Empreendedorismo Feminino

Diversidade auxilia mulheres na construção da identidade

A saída para quebrar os vieses inconscientes negativos é o conhecimento, segundo Mariana Deperon, sócia-fundadora e CEO da Consultoria Tree Diversidade de educação de gênero

postado em 02/04/2018 19:23
Os desestímulos são grandes para as mulheres que decidem enfrentar os desafios. Triunfar diante de empecilhos requer firmeza de propósitos e entendimento dos meandros do competitivo mercado de trabalho e das mensagens instintivas ocultas (suas e dos outros), responsáveis pela negação ou aceitação pública de preconceitos e discriminações ; pano de fundo dos argumentos e justificativas que afastam o público feminino da vitória. As próprias mulheres, involuntariamente, praticam contra elas uma espécie de autoflagelação psicológica que as cega na análise de suas capacidades. São os ;vieses inconscientes;, explica Mariana Deperon, sócia-fundadora e CEO da Consultoria Tree Diversidade de educação de gênero.

Os velhos e ultrapassados hábitos são tão alicerçados na alma que poucas se dão conta de que distribuem ; e bebem ; o veneno que mata o espírito empreendedor: o imaginário da submissão da mulher e a autopiedade, que fazem com que a superação de problemas se torne mais difícil, ou até impossível. A saída para quebrar os vieses inconscientes negativos é o conhecimento. É a percepção de que diversidade não significa porta aberta para desigualdade e de que ninguém tem que desistir de uma carreira produtiva porque engravida, menstrua ou tem TPM, afirma a executiva. Aos 39 anos, Mariana trabalhou em grandes empresas do mercado financeiro, com muito sucesso e reconhecimento profissional, até ter seu bebê.

Ao retornar da licença maternidade, foi demitida. Esse choque a fez entender que ;pode e tem direito de ser respeitada nas suas especificidades de gênero;. Mudou de rumo. Foi trabalhar com diversidade. Única no setor certificada pela Organização das Nações Unidas (ONU), Deperon criou a Tree Diversidade. Para provar que as fêmeas estão além do que imaginam, ela citou estudos que provam que as mulheres são 51,5% da população, 43% da força de trabalho e 66% da decisão de consumo. ;Diante desse quadro, precisamos ser empoderadas ou o poder já está conosco?;, questiona Mariana. Ela está certa de que o poder ;já está conosco;. O que atrapalha é o ;viés inconsciente;.

Temos uma parte no cérebro (pré-córtex frontal) que não evoluiu com a tecnologia e que nos leva, em situações de medo ou de estresse, a avançar ou recuar. É também a parte que regula os estereótipos e enquadra atitudes e opiniões, armazenadas desde a infância, sobre o outro e sobre si. ;Olhar a diferença fascina e dá medo;, destaca. Esse viés inconsciente, se não efetivamente corrigido, afeta ações e decisões da empreendedora. Ao abrir seu negócio, ela precisa, fundamentalmente, se perguntar o que quer, o que precisa para triunfar, quais são suas barreiras internas e externas. Atualmente, agem na contramão. Como enfrentam dificuldades tanto com homens quanto com mulheres, tendem a pensar que não podem (não têm o poder) e ;não vão conseguir;.

Essas perspectivas são consequência de alguns fatos, aponta Mariana. As mulheres não foram preparadas para ;a luta;. Foram ensinadas, desde pequenas, a serem bonitas ;como a mamãe; e não inteligentes e corajosas, ;como o papai;. Na infância, se a menina tenta liderar, é chamada de mandona. No trabalho, se defende com vigor seus pontos de vista, é chamada de agressiva. Se bem-sucedida, o sucesso raramente é consequência da inteligência. O destaque nos negócios se deve à sorte ou à ajuda de terceiros.

A comemoração pelo Dia Internacional da Mulher, lembra Mariana, trouxe à tona uma série de discussões sobre direitos. Mas há poucos exemplos práticos para que as pessoas, de fato, se tornem agentes de mudança. Pesquisa recente da Tree em parceria com o Instituto Qualibest aponta que cerca 70% das companhias brasileiras não têm ações de diversidade de gênero. Apenas uma em cada cinco tem canal de denúncias para assédio. Outro dado que chama a atenção é a falta de conhecimento sobre diversidade: 87% dizem saber o significado de gênero. Mas apenas 16% o definem corretamente, sendo que 60% confundem gênero com orientação sexual. ;Como queremos pensar diferente se só convivemos com os iguais? Temos que valorizar a diversidade;, destaca.

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