Ciência e Saúde

Covid-19: Cientistas identificam dois novos compostos com efeito antiviral

Cientistas da China identificam moléculas capazes de evitar a replicação do Sars-Cov-2 nas células. Administrada em animais, uma delas eliminou o patógeno sem causar efeitos colaterais. Equipe acredita que ambas podem ser testadas em humanos

Correio Braziliense
postado em 23/04/2020 06:00
Cientistas da China identificam moléculas capazes de evitar a replicação do Sars-Cov-2 nas células. Administrada em animais, uma delas eliminou o patógeno sem causar efeitos colaterais. Equipe acredita que ambas podem ser testadas em humanosUm dos principais problemas enfrentados no combate à Covid-19 é a ausência de medicamentos que consigam curar a enfermidade. Cientistas têm testado remédios usados no tratamento de outras doenças, mas nenhum, até o momento, teve o desempenho totalmente satisfatório. Em um estudo publicado ontem na revista americana Science, pesquisadores chineses mostram efeitos animadores em uma frente distinta de investigação: com moléculas ainda não prescritas para fins médicos. Para a equipe, os resultados obtidos em animais indicam que esse composto é promissor para estudos com humanos.

Cada vírus tem particularidades, mas existem elementos que são semelhantes entre esses micro-organismos. Pesquisadores sabem, por exemplo, que medicamentos antivirais são eficazes quando bloqueiam a principal protease do patógeno, uma enzima que processa proteínas essenciais para o seu desenvolvimento. Por isso, os autores do novo estudo resolveram testar moléculas que pudessem agir na principal protease do Sars-Cov-2. “A principal protease (Mpro) do Sars-Cov-2 é uma enzima-chave, desempenha um papel central na mediação da replicação e transcrição viral. Nós projetamos e sintetizamos dois compostos, 11a e 11b, visando a Mpro”, detalham, em comunicado, os autores no estudo, que foi liderado por Wenhao Dai, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências.

Em testes laboratoriais, ambos os inibidores interromperam com sucesso a atividade da principal protease do vírus da Covid-19, mostrando boa atividade antiviral. O composto 11a obteve melhores resultados quando testado em ratos. “Devido aos resultados extremamente positivos no uso de 11a, partimos para uma segunda etapa de análise com mais animais, com foco principal na toxicidade”, contam os cientistas

Nessa fase, o 11a foi administrado em ratos e em cães, com resultados novamente positivo: eliminação do vírus, sem danos colaterais. Os autores acreditam que esse composto é um candidato promissor a medicamentos para tratar a Covid-19 em humanos. “Por meio da administração de doses feita ao longo das análises, conseguimos observar que apenas um dos ratos morreu, e isso ocorreu quando usamos doses muito maiores. Isso nos mostra que o 11a merece ser mais bem estudado e que seu potencial para testes em humanos é grande”, justificam.

Mais testes

Werciley Junior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, avalia que o estudo é um dos muitos trabalhos que surgirão, nos próximos meses, com moléculas promissoras para o combate à Covid-19. “Ainda é muito cedo para dizer que essas descobertas se transformarão em medicamentos, mas esse é o caminho que é preciso se percorrer para chegar a novas drogas. Muitos estudos semelhantes estão em desenvolvimento e acredito que vamos ver logo resultados parecidos de outros potenciais candidatos a remédios para essa enfermidade”, afirma.

O especialista brasileiro destaca que a base de replicação do vírus é o principal alvo a ser estudado em busca de drogas. “O remédio precisa se ligar e provocar uma reação a essa protease, mas, muitas vezes, é difícil ter certeza de que isso ocorreu. No caso do HIV, tivemos alguns medicamentos que, no início, pareciam realizar essa etapa, mas isso não ocorreu como se esperava. São necessários mais testes para ter total certeza dessa eficácia”, pondera.

Segundo o infectologista, a equipe chinesa precisa realizar mais testes com animais para seguir aos testes clínicos. “É necessário avaliar essa eficácia em mais mamíferos, de maior porte, e, só depois, podemos analisar os efeitos em seres humanos com mais segurança”, explica.


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