Diversão e Arte

Músico grego Yanni lança álbum e quer vir ao Brasil

Fenômeno de vendas, Yanni fala ao Correio sobre o disco que tem a participação de quatro cantores internacionais, a exemplo do tenor brasileiro Nathan Pacheco

postado em 28/06/2009 15:24 / atualizado em 22/09/2020 10:34

O músico grego Yanni -- o nome de batismo é Yiannis Hrysomallis -- tem 54 anos e se diz um homem inspirado pela vida. Motivos não lhe faltam. Em 29 anos de carreira, ele acumula 35 discos de platina e de ouro e 20 milhões de fãs em todo o mundo. O álbum [SAIBAMAIS]Yanni Live at the Acropolis, lançado em 1994, levou-o ao estrelato. Suas músicas ganharam ainda mais destaque com os shows magníficos, com excelência em cenografia e jogo de luzes. Foi assim na apresentação diante da Acrópole, em Atenas, e do Taj Mahal, na Índia. O mais novo trabalho de Yanni acaba de chegar às lojas do Brasil. Com 17 faixas, o CD Voices traz quatro cantores versáteis que colocaram letra nas músicas de Yanni: o venezuelano Ender Thomas, o tenor brasileiro Nathan Pacheco e as norte-americanas Leslie Mills e Chloe. Em entrevista exclusiva ao Correio, por telefone, de Los Angeles, Yanni falou sobre o CD e revelou que em breve pretende se apresentar em palcos brasileiros -- no mais tardar, até o início do próximo ano. OUÇA Áudio da entrevista com Yanni Hrysomallis (em inglês) Trecho de "Until the last moment", no projeto Voices
Trecho de "Until the last moment", de Yanni Hrysomallis Como você define o projeto Voices? Esse é o mais desafiador trabalho já realizado por você? *Foi muito desafiador. Não sei se foi o mais desafiador, mas também foi uma espécie de ponto de partida, por causa dos vocais. Mas acho que o melhor modo de colocar esse trabalho é que foi muito divertido fazê-lo. Eu tenho trabalhado nesse projeto por 2 anos e meio. E foi muito divertido, por ter sido versátil e diferente de qualquer outra coisa. Mas como você conceituaria o Voices? Você trabalhava basicamente com a world music, com música instrumental. A colocação de letras nas músicas fez com que seu estilo mudasse muito? *Nós ficamos muito surpresos. No início, quando comecei a considerar pôr vozes nas melodias, o que eu me dei conta é de que ficaria muito óbvio depois de um certo tempo. Mas quando eu toco piano e outros instrumentos, eu essencialmente estou cantando do meu jeito. Isso porque minha música é baseada em melodia. Então, foi muito fácil colocar vozes nessas melodias. Ficamos muito surpresos como foi fácil, por exemplo, para Nathan Pacheco. Ele transformou algumas dessas músicas com sua voz de ópera. E isso foi feito com o mínimo esforço. Quando eu propus o projeto, eu estava muito cauteloso. Se não funcionasse, não teríamos de fazê-lo. Lembre-se de que começamos isso há dois anos e meio. É um trabalho bastante orgânico, nada foi forçado. Nós sabíamos, por exemplo, que uma música como Enchantment era perfeita para Nathan. Sabíamos que uma canção como The Keeper seria perfeita para Leslie Mills. Muitas vezes eu deixei os cantores pegarem algumas de minhas velhas melodias que eles amavam. Então, eu sabia que eles teriam paixão por essa música e que eles a interpretariam corretamente. Yanni pretende incluir o Brasil nova turnêVocê acredita que Voices é uma espécie de ponto de mutação em sua carreira ou pretende priorizar a música instrumental? *Eu estou aberto a qualquer coisa. Sou um artista e gosto de minha liberdade. Eu me diverti com esse projeto e estou o amando. Temos feito uma turnê pelos Estados Unidos, com cerca de 50 shows, e amei muito isso. Pretendo manter isso por algum tempo. Eu ainda faço música instrumental. Nós tocamos muitos instrumentos nos shows. O público é familiar com isso. Você sabe%u2026 Nos últimos dois anos e meio, eu escrevi várias peças para instrumentos. Em Voices, algumas dessas músicas instrumentais também estão no álbum. Eu gosto de ambos. E, como compositor, sou o homem mais feliz do mundo agora, porque tenho qualquer coisa que quero. A paleta é enorme. Eu posso usar qualquer instrumento que desejar, eu trabalho com alguns dos melhores músicos do mundo e eu tenho esses quatro incríveis cantores ao mesmo tempo. É como se um pintor tivesse quantas cores quisesse. Quando você e Rick Wake escolheram Chloe, Leslie Mills, Nathan Pacheco e Ender Thomas para esse projeto, o que vocês sabiam sobre esses cantores? Você seguiu algum método para selecioná-los? *Eu comecei a trabalhar com Chloe quando ela tinha 19 anos de idade. Eu trabalhei com a voz dela como fiz com Nathan. Eles vieram ao estúdio.Rick conheceu Chloe quando ela tinha 12 anos. Chloe tem uma voz tremenda, é muito versátil. Era impossível não notar que estávamos trabalhando com pessoas tão talentosas. Quando Nathan Pacheco veio ao estúdio e gravou sua primeira canção, ele me tocou profundamente. Eu disse: "Ok, vamos fazer mais uma" (risos) Isso ocorreu e Rick me trouxe Chloe. Ela tinha 19 anos e era também uma grande dançarina. Ela é tão talentosa e tão versátil, que pode variar de ópera a Janes Joplin. E então, Leslie Mills e sua voz sexy e sedosa. Uma das coisas mais importantes é que estávamos muito conscientes em não escolher cantores cujos tons de voz fossem similares. Quando Leslie veio com aquela voz, ela nos pareceu única, tão sensual e tão frágil. A pessoa mais difícil de se encontrar foi Ender Thomas. Levou um ano e meio para achá-lo. Eu queria alguém que tivesse uma voz no estilo rock n`roll, mas que também tivesse se desenvolvido o suficiente para compreender os ritmos espanhóis, do norte da África e, em alguma escala, os ritmos iranianos e do Oriente Médio. Ender é bastante versátil e sua voz é muito poderosa e cheia de paixão. Until the last moment é um dos maiores sucessos de sua carreira. Como você viu a nova versão, com Ender Thomas e Chloe? *Ah... Você sabe, eu estava particularmente preocupado com o que os fãs sentiriam. Mas foi bonita a forma como eles fizeram a música, foi algo com amor. Eu digo muitas vezes: a música é algo líquido. Ela evolui, se expande, não é uma única coisa. É como quando você assiste a um filme e você pensa em como pegar uma cena e fazê-la de um jeito diferente, e consegue obter diferentes elementos emocionais. O modo como eu a gravei o DVD Acrópoles, por exemplo, foi um momento muito bonito e é uma das peças favoritas entre as quais escrevi até hoje. Fazer duas versões -- uma em inglês e uma em espanhol -- foi algo muito poderoso e agora que a apresentamos diante de 50 audiências diferentes, eu sei que o público gostou e fico muito satisfeito. E quanto ao Brasil? Quando os seus fãs brasileiros terão o privilégio de assistir à turnê Voices? *Tão logo seja possível, eu realmente quero ir até o Brasil. Eu quase fui ao Brasil na década de 1980, mas as circunstâncias não me permitiram. Mas sei que estamos planejando uma ida ao Brasil agora. Sei que o povo brasileiro é muito poderoso, porque trabalho com alguns brasileiros: o Nathan Pacheco, o Cesar Lemos -- que me ajudou a produzir algumas músicas e toca guitarra de modo fantástico -- e o meu engenheiro de som Silvio Luis Richetto. Então, trabalhávamos e eles falavam sobre o Brasil, e me deixavam louco, ao dizerem como seria divertido aí em seu país e afirmavam que eu deveria ir logo até aí. Eu sei que temos muitos fãs aí no Brasil e nossa ida até aí será em breve. Não sei se será no fim deste ano, mas esperamos que até o início de 2010 possamos ir até aí. De onde vem tanta inspiração para compor as músicas? Você segue algum ritual ou método no momento da criação? *A vida realmente me inspira. Eu quero viver de forma aberta e tocante. A criatividade é como se fosse uma moldura de mim mesmo. É como estar em uma quadra para uma partida de basquete. É preciso ter um foco muito intenso. E eu aprendi a fazer isso muito bem nos últimos 30 anos, ao trabalhar com isso. Você precisa ter paixão. Eu sou emotivo, eu sinto as coisas muito intensamente e sei como me isolar e ser feliz. Eu não preciso ter muito barulho ao redor de mim para estar bem. Posso estar bem comigo mesmo em um quarto e escrever uma música. Quando eu crio, eu sou feliz. Não existe mais um ritual quando eu componho. Eu me encontro tranquilo no quarto, fecho os olhos e, poucos minutos depois, a música está lá. Voices traz ópera, a febre latina em Desire -- com Ender Thomas -- e ritmos pop. Como você vê essa mistura? O resultado o surpreendeu? *Não, porque tudo isso é minhas música. Ao longo dos anos, eu alcancei todos esses diferentes tipos de músicas, por causa da forma como eu me desenvolvi. Eu cresci na Grécia e fiquei exposto a músicas italianas, espanholas, norte-africanas, do Oriente Médio, do Irã, a muito rock n'roll. Os Beatles, o Led Zepellin... Quando vim para os Estados Unidos, fui exposto ao jazz e a outros tipos de músicas. Se você quer ser um compositor, acho que é muito bom estar exposto aos mais diferentes tipos possíveis de músicas. Então, quando eu escrevo a música, conscientemente eu não faço algo influenciado pelo rock n'roll ou por um som mais clássico. O que quero realmente é contar uma história, quero expressar uma emoção. Então, pego os instrumentos e o ritmo mais apropriados para expressar essa emoção. Você vê alguma diferença entre os fãs de sua música instrumental e os fãs de Voices? *Como eu já disse, foi algo muito orgânico sentir a música instrumental. Deixei que os garotos pegassem as músicas que eles amassem. Para mim, não é como se fossem vozes humanas, mas instrumentos. É como uma guitarra, um violino ou um violoncelo. E apenas acontece de elas (vozes) serem mais poderosas e expressivas do que os instrumentos. Usar a voz ou os instrumentos, eu não vejo muita diferença. A única diferença é a letra. E essa foi nossa reocupação: que as letras fossem bem feitas. Eu acho que funcionou. Deixei os cantores escreverem eles próprios a maior parte das músicas. Como eles sentiam tanta paixão pela música, eles entenderam a emoção da canção que eu já havia escrito 20 ou 30 anos atrás. Se o centro, a emoção principal permanecesse intacta, eu estaria bem com isso. Algumas vezes eu dizia a eles sobre o que a música era, algumas vezes não o fazia. Apenas dizia a eles para que escutassem a música, a sentissem e escrevessem o que sentiram. O que eu queria era que eles levassem paixão para a música. Quais são seus próximos projetos? *Agora eu quero levar o Voices para todo o mundo. Quero levá-lo à América Latina, Ásia. Pretendo fazer isso primeiro. Depois disso, ainda não sei. Estou aberto. Eu vou continuar. Eu realmente amo meus cantores e provavelmente vou fazer mais projetos com eles. Já gravei algumas músicas com um dos cantores. Quero que cada um tenha álbuns individuais comigo. Tenho trabalhado com eles por mais de dois anos. Temos gravado uma enorme quantidade de música. Eu trabalho o tempo todo. Quando vou ao estúdio, fico 16 horas lá.

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