Ciência e Saúde

Novo estudo relaciona a poluição do ar com mortes por Covid-19

As análises revelam que regiões com níveis permanentemente altos de dióxido de nitrogênio (NO2) têm registros significativamente maiores de vítimas

Correio Braziliense
postado em 26/04/2020 07:00

Fumaça saindo de fábricasA poluição do ar pode estar associada ao alto número de mortes pela Covid-19 em algumas regiões, segundo um estudo alemão. Os pesquisadores analisaram dados de satélite sobre poluição e correntes de ar e relacionaram com registros de óbitos pelo novo coronavírus. As análises revelam que regiões com níveis permanentemente altos de dióxido de nitrogênio (NO2) têm registros significativamente maiores de vítimas da pandemia. Os resultados foram publicados na revista Science of the Total Environment.

 

O NO2 é um poluente ligado à ocorrência de doenças respiratórias e cardiovasculares. “Como o novo coronavírus também afeta o trato respiratório, é razoável supor que possa haver correlação entre a poluição do ar e o número de mortes pela Covid-19”, afirma Yaron Ogen, pesquisador do Instituto de Geociências e Geografia da Universidade Martin Luther Halle Wittenberg.

 

A equipe examinou níveis de poluição de janeiro e fevereiro, dados da agência meteorológica norte-americana NOAA sobre fluxos de ar verticais e registros de mortes em decorrência da Covid-19 na Itália, França, Espanha e Alemanha.  As regiões com um número alto de óbitos também apresentaram níveis elevados de NO2 e quantidade particularmente baixa de trocas aéreas verticais.

 

“Quando olhamos para o norte da Itália, a área em torno de Madri e Hubei Provence, na China, por exemplo, todos eles têm algo em comum: são cercados por montanhas. Isso torna ainda mais provável que o ar nessas regiões seja estável e os níveis de poluição, mais altos”, detalha Ogen.  “No entanto, a pesquisa é apenas uma indicação inicial de que possa haver correlação entre o nível de poluição do ar, o movimento do ar e a gravidade do curso dos surtos de corona”, pondera.

 

Fábio Chigres Kuschnir, imunologista e membro da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), também observa que os dados não são suficientes para dar validade a conclusões mais aprofundadas. “Como os autores chamam a atenção, a exposição ao NO2 e a outros poluentes ambientais podem estimular as células do pulmão a produzir determinadas proteínas pró-inflamatórias (citocinas) nas vias aéreas e, de modo menos evidente, em outros locais do organismo. Essas substâncias têm um papel  importante na etiologia (causa) de doenças inflamatórias das vias aéreas”, justifica.

 

O médico enfatiza ainda que a poluição do ar é uma preocupação necessária na prevenção de doenças. “A ONU prevê que sete em cada 10 pessoas viverão em áreas urbanas até 2050. Com a urbanização global acelerada e muitas vezes não planejada, é cada vez mais importante entender as relações entre ambiente, saúde humana e bem-estar”, justifica. “Essa pandemia, apesar da dor e tristeza que carrega, tem nos ensinado coisas novas, e esse estudo, ao levantar essa hipótese é um alerta para o futuro.”  

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