A terceira mesa do dia do debate Dialogar para Liderar, no auditório do Correio Braziliense, com o tema "Brasil e democracia - novos paradigmas para o diálogo e a liderança", teve a participação de Renato Janine Ribeiro, professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Educação.
Janine fez um breve histórico dos presidentes da República, analisando segundo os conceitos de fortuna e virtu de Maquiavel: fortuna é algo próximo de sorte, enquanto virtu seria a capacidade de liderança. "Fernando Henrique Cardoso e Lula levaram os mandatos com virtu", disse. "Ambos os discursos convenciam as pessoas impacientes e indignadas de que algo seria feito, de modo a preservar o acordo". O professor afirma que, na atual situação, não há governantes com perfil de liderança nem no poder, nem despontando como possibilidades para 2018. "Creio que hoje estamos numa fase diferente, é conhecida a dificuldade de diálogo".
Para Janine, há uma dificuldade de percepção de que o mundo mudou, tanto da parte da comunicação empresarial quanto da política. "Temos que saber identificar as novas demandas, se queremos dialogar", afirmou. Entretanto, o país se encontra dividido, com preferência pelo enfrentamento e não pelo diálogo. Além disso, ter poder econômico ou político, emenda, não é condição suficiente para liderar. "Além de estar no poder, ter um mandato, você é lider se consegue galvanizar. E essa galvanização significa um diálogo constante, captar as demandas".
A segunda mesa de debates foi aberta por Paulo Marinho, superintendente de comunicação corporativa do Itaú Unibanco e presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Ele disse que o "primeiro passo do processo do diálogo é o respeito, onde se respeita a si mesmo e ao outro."
[SAIBAMAIS]Durante sua apresentação, fez um panorama da comunicação empresarial na atualidade. Para ele, a economia atualmente gira em torno da reputação. "Vale mais o que você é do que o que você vende", explica, o que exige um diálogo afinado entre empresa funcionários, colaboradores, clientes e sociedade. Agora, erros locais geram danos globais, a qualidade da exposição da empresa vale mais que a quantidade e criar reputação é mais importante que fazer propaganda. "O primeiro passo do processo do diálogo é o respeito", ressaltou.
Rubens Naves, da Rubens Naves Santos Jr. Associados, deu o exemplo prático de um caso de diálogo efetivo entre sociedade civil organizada e poder público. Na busca por reduzir o deficit de vagas nas creches e na educação infantil em São Paulo, foi estabelecido um diálogo com a prefeitura - que havia prometido a criação de 150 mil vagas durante a campanha eleitoral - e com o Poder Judiciário. Por meio de uma conversa interinstitucional foi possível criar prazos para o cumprimento de decisões judiciais que asseguravam o acesso à educação nessas etapas do ensino. Criou-se ainda um grupo de monitoramento, presidido pelo desembargador do Tribunal de Justiça. Naves destaca que esse foi um processo de decisão dialógico, baseado no princípio da razoabilidade, e que levou a avanços significativos no sentido de alcançar o objetivo proposto. "O nosso projeto de país precisa se concretizar", resume Naves.
O jornalista Francisco Viana, diretor-presidente da Hermes Comunicação, também defendeu um engajamento da sociedade na discussão dos problemas do país. "Como comunicador, o que eu tenho procurado fazer é incentivar as pessoas à cultura da solução, e não à cultura do problema", contou. "O que nós precisamos hoje, no Brasil, é ter uma empolgação de resolver problemas, seja eles quais forem, dos menores aos grandes".
Luiz Carlos Azedo, colunista do Correio Braziliense, também lembrou da obra de Maquiavel, "O príncipe", ressaltando a capacidade de adaptação dos governantes. "A medida que o processo muda, o comportamento do príncipe tem que mudar", esclarece. "Estamos vivendo um momento politico em que nossas lideranças se recusam a mudar".
Questionado pelo mediador sobre quais as premissas para que, hipoteticamente, houvesse diálogo entre Lula e Fernando Henrique Cardoso, Azedo citou a alternância de poder e a aceitação de dissenso, consideradas por ele como os dois elementos básicos de regimes democráticos. O pior dogmastismo que existe é a insensibilidade às ideias contrárias", emendou o colunista.
%u2060%u2060%u2060O mediador, Caio Túlio Costa, fez uma provocação acerca da existência de um prínicpe na atualidade. Para Francisco Viana, o príncipe moderno é todo cidadão, efeito do mundo digital que permite mais educação. "A opinião vai mudando como se tivesse muitas faces. E isso para a liderança é extremamente difícil porque ela tem que estar sempre presente. Hoje, todos são príncipes, e falar com príncipes é complexo porque são muitas as demandas", argumentou.
Ao parabenizar a organização do evento, Hamilton dos Santos, diretor-geral da Aberje, lembrou que houve receio em utilizar a palavra diálogo, que se encontra banalizada. "Ficamos um pouco temerosos sobre a consistência de usar essa expressão. Mas temos tentado fazer um esforço na Aberje para reinvenção".
O diretor-geral adiantou que a associação planeja construir uma plataforma para levar a discussão a mais lugares. O debate vai continuar por um canal dentro da página da Aberje, que ainda será criado, e também pelas redes sociais.