Correio Braziliense
postado em 21/06/2020 06:00
Cientistas também buscam entender melhor o comportamento dos fumantes, na tentativa de conseguir ajudá-los no combate ao vício. Já se sabe que um dos fatores que podem contribuir no uso da substância é o sentimento de solidão. Por isso, pesquisadores ingleses decidiram analisar os efeitos das regras de distanciamento social em função da pandemia sobre a saúde psicológica e os hábitos de tabagistas.
Inicialmente, a equipe, analisou um banco de dados sobre hábitos de milhares de pessoas do Reino Unido e constatou a relação entre solidão e maior probabilidade de fumar. Depois, usando dados de um rastreador comportamental — a plataforma chamada YouGov reúne informações sobres hábitos dos ingleses durante o isolamento —, percebeu que 2,2 milhões de pessoas estão fumando mais.“De repente, todo o Reino Unido tornou-se mais socialmente isolado do que nunca, e, para muitas pessoas, isso, provavelmente, aumentará a solidão”, diz Robyn Wootton, pesquisadora da Universidade de Bristol e uma das autoras do estudo, publicado na plataforma on-line MedRixv.
João Armando, psiquiatra especialista em dependência química do Instituto Castro e Santos (ICS), em Brasília, destaca que o papel da solidão como um influenciador no hábito de fumar é algo suspeito por especialistas da área. “Assim como o álcool, o cigarro acaba afetando áreas cerebrais relacionadas ao prazer. Isso nos faz imaginar que uma pessoa que esteja solitária busque, no tabaco, essa sensação não proporcionada pelo contato social”, explica.
O especialista acredita que essa relação ganhe ainda mais força diante do momento atual. “As pessoas estão confinadas, o que pode influenciar o consumo do cigarro. Temos muitos casos de fumantes que só acendem um cigarro depois do almoço e, durante o dia, não sentem falta porque estão no trabalho, não podem descer a escada do prédio para fumar, por exemplo. Em casa, você não tem essas barreiras, por mais que esteja trabalhando”, ilustra.
Douglas Sakamiti, de 33 anos, tem sentido mudanças no consumo do cigarro nos últimos meses. “Logo no início do isolamento, no primeiro mês, percebi que estava fumando mais. Ficar em casa me mostrou as consequências desse aumento, como os ambientes ficando com muito cheiro de cigarro.” Antes da pandemia, ele trabalhava em um escritório e havia limitação de locais para fumar. Em home office, as dificuldades reduziram. “Há mais liberdade”, compara. “Isso sem contar a ansiedade por tudo o que está acontecendo no mundo, o estresse da restrição de não sair de casa e vários outros fatores.”
O administrador de empresas explica que, além dos riscos à saúde, outros medos gerados pela pandemia têm potencializado sua ansiedade. “Com essa reviravolta econômica, as empresas estão se reinventando, ou seja, há também um movimento de mais responsabilidades no trabalho. Tudo isso faz com que aumente o número de cigarros, ainda mais por não haver outra válvula de escape, como viagens, ver os amigos, ir ao bar”, diz. Apesar das dificuldades sofridas atualmente, Douglas pretende dar fim ao vício, mesmo que seja aos poucos. “Comecei um processo de diminuir. Por isso, penso em parar de fumar, mas não no curto prazo.”
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