Jornal Correio Braziliense

Exame Toxicologico

Motoristas que usam drogas transportam 50% dos alimentos perecíveis do país

Segundo o coordenador do Programa SOS Estradas, metade do alimento perecível consumido pelos brasileiros é transportado por motoristas usuários de entorpecentes

Ele citou um estudo do programa Volvo de Segurança no Trânsito que mostra que 38% dos acidentes em rodovias federais ocorrem com caminhões e ônibus e 52% dos acidentes com mortes têm o envolvimento deses veículos. As principais causas para isso: excesso de velocidade, sono e o ;apagão; causado pelas drogas. ;O efeito do remédio passa, ele começa a dormir, sai da pista e capota;, explicou Rizzotto.
[VIDEO1]

Um outro estudo, que analisou mil acidentes com mortes envolvendo caminhões, entre 2015 e fevereiro de 2017, mostrou que em 82% os caminhoneiros mataram outros caminhoneiros. Quando os acidentes envolveram veículos leves, 97% dos ocupantes dos automóveis morreram e naqueles envolvendo motocicletas, 98% foram a óbito. ;A maioria dos caminhoneiros passa mais de 200 dias por ano morando no caminhão, é mal remunerado, não tem condições de descanso adequado, nem paradas para dormir. Além disso, vive os riscos de ser abordado por traficantes, prostitutas e assaltantes nas estradas. É natural que esse sujeito sofra acidentes por usar drogas para suportar a jornada e ganhar um dinheiro extra;, constatou.

Concorrência

De acordo com Rizzotto, o motorista que usa drogas concorre de forma desleal com quem não usa. ;Com certeza, quem vai pegar mais fretes é aquele que usa, pela rapidez nas entregas. E isso vai contribuir para abaixar cada vez mais os valores do frete;. Com a relação próxima do motorista com os traficantes, cresce também o número de roubo de cargas, transporte de armamento e de drogas. ;Já vi o caso de um caminhoneiro que transportava mais de nove toneladas de maconha misturadas a 30 toneladas de grãos. Ele recebia R$ 65 mil para transportar a droga e R$ 3 mil pelo frete dos grãos. Isso faz baixar ainda mais o valor do frete, pois o negócio dele passa a ser transportar drogas;, esclarece Rizzotto, acrescentando que a logística do tráfico de entorpecentes se aproveita dessa categoria.

;A empresa que trabalha sério, que faz seu funcionário descansar, está perdendo frete. Nós precisamos nos preocupar se o motorista que vai transportar a carga está trabalhando em condições humanas. E o exame toxicológico dá essa contribuição. Inclusive, desestrutura essa concorrência desleal, onde quem mais mata é beneficiado e os que trabalham honestamente são estimulados a também usar a droga;, avaliou.

Rizzotto chegou a propor um tipo de certificação. ;Da mesma forma que quando compramos um móvel de madeira, ele vem com uma certificação de que a madeira é de reflorestamento, poderíamos criar um selo que certificasse que aquela fruta ou verdura que compramos está livre de drogas. Ou seja, que o motorista que transportou a carga não precisou se drogar para cumprir o seu trabalho;.