postado em 24/06/2009 09:44
Walcyr Carrasco afirmou no início de Caras e bocas que a novela das sete da Globo chegaria com doses de humor. O que faltou dizer foi que tanta descontração chegaria a ser over, a partir de certo momento. O folhetim usa e abusa de situações bem-humoradas, deixando a desejar na consistência do texto. As cenas curtas e rápidas e com pitadas engraçadas aparecem a toda hora. O que dá, indiscutivelmente, ritmo acelerado ao folhetim. Mesmo assim, só o que não anda para a frente é a história do casal protagonista Dafne (Flavia Alessandra) e Gabriel (Malvino Salvador).
É óbvio que o telespectador só verá os dois juntos no final da novela. E, enquanto isso não acontece, Dafne vai gastando o dinheiro que ainda tem em casamentos que nunca acontecem. Até ficar com Gabriel, a dona da Galeria de Artes terá se casado com todo o elenco, caso Walcyr Carrasco goste da brincadeira do casa-não-casa. Não dá para levar fé em uma história dessas. Quem precisa realmente se juntar para assumir um negócio milionário de família recorrerá a um cartório mais próximo e sem tantas firulas.
O famoso déjà-vu também acontece na trama. Ingrid Guimarães, como a empresária Simone, não consegue dar ar de novidade à personagem e ainda repete os mesmos bordões que utilizava em Sob nova direção, como, por exemplo, o "amada". Isabelle Drummond cresceu. Mas parece ter tirado somente o figurino e a maquiagem da boneca Emília, do Sítio do pica-pau amarelo. A petulância da mimada Bianca, vivida pela atriz, é obviamente a mesma do impagável personagem criado por Monteiro Lobato. E ainda carrega um bordão chato. Realmente, "é treva", como a intérprete diz a torto e a direito. Do lado da luz está Marcos Pasquim. O intérprete do pintor Dennis tem conseguido se desvencilhar do tipo descamisado e sem conteúdo. No mesmo núcleo, David Lucas mostra boa desenvoltura ao interpretar o bem-resolvido Espeto. Miguel Rômulo consegue dar trejeitos originais ao adolescente nerd Felipe.
Com todas as características que a novela possui, exageradas ou não, fica evidente o toque do diretor Jorge Fernando, que tem o dom de imprimir sua marca descontraída em tudo o que faz. Em Sete pecados acontecia o mesmo. A diferença desta vez é que todos os exageros acabam dando certo. O resultado se vê nos 31 pontos de audiência que o folhetim tem alcançado. Está certo que a trama de Walcyr tem mais consistência que a antecessora Três irmãs, mas ainda está dois tons acima do normal. O horário das sete é visto como leve, por atrair audiência jovem. Mas nem por isso deve exibir uma história tão rasa como um pires.