postado em 02/10/2018 18:19
Com o envelhecimento da população, a tendência de é que o câncer passe as doenças cardiovasculares e se torne a principal causa de mortes no mundo, avalia o oncologista do Sírio-Libanês Brasília Rodrigo Medeiros. Não bastassem, porém, todos os fatores conhecidos que provocam câncer, os médicos estão tendo de lidar com as fake news, que prejudicam a prevenção e o tratamento de doenças. Diante desse quadro, ele alerta para a necessidade de a população checar todas as informações antes de tomarem decisões que podem custar a vida.
Não por acaso, Medeiros chama a atenção para a necessidade de vacinação contra o HPV para meninos e meninas de 9 a 14 anos. Hoje, por causa de notícias falsas, muitos pais têm deixado de prevenir os filhos da doença. ;Informações inverídicas estão impactando a cobertura da vacinação;, diz. O HPV causa tumor de orofaringe, pênis, vulva e canal anal. Já o HBV (vírus da hepatite B), também pode ser transmitido sexualmente e causa hepatite crônica, cirrose e câncer, e está ligado a tumores do fígado.
;Não é só na política. Também em medicina há muita informação falsa. Temos muitas fake news. É necessário que o indivíduo tenha uma postura questionadora e se pergunte: será que é verdade? Tem de buscar informação de qualidade. As pessoas morrem por uma doença que é totalmente passível de prevenção. E é de graça;, frisa Medeiros.
O medo joga contra
A detecção precoce do câncer é importante para aumentar as chances de cura e a sobrevida de pacientes, além de permitir a aplicação de tratamentos menos invasivos. E isso se faz com a adoção de políticas públicas e maiores investimentos em tecnologia, diz Renata Oliveira dos Santos, técnica da Divisão de Detecção Precoce e da Organização de Rede de Atenção Oncológica, do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
A especialista se ancora em números. Um dos mais expressivos é o de câncer de mama. A detecção precoce salva 95% das pacientes. Exames de rotina são grandes aliados neste aspecto. ;Há cânceres que evoluem lentamente. Outros crescem de forma rápida e agressiva. Os exames de rotina são essenciais para identificar cada um deles e definir se é viável usar os sistemas de rastreamento e pesar os riscos e benefícios;, afirma Renata.
Ela explica que o rastreamento é necessário para pessoas que não têm sintomas da doença. O diagnóstico precoce serve àqueles que demonstram algum sinal. Contudo, não há técnicas de ratreamento para todos os tipos de câncer. ;O medo ainda interfere no tratamento. Muita gente identifica um caroço ou sente alguma dor, mas esconde da família e não procura o serviço médico, retardando o diagnóstico e o tratamento. Isso pode gerar casos graves da doença;, alerta. Para Renata, o essencial é saber, com o médico, quais são os ricos e definir o que é melhor. Isso deve acontecer em nível individual;, frisa.
Alimentação faz a diferença
O câncer de mama é a segunda causa de morte entre mulheres no Brasil, perdendo para o de pele não melanoma. A projeção para 2018 é de que a doença afete 59.700 mulheres, dos quais, 14 mil casos serão fatais. A maior incidência do câncer mamário está nas regiões Sul e Sudeste.
Para evitar a doença, é necessário que as mulheres cuidem melhor da alimentação, façam pelo menos 30 minutos de exercícios físicos durante cinco dias na semana, amamentem os filhos , evitem as bebidas alcoólicas, o uso do tabaco e cuidem do sono. Essas são as recomendações de Pollyana Dornelas Pereira, integrante da Diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
Quando o câncer é descoberto de forma precoce, o tratamento se torna mais viável e o risco de morte é menor. A prevenção começa pelo autoexame. Também são importantes a mamografia, a ultrassonografia, a ressonância magnética e a tomossíntese.
Segundo a SBM, a mamografia reduz em até 31% o risco de morte por câncer de mama. O exame, que deve ser feito anualmente, é capaz de detectar os nódulos ainda em estágio inicial e é indicado, principalmente, para mulheres de 40 a 74 anos. ;A gente vê a cura na nossa frente no consultório. Quando detectado precocemente, a chance de uma paciente estar viva após cinco anos do tratamento é de 99%;, diz a médica.
Serviços são heterogêneos
As diferenças entre o sistema privado e público de saúde, em relação ao acesso a exames, diagnósticos rápidos e tratamentos avançados são evidenciadas pelo oncologista e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) Daniel Marques. ;Infelizmente, temos uma disparidade entre os sistemas público e privado, que são heterogêneos. O sistema público acaba diagnosticando mais tarde, com a doença já avançada. Já o privado tem mais acesso, descobre mais cedo e tem melhores condições de tratamento;, afirma.
Para Marques, o tratamento oncológico passa por cinco vertentes: prevenção, diagnóstico, tratamento, pesquisa e suporte. ;Para se prevenir, é necessário adotar hábitos saudáveis, rastrear e realizar exames, como mamografia, papanicolau e retal. É preciso, também, mudar o estilo de vida e buscar informação;, assinala. Ele ressalta que há inúmeras modalidades com diagnóstico rápido, efetivo. ;Tem a biópsia guiada. Têm imagens do corpo inteiro, como o pet-ct. Temos o sequenciamento genético para descobrir mutação;, acrescenta.
Entre as inovações na área, Marques destaca a imunização contra o HPV, que diminui, por exemplo, o risco de câncer de útero. Sobre os tratamentos de modo geral, ele destaca a cirurgia, a radioterapia, a imunoterapia e a terapia-alvo. A cirurgia robótica também vem ganhando espaço, por serem menos invasivas e possibilitarem recuperação mais rápida do paciente.;