Jornal Correio Braziliense

Industria

Educação é peça chave para crescimento econômico, afirma diretor do SENAI

Modelo brasileiro está totalmente defasado. Não por acaso, 77 milhões de adultos não têm ensino médio

O Brasil precisa avançar rapidamente na melhoria de educação se quiser, algum dia, ter níveis de desenvolvimento próximos aos de países mais ricos. Hoje, qualquer que seja o indicador avaliado, a situação do ensino é dramática, mesmo havendo algumas ilhas de excelência. Na avaliação do diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Rafael Lucchesi, enquanto não houver empenho de toda a sociedade para tornar a educação uma peça chave para o sucesso da nação, o Brasil continuará com baixo nível de crescimento econômico. Para ele, a aprendizagem e o contato com a inovação permitem a formação de profissionais mais capazes de alcançar as soluções do dia a dia.


O atraso do Brasil impressiona, sobretudo, porque, entre 1930 e 1980, o país foi o que mais cresceu no mundo. Lucchesi explica que todo o processo de expansão ocorreu em cima de uma ;narrativa liderada pela industrialização;. ;Nós perdemos essa hegemonia de desenvolvimento industrial na virada dos anos de 1970 para os de 1980. Nossa taxa de crescimento se tornou a metade da dos países desenvolvidos. Se, antes, estávamos emparelhados a essas nações, depois, o fosso se abriu. Nos últimos 40 anos, os países que mais cresceram foram os que adotaram uma moderna plataforma de manufatura;, diz.

Saldo dramático

Por isso, Lucchesi avalia que a discussão sobre a hegemonia e o projeto de país é fundamental para alterar o modelo que vem sendo adotado. ;É algo muito superior à discussão de um ou de outro instrumento de comércio exterior (como a redução das tarifas de importação proposta pela equipe econômica de Jair Bolsonaro);, diz. ;É preciso fazer uma discussão da educação para que, de fato, dialogue com o projeto de país;, completa. O diretor do Senai foi relator das diretrizes curriculares da reforma do ensino médio, aprovada durante o governo Michel Temer.


Nos últimos 20 anos, mesmo com o Brasil triplicando o gasto nacional com educação e quadruplicando as despesas per capita, os resultados não são animadores. A produtividade está praticamente estagnada. ;Não conseguimos estabelecer uma articulação entre o projeto de país e o sistema educacional. Isso se constituiu num grave problema;, afirma Lucchesi. ;Temos um grave problema de qualidade insatisfatória. O sistema educacional brasileiro é recente. Fizemos a nossa revolução industrial, mas, diferentemente, de outros país, não fizemos, simultaneamente, um sistema de educação de massa;, acrescenta.


O Brasil atingiu sete anos e meio de escolaridade média da população adulta no século XXI, enquanto os países desenvolvidos alcançaram esse nível no início do século XX. ;Temos 100 anos de atraso em relação às sociedades desenvolvidas. Se educação é o pilar fundamental da sociedade, a longo prazo, terá papel decisivo na produtividade do trabalho;, ressalta. Lucchesi lembra também que a universalidade do sistema educacional só foi atingida em 2015.


O diretor-geral do Senai alega ainda que há 77 milhões de brasileiros adultos sem o ensino médio completo. ;Isso é absolutamente dramático;, alerta. Na opinião dele, a falta de uma revolução educacional e as políticas públicas adotadas fizeram com que haja muito mais transferência de recursos públicos para idosos do que para jovens no Brasil. ;As transferências para a educação de jovens no Brasil são transferências familiares. Numa sociedade de profunda concentração de renda, você cria uma ausência de oportunidades e de mobilidade social de maneira flagrante;, argumenta.


Apenas 53% dos brasileiros com 19 anos de idade concluem o ensino médio. Entre os mais ricos, são 79%, enquanto que, entre os mais pobres, desce a 36%. Sobre a educação profissional, Lucchesi destaca que ela fornece mais chances de empregabilidade e renda. Por isso, deve ser incentivada, especialmente diante do assustador nível de desemprego entre os jovens. Enquanto o patamar geral da economia está em torno de 11%, o índice sobe para 30% entre os mais novos.