Irlam Rocha Lima
postado em 21/06/2009 09:27
Viciada em trabalho, Zélia Duncan faz várias coisas ao mesmo tempo. Algumas das letras de Pelo sabor do gesto, o CD que acaba de lançar, por exemplo, foram escritas nos intervalos dos discos e dos shows e em que dividiu palco e estúdio com os Mutantes e Simone, entre 2006 e o ano passado. Chama a atenção, também, a capacidade da cantora fluminense-brasiliense transitar com naturalidade pelas mais diversas vertentes da música popular brasileira.
"Tenho necessidade interior de me expressar. Escrevo sobre quase tudo que vejo e vou armazenando. Em alguns casos, esses escritos viram letras de música. Quando iniciei o processo de criação do novo álbum, tinha 25 letras prontas, e aà fui mandando para compositores pelos quais tenho admiração, ou alguma proximidade. Só para o Chico César, que é um artista da minha geração e de quem me tornei amiga, enviei cinco. Ele musicou todas e escolhi Esporte fino confortável, um funk brasileiro, suingado e brincalhão", conta Zélia.
Chico fez mais: sugeriu a Zélia a mudança de nome de Xifópagas, uma canção inédita de Itamar Assumpção e Alice Ruiz, que virou Duas namoradas. "Pedi a autorização da Alice para dar outro tÃtulo à música e ela autorizou. Ficou mais instigante. Alguém pode até imaginar outra coisa, mas a letra fala do namoro entre a música e a poesia", comenta sorrindo.
Intuitiva, ela costuma acertar em cheio na escolha dos parceiros. Foi assim com John Ulhoa (guitarrista do Pato Fu, que divide com Fernanda Takay a maioria das músicas da banda), um dos produtores do Pelo sabor do gesto, com quem fez Tudo sobre você. "Como produtor e parceiro, John trouxe frescor, leveza e doçura ao disco. Já o Beto Villares, que havia trabalhado comigo em Sortimento (2000), traz sempre um tom arrojado e inesperado. Ele é um músico que se joga sem rede de segurança nas canções, tocando desde piano até o tal do guitarron".
Bate bola
Além da sonoridade obtida com o auxÃlio luxuoso de Ulhôa e Villares, o CD traz, como novidades, o bate bola de Zélia com os jovens compositores Edu Tedeschi, coautor de Aberto e Nem tudo; e Marcelo Jeneci, que fez com ela Todos os verbos. "Conheci o Edu na plateia de um show de Paula Lima, há três anos. Ele tem personalidade e firmeza para compor. O Jeneci, meu mais novo amigo de infância, entrou em campo aos 46 minutos do segundo tempo com Todos os verbos, que fizemos quando o disco já estava praticamente pronto. A melodia que ele criou parece saÃda de uma caixinha de música antiga, com atmosfera retrô, embora soe moderna", comenta.
Dante Ozzetti (irmão de Ná Ozzetti e parceiro de Luiz Tatit) é outro que está com Zélia pela primeira vez. Eles assinam Se eu fosse. "Sempre fui fã do Dante e de seus caminhos musicais, que têm um sotaque paulista com o qual me identifico". Zeca Baleiro é outro parceiro novo, mas aà há a inversão de papel, como explica Zélia: "Zeca me mandou uma letra linda, Se um dia me quiseres, sem saber que eu quase não faço melodias. Então, eu fiz, pois não podia perder a oportunidade de ter nesse trabalho palavras que me tocaram tanto".
Os dois se conheceram num programa de tevê e a cantora se ofereceu para participar do projeto em que o cantor e compositor maranhense musicou poemas de Hilda Hilst. Aà houve a aproximação, que resultou na primeira parceria. Com Moska, parceiro em outras canções, Zélia compôs Sinto encanto. É dela também as duas versões incluÃdas no novo álbum. São as belas Boas razões (que abre o repertório) e a que dá tÃtulo ao CD, ambas compostas pelo francês Alex Beaupais para a trilha do cult movie Canções de amor. As duas músicas foram apresentadas pelo DJ Zé Pedro e liberadas pelo autor depois de contato no MySpace.
Ouça trecho da música Boas Razões