postado em 21/06/2009 10:01
Se é ou não é uma gracinha, o público é quem sempre decide assim que liga o televisor. Hebe Camargo, de 80 anos, é uma incógnita de desafiar estudiosos de TV. Ao mesmo tempo que sofre com uma audiência que cai nos números de Ibope e não se renova nos sofás do telespectador, é a loira a que toda aspirante a apresentadora ainda deseja ser. Não há como negar que seu público sofre ameaça de extinção por não se renovar há décadas, mas Hebe é a única mulher de emprego vitalício e carta branca na emissora de Sílvio Santos.
Hebe não está só. A televisão mudou, as famílias mudaram, mas um time de pesos pesados continua o mesmo. Sílvio Santos, Raul Gil, Fausto Silva e a "caçulinha" Xuxa são personagens de um mundo cada vez mais antagônico. Vivem entre o bordão que criaram em algum lugar do século passado e a necessidade de atingir pessoas que nasceram depois do ano 2000. São ainda grandes atrações, de salários polpudos em época de crise, mas que vivem dos quilos de competência acumulados no passado. Intriga armada, resta saber: é a TV moderna que precisa deles ou são eles que ainda precisam da TV moderna?
Identificação
A professora Maria Thereza Fraga Rocco, especialista do núcleo de teledramaturgia da Universidade de São Paulo (USP), explica que a sobrevivência dessas atrações se deve a um fenômeno interessante: a memória afetiva. "Eles criaram personagens com os quais os telespectadores se identificam. O carisma, os jargões, o jeito que têm acabaram fazendo com que se tornassem familiares", observa. Desta forma, Fausto Silva não é nada bobo quando despreza a originalidade e repete para o convidado de seu quadro Arquivo confidencial que, "neste momento, deve estar passando um filme na sua cabeça". A repetição, mesmo a de "gorduras" como "ô loco, meu", é a arma dos apresentadores vitalícios, que precisam criar suas marcas a todo custo.
"Cada um tem um estilo. O Sílvio Santos e a Hebe, por exemplo, são bem parecidos. Aliás, o Sílvio só mantém a Hebe na TV para ter uma âncora mais velha, de sua geração, à frente de um programa como o dele. E mais: ele sabe que a Hebe não deixa o SBT por nada. Afinal, o tempo de ela mudar de emissora também já passou", continua Maria Thereza.
Raul Gil se apega ao pilar da experiência para explicar a longevidade. Nas próprias palavras, a idade é um dos fatores que o mantêm vivo na TV. "Assim como o Sílvio Santos e a Hebe, estou na TV com 71 anos, porque a idade passa credibilidade ao público", diz o homem que não se cansa de, entre outros quadros, pedir aos convidados que tirem ou não o chapéu às celebridades. Raul segue com sua lógica: "A Adriane Galisteu, por exemplo, é uma boa apresentadora, tem tudo para substituir a Hebe, mas não convence com aquela sua aparência jovem". Maria Thereza é de novo implacável: "O tempo de Raul Gil já passou". E a essa Raul tinha de responder: "Meu tempo não passou. Se tivesse passado, eu não estaria na TV aos 71 anos. E mais: qual é o programa hoje que é novo? Nada se cria, tudo se copia".
Sorte dos imitadores. Tom Cavalcante, que usa a repetição de suas "vítimas" para fazê-las virar caricaturas, defende a classe dos comunicadores vitalícios e afirma que, se esses nomes são reconhecidos ao ponto de serem imitados, é porque conquistaram o público criando uma marca - ainda que ela se repita à exaustão. Mais: ele diz que figuras como Sílvio Santos souberam trazer suas manias e seus jargões para a TV moderna. "O que os torna perenes é o fato de terem evoluído com o tempo", conclui Cavalcante. Wellington Muniz, o Ceará do Pânico na TV!, engrossa o coro de Tom e diz que Sílvio ainda convence porque sabe reinventar seus trejeitos.