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Os pais de pet

Para muitos tutores, a relação com os cães é, quase sempre, paternal

Fernanda Bueno*
postado em 12/08/2018 07:00
Para Victor Moreira, a chegada de Bruce salvou a vida dele: depressão por conta da solidão
Uma nova classe defende a paternidade com patas e dentes: os pais de pet. Que o cachorro é o melhor amigo do homem todo mundo sabe, mas, aos poucos, eles têm sido promovidos a filhos. Com muitos mimos, os bichinhos se tornaram a principal opção para quem busca companhia.

O buldogue inglês Bruce foi a cura em um momento muito difícil na vida do servidor público Victor Moreira, 37 anos. Com a família toda em Goiás e se sentindo triste por não ter companhia em Brasília, ele encontrou no pet a resposta para o fim da solidão.

;Em 2015, tive uma crise de ansiedade que me fez recorrer a psiquiatras e psicólogos. Precisei tomar medicação por um bom tempo e isso não me fazia bem. Então, resolvi ter um companheiro de quatro patas em casa. Com toda certeza, o meu melhor remédio foi ter trazido o Bruce para meu lar. Ele me curou.;

Victor conta que, antes de conhecer Bruce, criticava essa relação de pai e filho com a qual muitas pessoas tratam os pets. Mas não imaginava tamanha explosão de sentimentos. ;Fiz todo o enxoval do filhote como se estivesse esperando a chegada de um filho humano. Ele me acompanha nos quatro cantos do apartamento como se fosse minha sombra. Todos os dias, senta-se à mesa comigo para comer tapioca. Adora andar de carro e se comporta muito bem dentro dele; afirma.

À espera do primeiro filho, Jesiel Amorim acredita que aprendeu a ter responsabilidade com MaricotaSe Bruce representou para Victor o fim da solidão, Maricota significou para o arquiteto Jesiel Amorim, 30 anos, um convite à paternidade. Com uma chegada turbulenta, marcada por problemas de saúde, a poodle toy de 3 anos mudou completamente a vida e a perspectiva de Jesiel sobre responsabilidade.

;Tivemos uma fase de adaptação. Como a pegamos muito novinha, ela chorava muito. A gente tinha que acordar de madrugada para esquentá-la, fazer massagem e, às vezes, eu a colocava na cama, em cima do meu peito, para que se sentisse segura; explica. Aos 3 meses, com problemas no fígado, a cadelinha precisou de uma maior atenção, que exigiu de Jesiel novos hábitos e mudanças na rotina.

;Ela ficou com sérios problemas, de forma que a sua alimentação é extremamente rigorosa. A ração de Maricota é bem cara, ela tem que tomar medicamento todos os dias para o fígado não piorar e não pode comer nada que saia da dieta.;

À espera do primeiro filho, o arquiteto conta como foi a alegria da descoberta da gravidez. ;Foi a Maricota quem deu a notícia. A Lorena (mulher de Jesiel) amarrou no pescoço dela uma fita com uma chupeta. Quando eu cheguei em casa, ela veio me receber com o acessório. A gente fala que ela foi promovida à irmã mais velha.;

Para Jesiel, as experiências com a filha de quatro patas abriram as portas para esse mundo da paternidade, preparando o arquiteto para os desafios que a chegada do bebê trará. ;Com a Maricota, nós amadurecemos muito e estamos mais preparados para ser pais de gente. Antes, amávamos só a Maricotinha, mas percebemos que o amor pode ser compartilhado;, afirma.

Bicho sendo bicho

A médica veterinária especializada em treinamento e comportamento animal Lívia Gobbi Arantes, 34 anos, explica que o segredo em ter um bom cão de companhia está na educação que ele recebe. ;Quando a gente fala sobre quais são as melhores raças, a gente acaba excluindo. O mais importante é ensinar o cachorro a ser tranquilo, porque qualquer pet, independentemente da raça, será uma ótima companhia;, garante.

A especialista alerta, porém, que a humanização do pet pode ser prejudicial quando as necessidades naturais e básicas dele não são atendidas. Embora o sentimento sobre o animal se assemelhe ao que temos nas relações humanas, algumas das nossas atitudes, por mais simples que sejam, podem atrapalhar o bem-estar dele.

;Os cães têm necessidade básicas que precisam ser supridas, como interagir com outros animais, socializar. É muito interessante que eles tenham desafios para pegar comida, forragear, cheirar, pisar no chão, na grama, nas pedrinhas. São formas de eles estimularem o cérebro, interagirem com o mundo;, ensina Lívia.

Para o psicólogo Fabrício Guimarães, 37 anos, há diversos fatores que influenciam essa humanização dos animais, como as mudanças que têm ocorrido na sociedade, nas cidades e nas famílias. ;As cidades estão se verticalizando, com cada vez mais pessoas morando em apartamentos. As pessoas têm trabalhado cada vez mais e tendo menos tempo para se relacionar com outras pessoas. Às vezes, os animais ficam sendo um dos poucos ; ou em alguns casos o único ; contatos com algum ser vivo.;
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte

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