O diretor de política industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi, reconhece a importância da abertura comercial, com redução de tarifas, defendida pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, durante a campanha eleitoral, mas alerta para que o processo seja gradual e com planejamento. ;Nós imaginamos que precisamos dar isonomia para que a indústria brasileira seja capaz de competir no mercado internacional. Hoje, temos uma série de custos que o governo não tem jeito de tirar de um dia para o outro, como deficiências nos fretes, falta de financiamento, tarifas e tributos elevados;, afirma. ;Por isso, a abertura precisa ser gradual. Dessa forma, haveria uma interação do governo com o setor privado para que se pudesse fazer a redução das tarifas ao longo de algum tempo;, acrescenta.
De acordo com Abijaodi, não existe uma grande economia no mundo sem que tenha por trás uma indústria forte. Como exemplo, ele cita os Estados Unidos, a China, a Alemanha e o Japão, que têm programas para implantar fortes incentivos ao setor. Na avaliação dele, é preciso, antes de tudo, ter vontade política para estabelecer o Brasil como um dos players mundiais, pois a participação do país nas exportações globais ainda é muito pequena, inferior a 2%. ;No Brasil, apesar da recessão de 2015 e 2016, o que a indústria tem demonstrado é um potencial muito grande para se desenvolver. A indústria paga os melhores salários e gera emprego;, destaca.
O executivo da CNI destaca a importância da indústria no desenvolvimento do Brasil, mas reconhece que é um desafio muito grande que ela seja reconhecida. ;A produtividade é o foco dos nossos trabalhos. Analisando 18 países, o Brasil está em penúltimo lugar. Em ambiente de negócios, estamos na última posição;, revela. Um dos desafios para mudar esse quadro é melhorar a capacitação. Para que a indústria se modernize, é preciso que se busque novos conhecimentos e se melhore a formação de mão de obra.
Na avaliação de Abijaodi, uma das principais razões de a indústria nacional não ser competitiva é o elevado Custo Brasil. ;Mas as empresas também têm problemas internos. Temos problemas de gestão, no processo produtivo, na inovação, no marketing, nas vendas, no sistema de suporte e no financeiro. Nesses pontos, não há como descolar do setor público. Temos que trabalhar juntos, porque ambos têm problemas, ambos têm soluções, assim, devem encontrar soluções em conjunto;, explica.
Proteção
Abijaodi defende uma política industrial e uma política comercial para minimizarem os problemas do setor. ;Essas duas políticas não admitem preconceitos. Têm que ser vistas como um conjunto de medidas e de formas que possam realmente aumentar a nossa produtividade, ampliar a eficiência do nosso trabalhador e melhorar as condições externas para que nós possamos ter um desenvolvimento;, afirma. ;A política industrial tem que ser um motor para a produtividade e um estímulo ao avanço tecnológico no Brasil. Não podemos ter decisões erradas e precipitadas. Não há como ter uma proteção exagerada, nem abertura inconsequente;, emenda.
Não é só. Para o executivo, todos sabem as dificuldades da indústria e os potenciais do setor para alcançar uma produtividade maior. ;O que nos resta é coordenar sempre a política industrial da política comercial. Precisa de um alinhamento;, destaca. Em relação ao Mercosul, Abijaodi critica a falta de desenvolvimento do bloco, porque ficou restrito a uma visão mais política do que comercial. ;Isso foi uma falha de todos os países. Foi como se plantássemos uma árvore e não cuidássemos dela;, alerta.
Segundo o diretor da CNI, a entidade vem fazendo a agenda internacional da indústria há três anos. ;Para 2019, vamos colocar mais Brasil no mundo, trabalhando com acordos comerciais, barreiras em terceiros mercados e investimentos brasileiros no exterior. Vamos trabalhar com comércio exterior sem amarras, facilitação e desburocratização. É um item que está bastante adiantado e não podemos deixar ter nenhum atraso nisso;, afirma.