Jornal Correio Braziliense

Diabetes

Alarmante: descontrole entre pacientes de diabetes tipo 1 chega a 90%

Descontrole entre os pacientes de diabetes tipo 1 chega a 90%. Muitos não sabem que foram acometidos pela doença e continuam cometendo os mesmos erros. Deficiência na rede pública agrava problemas

É alarmante o número de pessoas com diabetes descontrolado. Estima-se que 90% daquelas que têm diabetes tipo 1 não conseguem manter a doença nos eixos. Entre as pessoas que têm diabetes tipo 2, o descontrole chega a 80%. Segundo especialistas, o país está diante de uma ;bomba; prestes a explodir, pois muita gente sequer sabe que foi acometida por esse mal. O diabetes é uma doença silenciosa, cujas complicações são graves, incapacitantes. Se considerarmos os custos hospitalares e as despesas com indivíduos incapacitados, que deixam de contribuir com impostos, que precisam de auxílio-doença e aposentadoria precoce, pode-se afirmar que o diabetes é a doença mais cara para o Ministério da Saúde.

Não se espera reversão tão cedo nesse quadro. Por isso, ainda se verá dados alarmantes. O diabetes, acompanhado da hipertensão arterial, é responsável pelo maior número de mortes e de hospitalização no país. Também lidera no caso de amputações de membros inferiores e representa 62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com insuficiência renal crônica submetidos à diálise. No entender de médicos e estudiosos, tratar as doenças cardiovasculares de pacientes com diabetes tipo 2 é uma questão de sobrevivência.

Essa constatação vale, sobretudo, para os idosos, que precisam ter acesso ao tratamento para viver mais. Nesse contexto, o Sistema Único de Saúde (SUS) pode ajudar a mudar a realidade desses pacientes e reduzir o risco de morte por meio da incorporação de novas medicações. Segundo o secretário Nacional de Atenção à Saúde, Francisco de Assis Figueiredo, mais de 70% da população utilizam o SUS ; são cerca de 150 milhões de pessoas. Para ele, a falta de informação é um dos problemas que precisam ser superados para a melhoria dos serviços. O sistema ainda não conta com atendimento multidisciplinar voltado ao público com doenças crônicas não transmissíveis.

;A equipe multidisciplinar é um sonho, mas temos o desafio de transformar as unidades básicas em mais resolutivas, com visão humanizada, para que o paciente se sinta mais acolhido. É uma discussão grande com o Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde). O Brasil tem mais de 5.500 municípios. Dependemos de secretários de saúde. O problema é que, na média, os secretários ficam 11 meses nos cargos. Essas mudanças constantes dificultam a continuidade dos trabalhos. Sem a ajuda dos secretários, fica difícil implantar algumas políticas. Trata-se de um grande desafio;, afirma.

Urgências

Pelos dados de Francisco de Assis Figueiredo, a maior incidência de diabetes está na região Sudeste, mas a doença avança por todo o país. Na avaliação dele, é preciso fazer estudos mais aprofundados de mapeamento para se ter uma ideia da epidemia que preocupa a todos. ;O que mais assusta é não ter informação. Como cuidar das doenças crônicas, se não sabemos onde elas estão? Precisamos informatizar todas as unidades de atendimento para que os dados fiquem disponíveis;, ressalta.

Outro desafio, diz o secretário, é o combate às doenças crônicas não transmissíveis, principalmente a hipertensão e o diabetes nos idosos. ;Temos a missão de implantar linhas de cuidado na atenção básica, na secundária e na terciária. Um dos projetos, já em andamento, foca na melhoria da qualidade das emergências, diminuindo o tempo de espera. Um segundo projeto será lançado até o fim do mês de agosto, com o monitoramento em três estados de pacientes com hipertensão, diabetes e insuficiência cardíaca ou congestiva. Com isso, poderemos avaliar, em caráter de urgência, a percepção dessas doenças, melhorando o atendimento;, avisa.

Segundo ele, serão visitados 100 hospitais, dos quais 20 já foram percorridos. Em um deles, em Fortaleza, o tempo para o paciente realizar um hemograma comum até a volta ao médico demorava 6h37. Em outro, no Rio Grande do Sul, o tempo de substituição, da saída até a entrada de outro paciente, era de 14h, com a urgência superlotada. ;Em alguns meses, com a mudança de fluxo e a melhoria de gestão, os hospitais melhoraram o atendimento. Com a melhoria de processos, as urgências vão atender melhor os usuários do sistema de saúde;, promete.

Mudança de vida

Na opinião da presidente da Rede AVC Brasil, Sheila Martins, quanto melhor for o atendimento, maiores serão as chances de se reverter os males provocados pelo diabetes, que aumenta o risco cardiovascular e de mortes súbitas. Para ela, é preciso identificar o quanto antes o diabetes, de forma a evitar que os altos níveis de glicose no sangue aumentem o risco de formação de placas de colesterol que podem levar à aterosclerose. ;Com o tratamento correto, pode-se minimizar e reduzir as chances de se desenvolver a enfermidade. Além da medicação e da mudança de vida, evitando-se cigarro, carboidratos, doces, massas, pão e batata, é preciso fazer atividades físicas, perder peso, controlar a pressão e reduzir o consumo de sal;, diz.

Sheila destaca ainda que é necessário mudar o rol de medicamentos disponíveis no SUS. ;A Empagliflozina se mostrou capaz de reduzir o risco de doenças cardiovasculares e faz falta na rede pública;, enfatiza.