A incidência do câncer é assustadora. Projeções do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que, neste ano, um a cada cinco homens adoecerão. Uma em cada seis mulheres terão diagnóstico positivo para a doença. No mundo, 18 milhões de novos casos, sendo 1,2 milhão no Brasil, exigem da ciência e da medicina técnicas e medicamentos revolucionários. O câncer nos próximos anos tomará o lugar das doenças cardiovasculares e se tornará a principal causa de morte.
Baratear tratamentos, facilitar acesso à assistência clínica, identificar precocemente doentes e difundir o conhecimento científico são alguns desafios. Reunidos no Correio Debate: ;Oncologia no Brasil ; Inovação no Tratamento e no Diagnóstico do Câncer;, especialistas de diversas frentes discutiram sobre a doença. Eles concluíram que identificar precocemente e tratar rapidamente o câncer aumenta a chance de sobrevida e diminui os custos do tratamento.
Para se ter ideia dos impactos na rede pública, por ano, são realizadas três milhões de sessões de quimioterapia, 324 mil cirurgias oncológicas e quatro milhões de mamografias. Somente no ano passado, R$ 463 milhões foram gastos na compra de medicamentos de combate ao câncer. Em 2017, 11,5 milhões de sessões de radioterapia foram realizadas na rede pública.
Em oito anos, o Ministério da Saúde aumentou em 109% os investimentos no combate à doença. Em 2010, o governo federal destinou R$ 2,2 bilhões em tratamento. O valor passou para R$ 4,6 bilhões no ano passado. ;A renovação no tratamento do câncer é um processo que precisamos discutir. À medida que buscamos inovação tecnológica, que fazemos formação profissional adequada e que garantimos o acesso do paciente ao diagnóstico, nós conseguimos fazer o tratamento;, explica o ministro interino da Saúde, Adeilson Loureiro Cavalcanti.
Desafios
O Sistema Único de saúde (SUS) oferece assistência integral aos doentes desde o diagnóstico até procedimentos paliativos. Na rede pública, pacientes com câncer devem começar o tratamento em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico da doença. A regra foi estabelecida pela Lei n; 12.732/12. Ela considera a regulamentação cumprida quando o tratamento for efetivamente iniciado, seja por meio de cirurgia, radioterapia ou quimioterapia.
Em todo o país, 270 aparelhos oferecem sessões de radioterapia. Novos aparelhos de radioterapia devem ser instalados nos hospitais brasileiros. Desde 2016, 97 equipamentos passaram a funcionar. Outros 97 começarão a operar a partir de 2019. ;O grande desafio é fazer o diagnóstico precoce para iniciar o tratamento rapidamente para as chances de cura serem maiores;, pondera.
O ministro interino é categórico. ;Como estamos vivendo mais, estaremos predispostos a doenças. O câncer é uma delas. Temos de estar preparados para esse enfrentamento. Oferecemos integralmente o tratamento. O SUS está preparado para atuar desde o diagnóstico até o tratamento especializado;, afirma.
Adeilson chama a atenção para as práticas de prevenção, a fim de diminuir as situações mais severas. Ele cita como medida de prevenção a vacina contra o HPV oferecida a jovens de 11 a 15 anos. ;Essa é uma medida que está na ponta da política de saúde e impacta lá na frente, onde as pessoas adoecem;, alerta. Ele ressalta ainda a importância de todas as vacinas como forma de prevenção e que há um perigo quando a sociedade começa a ser pautada por fake news, de que vacina faz mal à saúde. Muito pelo contrário. A vacinação é preponderante para salvar vidas.
Estilo de vida
As fakes news assustam o oncologista Rodrigo Medeiros, do Sírio-Libanês Brasília. Ele diz que ao se pautarem por notícias falsas, muitas pessoas estão abrindo mão da prevenção ao não se vacinarem contra, por exemplo, o HPV. ;Não é só na política. Também na medicina há informações falsas;, ressalta. Além de se protegerem das fake news, é preciso mudar o estilo de vida. Segundo o oncologista, entre os principais fatores de risco para o câncer estão a exposição solar (raios UV), a obesidade, o sedentarismo, o tabagismo, o consumo exagerado de álcool e drogas ilícitas, os hábitos alimentares inadequados e a prática do sexo sem camisinha.
;Não é azar ter câncer. É uma questão de estilo de vida. Não fumar é fundamental, pois 90% dos cânceres de pulmão estão relacionados ao cigarro. O mesmo serve para a bebida alcoólica em excesso. A dieta balanceada e o controle de peso são essenciais. Cada vez mais a obesidade está ligada a uma diversidade de tumores. Também é preciso investir em atividades físicas e no sexo seguro;, recomenda Medeiros.
A boa notícia é que os tratamentos estão avançando. Um deles é o uso de células-tronco em transplantes.;A rejeição é pouca e há muito ataque à doença. Isso é o que precisamos. Temos medicamentos que diminuem inflamações e não prejudicam o ataque ao câncer;, ressalta Fernando Blumm, especialista em transplante de medula óssea e terapia celular do Sírio-Libanês de Brasília. O desenvolvimento das técnicas de suporte interferem nos resultados. ;O uso de bons antibióticos, de antivirais, de boa UTI e, sobretudo, de uma boa equipe fazem os resultados obtidos no Brasil diferirem dos da Europa e dos Estados Unidos;, diz. ;Estamos atingido resultados excelentes em pacientes que fracassaram em outros tratamentos;, completa.
Estimativas globais
>> No mundo, são estimados 18 milhões de novos casos de câncer por ano
>> O câncer é uma das principais causas de morte no mundo. Serão 9,6 milhões em 2018.
>> O Brasil responde por 2,6% dos casos mundiais, com 240 mil mortes por ano.
>> Os cânceres mais comuns são: pulmão, mama, colorretal, próstata, pele (não melanoma) e estômago.
>> Os cânceres que mais matam: pulmão, colorretal, estômago, fígado e mama.
Fatores de risco para o câncer
>> Uso de tabaco, incluindo cigarros e tabaco sem fumaça.
>> Sobrepeso ou obesidade.
>> Dieta insalubre com baixa ingestão de frutas e vegetais.
>> Falta de atividade física.
>> Uso abusivo de álcool.
>> Infecção por HPV transmitida sexualmente.
>> Infecção por hepatite ou outras infecções carcinogênicas.
>>Radiação ionizante e ultravioleta.
>> Poluição atmosférica urbana.
>> Fumaça interior do uso doméstico de combustíveis sólidos.
Fonte: World Health Organization