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A dissonância entre a educação atual e o 3º milênio

O mundo avançou, mas a educação nas escolas brasileiras parece ter ficado estagnada. Neste contexto, discutir como inovar o ensino tornou-se essencial

Correio Braziliense
postado em 13/01/2020 15:23

 

 

o ideal é modernizar esses métodos, com a ajuda de jogos, por exemplo, que avaliem de maneira divertida e leve, e ainda conseguem fazer um diagnóstico dos alunos. 

 

Maria Júlia Spada

 

Salas de aulas organizadas em fileiras, conteúdos ministrados somente em quadros, matérias que não despertam o interesse dos alunos. Pode até parecer que este é o cenário da educação há alguns anos, porém é a realidade atual existente na maior parte das escolas brasileiras. A organização e o formato do ensino no país não acompanharam os avanços tecnológicos e sociais do 3º milênio e isso reflete no olhar dos alunos perante à escola.

Segundo dados do Censo Escolar 2018, entre as escolas do ensino médio do Brasil, 15% ainda não têm acesso à banda larga e 21,9% não têm laboratório de informática. Os números refletem a falta de investimento na inovação da educação.

 

A empreendedora e CEO do Edtech Meetup, maior evento do Centro-Oeste de inovação em gestão educacional, Nathalia Kelday, ressalta as principais questões endêmicas que atingem o atual ensino brasileiro.

  

1-    Os conteúdos ensinados em sala de aula não são muito úteis para a vida adulta.

“É muito mais interessante ensinar conteúdos como empreendedorismo, psicologia, programação, economia e direito, que terão valor tanto na infância e adolescência, quanto na vida adulta”, explica a empreendedora.

 

2-    O que é ensinado, não é totalmente absorvido.

“Nós não nos lembramos dos conteúdos que foram ensinados no ensino médio, por exemplo. É um aprendizado que não tem vínculo afetivo, não ajuda os alunos a terem vontade de aprender”

 

3-    Métodos avaliativos defasados

“Os métodos foram criados em uma época que não tinha revolução digital, mas continuam sendo aplicados constantemente. As pessoas são obrigadas a fazerem as provas sozinhas, sem consulta, com uma pessoa vigiando, e se tiverem um resultado ruim, isso os define por muito tempo”.  

 

Nathalia enfatiza que o ideal é modernizar esses métodos, com a ajuda de jogos, por exemplo, que avaliem de maneira divertida e leve, e ainda conseguem fazer um diagnóstico dos alunos.

 

Apesar das problemáticas nos métodos de ensino, a educadora, antropóloga e especialista em inovação com foco humano, Clarissa Bezerra, chama a atenção para a extensão do problema, que vai muito além da sala de aula. “É importante ressaltar que a escola é o resultado da sociedade, portanto, os problemas que ocorrem lá foram atingem diretamente a dinâmica do ensino nas aulas. Por isso, é necessário pensar em toda uma reorganização”.

 

 

 

Aluno proativo

 

A situação é complexa e exige a atenção de toda a sociedade, porém não é impossível de ser modificada. O professor Eduardo Valladares, conhecido pela criação de um método inovador de estudos na plataforma digital Descomplica, explica que manter o aluno no centro da discussão e colaboração em sala de aula é um dos passos para a inovação do ensino.

 

“É preciso desenvolver mais a Heutagogia (processo educacional no qual o estudante é responsável pela aprendizagem, alinhado à tecnologia e comunicação), para acabar com a ideia de que só o professor deve falar em sala de aula. Isso não quer dizer que os educadores vão perder a função, mas sim que os alunos deixarão de ser passivos para se tornarem proativos”.

 

O professor explica, ainda, que o ideal é aluno e professor trabalharem lado a lado e explorar a linguagem do afeto na hora de ensinar.

 

Descentralizar o ensino também é uma das propostas do educador Rodolfo Bertolini, CEO do Centro Universitário Celso Lisboa e do Ecossistema Liga Educacional. “A forma como as crianças e jovens acessam os conteúdos hoje em dia é diferente, porque estamos vivendo uma democratização da informação e isso modifica o perfil do estudante. A educação tradicional centrada no conteúdo, em que somente o professor transmite conhecimento, já não consegue responder às necessidades desse perfil, por isso é preciso reinventar”, elucida.

 

Paradigma da educação

 

Levar as mudanças que ocorrem fora da escola para dentro das salas de aulas é essencial no caminho de busca por inovação. A escola precisa estar aberta às mudanças de paradigmas, como elucida o professor e pedagogo José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte e crítico do modelo tradicional de ensino. “Nós estamos vivendo um paradigma da comunicação, por isso, é nosso deve fazer um paradigma da aprendizagem eficaz, só assim vamos ter mudanças efetivas”, ressalta.

 

Nos novos caminhos do ensino, reorganizar e inovar o currículo de matérias também contribui para a construção de um novo ensino. Estudar apenas Matemática, Química e Física não deve ser a prioridade do futuro.

 

“O mercado de trabalho atual já está exigindo as soft skills, como habilidades de se comunicar, de colaborar, de trabalhar em grupo, além das competências sócios emocionais. E as escolas inovadoras podem auxiliar nesse aprendizado”, explica Helber Vieira, subsecretário de educação básico do DF.

 

 

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