postado em 29/06/2009 09:52
Na contracapa da história em quadrinhos Sábado dos meus amores, de Marcello Quintanilha, o compositor Aldir Blanc se refere ao desenhista como "o Rosselini tupinuquim, com seu estilo realista, seus temas brasileiríssimos, quadrinhos pra voz de Ademilde Fonseca". A comparação com o cineasta italiano e a cantora potiguar (a rainha do chorinho) faz todo sentido. Ao longo das páginas do álbum, Quintanilha leva o leitor para uma viagem a um Brasil antigo, mais precisamente, entre as décadas de 1950 e 1960. "As histórias nascem do meu interesse permanente por literatura, fotografia, música, especialmente dessas décadas", conta o autor.
Longe de mero romantismo nostálgico, ele produziu pequenos contos atemporais sobre pessoas comuns: um fanático torcedor do Flamengo, um faz-tudo funcionário de circo, uma apaixonada moça recém-alfabetizada, um carregador que trabalha num depósito. Tudo muito real, sensível e, quando é o caso, bem humorado. As ilustrações chamam a atenção pelo refinamento dos detalhes. Carros, roupas, objetos, cenários... a reconstituição de época é irretocável. A narrativa é cinematográfica e, ao mesmo tempo que cada quadro poderia ser uma fotografia, têm incrível noção de movimento. O coloquialismo da linguagem ajuda a incutir humanidade nos personagens. O resultado é comovente e divertido.
"O quadrinho para mim não se define pela união entre o, digamos, 'código texto' e o 'código imagem', porque eu os entendo como um só elemento. Trabalho no sentido de que essa concepção chegue ao leitor em um nível que vai além da leitura. O verdadeiro desafio está em estabelecer a confiança necessária com o leitor para que isso aconteça", explica Quintanilha.
Nascido em Niterói, em 1971, ele é conhecido por suas eventuais histórias para a revista Heavy Metal, por seu primeiro trabalho individual, Fealdade de Fabiano Gorila, e pela capa do disco A invasão do sagaz homem fumaça, da banda Planet Hemp. Atualmente, o artista mora em Barcelona. Além de colaborar com os jornais El Pais e La Vanguardia, ilustra a série Sept balles pour Oxford (roteirizada pelo argentino Jorge Zentner e pelo catalão Montecarlo), publicado pela editora belga Editions du Lombard.