que será adquirida pela população. Entre os resultados obtidos está a possibilidade de uma outra grande onda de infecção ocorrer em 2025.

Os autores também sugerem que, embora o distanciamento social possa suprimir casos, as infecções devem aumentar  quando essas políticas forem suspensas. Por isso, defendem, o ideal é que medidas de distanciamento social sejam  adotadas de forma intermitentemente até 2022. Detalhes do trabalho foram divulgados na última edição da revista Science

A medida que a pandemia de Covid-19 avança, cada vez mais autoridades e especialistas da área consideram improvável que o Sars-Cov-2 se comporte como o seu “primo” mais próximo, o Sars-Cov, que foi erradicado por medidas intensivas após causar a epidemia de síndrome respiratória aguda grave (Sars) na China, em 2002 e 2003.

Em vez disso, a transmissão atual da Covid-19 sinaliza que ela pode se comportar como uma gripe, circulando sazonalmente, com índices maiores de transmissão em meses mais frios.“Conhecer a probabilidade desse cenário é fundamental para montar uma resposta eficaz à saúde pública”, defendeu Stephen M. Kissler, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Kissler e seus colegas construíram um modelo de interações para investigar por quanto tempo as medidas de distanciamento social precisam ser mantidas para o controle do Sars-Cov-2. Com base nas simulações, os pesquisadores acreditam que o fator que mais modulará a incidência do coronavírus nos próximos anos será a taxa de imunidade da população.

“O número total de infecções induzidas por Sars-Cov-2 nos próximos dois anos estará relacionado à duração da imunidade. Se ela for baixa, parece provável que, sob uma ampla gama de valores de parâmetros, o coronavírus circule sazonalmente, como a gripe”, explicou Kissler, em uma coletiva de imprensa. “Existem alguns outros cenários. Se a imunidade durar muito tempo, o Sars-Cov-2 poderá efetivamente desaparecer após a primeira onda pandêmica”, complementou. No caso da imunidade ao patógeno ficar estável, o vírus poderá desaparecer por cinco ou mais anos circulando.

Tempo aos hospitais

Para evitar uma nova pandemia em cinco anos, os autores defendem o isolamento intermitente até 2022. “Novas terapêuticas podem aliviar a necessidade de distanciamento social rigoroso, mas, na ausência delas, a vigilância e o distanciamento intermitente podem precisar ser mantidos até 2022 para impedir isso”, explicou Kissler. Segundo o cientista, essas medidas dariam aos hospitais tempo para aumentar a capacidade de cuidados críticos e permitiriam que a imunidade da população aumentasse.

João Manuel Casquinha Malaia Santos, pesquisador de história da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, acredita que o trabalho da equipe americana mostra dados que reforçam ainda mais a importância do isolamento social no combate à Covid-19. “Esse estudo demonstra, por meio das projeções, que, quanto maior forem e quanto mais tempo durarem as medidas de restrição de circulação de pessoas, mais ajudarão no achatamento da curva, e isso vai contribuir também para a contenção da doença no futuro”, disse.

O brasileiro desenvolve um projeto de pesquisa sobre a gripe espanhola para compreender e enfrentar a atual pandemia. “Nas análises históricas que fazemos, vemos que a cidade de São Paulo, por exemplo, se recuperou melhor que o Rio de Janeiro, pois suas medidas de contenção foram mais amplas, ou seja, isso é algo que vimos também no passado”, ilustrou.

Os autores  destacam também que o estudo atual tem  limitações, mas que os dados podem ajudar pesquisas e planejamentos futuros relacionados à pandemia. “Nosso objetivo ao modelar essas políticas não é endossá-las, mas identificar trajetórias prováveis da epidemia sob abordagens alternativas”, ressaltaram.

Palavra de especialista 

Risco de surtos anuais 
 
“O artigo fala de projeções, e acredito que ainda não podemos afirmar se isso vai acontecer porque é uma doença nova. Se não há uma imunidade permanente, teremos surtos desse novo coronavírus a cada ano, como a gripe causada pelo vírus influenza. Somente ficaríamos tranquilos se a imunidade fosse permanente ou duradoura, mas parece que não é assim, porque algumas pessoas na Ásia já foram reinfectadas mais de uma vez. Dependendo de como for a imunidade, teremos que fazer um distanciamento social intermitente para evitar o aumento do número de casos, a ocupação de muitos leitos em hospitais e óbitos.” Helena Brígido, docente da Universidade Federal do Pará e do Centro Universitário do Estado do Pará e vice-presidente da Sociedade Paraense de Infectologia.

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