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Reformas deixarão país mais forte para enfrentar crises globais

Ajuste no sistema de aposentadoria deixará o país mais forte para enfrentar desaceleração da atividade global

postado em 12/02/2019 12:01 / atualizado em 19/10/2020 17:37
Quando um grupo de economistas se reúne para discutir as expectativas para os próximos meses, é impossível que não mencionem a reforma da Previdência. Não é só o conteúdo da mudança que causa apreensão. O fato é que, para aprová-la, não basta que o governo envie um bom texto ao Congresso e sinalize ao mercado estar disposto a priorizar o tema. É preciso muita habilidade política e foco na agenda fiscal. Essas são algumas das ponderações feitas pelo economista-chefe do Citi, Leonardo Porto.



Confiante nos sinais dados pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, Porto se declara “otimista” quanto à disposição do governo de atualizar as regras de aposentadoria e pensão. O cenário base do Citi é de aprovação de uma reforma “de magnitude semelhante àquela que foi entregue e diluída pelo ex-presidente (Michel) Temer”. Significa que a aposta do banco é no sucesso de um projeto com impacto fiscal próximo a R$ 500 bilhões em 10 anos.

Essa é a expectativa caso o governo ultrapasse os obstáculos pelo caminho. E não foi por falta de vontade que Temer não conseguiu avançar nessa direção, lembra o economista. Mesmo com um inegável engajamento na pauta, o ex-presidente não foi capaz de garantir maioria no Congresso. “A pergunta que volta agora, no governo do presidente Jair Bolsonaro, é se ele vai ser capaz de aprovar a reforma”, explica Porto.

Mais do que isso, também há dúvidas sobre “o nível de ambição” do projeto e a possibilidade de que o governo acabe priorizando uma pauta diferente. “O capital político pode ser usado para aprovar outra agenda que não seja a fiscal”, alerta. Para o economista, o Brasil deve aproveitar o ambiente de inflação e juros baixos, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e melhora do mercado de trabalho para focar nas reformas estruturais, antes que o atual círculo virtuoso de recuperação econômica seja rompido.

Falhar na aprovação da reforma da Previdência pode, inclusive, ser um dos motivos para o fim do momento positivo. A frustração das expectativas quanto ao andamento da matéria pode levar a uma depreciação do real e resultar em um aumento da inflação. O resultado seria o rompimento do círculo virtuoso. Do ponto de vista doméstico, esse é um dos “grandes riscos” apontados por Porto para a economia brasileira nos próximos meses.

Mas a inflação também pode subir por influência de uma eventual piora no cenário externo. O país pode ser afetado pela dinâmica da economia mundial, cuja expectativa do Citi é de crescimento econômico mais baixo do que nos anos anteriores e elevação das taxas de juros. Juntas, as duas situações sugerem fluxos de capital mais restritivos para os países emergentes, como o Brasil, explica Porto.


Cenário externo

Em resumo, o que acontece é que o desemprego nos Estados Unidos e na Europa tem voltado aos índices anteriores à recessão econômica, o que abre espaço para que eles cessem o uso dos “antibióticos” adotados durante a crise para manter o equilíbrio econômico. Um desses remédios era manter as taxas de juros “em patamares extremamente baixos”, diz o economista. Agora, ao atingir o que ele chama de “ciclo de crescimento maduro da economia”, elas podem subir.

“O paciente saiu da UTI. Está na hora de tirar os antibióticos”, afirma Porto. Nesse cenário, a expectativa é de que os países da zona do euro comecem a aumentar as taxas de juros no fim do ano. “Vão voltar para o patamar mais próximo do neutro”, diz o economista. Com o crescimento mundial mais baixo, “essa é uma segunda variável que sugere fluxos de capitais um pouco mais restritivos para países emergentes”, pontua.

O problema é que, ao juntar crescimento mundial mais baixo e taxas de juros mais altas, corre-se o risco de que o processo de normalização da economia não seja “bem-comportado”. “O risco do cenário deste ano é de ter esse processo de normalização de crescimento e taxa de juros de uma forma não tão suavizada quanto a gente gostaria”, explica Porto. Na prática, isso pode atrapalhar o governo a resolver os desequilíbrios fiscais brasileiros, por meio das reformas estruturais.

Como exemplo, ele cita o que aconteceu na Argentina, em abril do ano passado. A valorização do dólar levou a uma restrição do fluxo de capitais mais forte do que era previsto e forçou o governo a acelerar o processo de consolidação fiscal, que estava sendo feito de forma gradual. O mesmo poderia acontecer com o Brasil. “Mas o cenário base que a gente trabalha é de que esse é um processo que vai se dar de uma forma suavizada”, tranquiliza o economista.

Discussões pertinentes

O debate sobre os rumos do país é fundamental para que a população possa ter a noção clara dos desafios que estão colocados para que a economia volte a crescer, a criar empregos e a distribuir renda. Segundo o advogado Aléssio Gomes de Souza, 41 anos, discutir o Brasil é prioridade e uma grande oportunidade para se entender em que direção estamos indo. “O Correio Debate é importante. Além de nos informar sobre a tendência da economia para 2019, serve como uma aula. Estou estudando para a magistratura e preciso me inteirar do panorama do país. Todos os temas são fundamentais, sobretudo o da infraestrutura”, diz.

Num momento de grande expectativa em relação ao governo, que promete uma série de reformas para conter o deficit das contas públicas e para aumentar a produtividade da economia, a funcionária pública aposentada Maria Vitória Gomes de Sousa, 68, afirma que a boa informação vale ouro. “Debates como os promovidos pelo Correio nos permitem fazer uma avaliação do que se passa no país, ver o que pode acontecer futuramente e torcer para que os dirigentes interajam e consigam um bom resultado. Dizem que o Brasil é a oitava economia do mundo, mas tem potencial para estar numa posição melhor. Entra e sai presidente, ninguém cumpre o que promete. Agora, estou confiante de que vai para frente”, ressalta.

Na avaliação do empresário Manuel Araújo, 49, é inconcebível que uma economia do porte do Brasil tenha uma participação tão pequena no mercado internacional. Para ele, é preciso que o governo crie condições que permitam aos produtos brasileiros chegarem aos principais mercados de consumo a preços competitivos. “O nosso atraso em relação aos outros países é impactante. Em 1980 estávamos melhores do que agora”, destaca.






 

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