postado em 18/04/2017 06:00
O acesso à água potável ainda é um desafio diário para grande parte das populações do mundo. Falta saneamento básico para cerca de 2,4 bilhões de pessoas. Isso equivale a mais de um terço da população mundial, estimada em 7,4 bilhões. Os números citados por Tadeu Abicalil, especialista em Água e saneamento do Banco Mundial, dão a dimensão do problema que os governos do mundo precisam enfrentar na universalização do bem.
"O mundo presencia uma grande pressão por serviços, pois a demanda está crescendo muito mais rápido que a oferta. A América Latina e o Brasil, por exemplo, são grandes produtores de alimentos. Não se faz isso sem água, e como este é um recurso vulnerável, o uso entra em conflito;, afirmou.
Ao longo das últimas décadas, especialistas concordam que ocorreram melhoras na gestão das águas, com a implantação de infraestrutura hídrica importante. Mas ainda é algo insuficiente, pois falta integração de bacias por meio de barragens, canais e adutoras.
;Muitas dessas infraestruturas regionais foram resilientes por alguns anos, mas começam a falhar com a seca mais severa. Para lidar com esse fenômeno é preciso melhorar a gestão e ampliar a infraestrutura de segurança hídrica e de acesso aos serviços;, explicou.
Investimento
Para o especialista, a falta de investimento no setor gera desperdício de água, gargalos e é agravada por uma infraestrutura precária. ;As companhias de saneamento não garantem a segurança hídrica.
Houve uma queda brutal nos serviços nos últimos 10 anos. O que se faz para conseguir financiamento para sanar esse deficit em momento de restrições crescentes e incapacidade fiscal;, frisou.
A questão se alastra por outros países e faz 1,6 bilhão de pessoas viverem em regiões com escassez absoluta de água pelo menos uma vez por ano. Até 2025, dois terços da população mundial podem ser afetadas pelas condições críticas de oferta do bem.
Os gastos para tentar levar água para essas regiões será um problema para vários países, sem contar com os danos causados pelas mudanças climáticas.
De 1970 a 2012, 8.835 desastres naturais provocaram cerca de 1,94 milhão de mortes e danos econômicos de US$ 2,3 trilhões globalmente, quase o Produto Interno Bruto (PIB) anual do Brasil, segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (MOM). Abicalil ainda questionou como a sociedade não está dando o real valor ao problema. ;Nós valorizamos mais a compra de um telefone celular do que nossa necessidade por água e esgoto;, lamentou.
Redução do PIB
Além dos custos sociais, a escassez de água, agravada pelo aquecimento global, deve reduzir em 6% o PIB de algumas regiões no mundo, como Ásia e África, até 2050. É o que aponta um estudo do Banco Mundial.
A disponibilidade de recursos hídricos tem impacto direto, também no emprego, uma vez que 42% da força de trabalho mundial está concentrada em oito setores dependentes de recursos hídricos e naturais: agricultura, silvicultura, pesca, energia, manufatura com uso intensivo de recursos, reciclagem, construção e transporte.
Impostos
6%
do Produto Interno Bruto (PIB) de algumas regiões do mundo deve ser reduzido devido à escassez de água, agravada pelo aquecimento global
US$ 2,3 trilhões
foi o dano econômico que os desastres naturais causaram no mundo
Rios poluídos
Mesmo se os governos conseguirem a universalização do acesso à água, temos um outro problema que é a qualidade da mesma. Levantamento realizado pela Organização SOS Mata Atlântida apurou que 240 pontos de coleta distribuídos em 184 rios do país, córregos e lagos de bacias hidrográficas têm apenas 2,5% dos pontos com qualidade boa.
Enquanto 70% estão em situação regular e 27,5% com qualidade ruim ou péssima. Cerca de 66 pontos monitorados estão impróprios para o abastecimento humano, lazer, pesca, produção de alimentos, e sequer têm condições de abrigar vida aquática. O que mais preocupa é que nenhum dos pontos analisados foi avaliado como ótimo.
"Nós valorizamos mais a compra de um telefone celular do que nossa necessidade por água e esgoto. Enquanto alguns países sofrerão com aumento das chuvas e das inundações e enchentes, muitos outros, especialmente aqueles em desenvolvimento, sofrerão com secas cada vez mais intensas e prolongadas;
Thadeu Abicalil, especialista em Água e saneamento do Banco Mundial