postado em 30/06/2009 10:00
A mostra Cinema é coisa de maluco, que começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), apresenta 26 filmes que tratam direta ou indiretamente de um mesmo tema: a loucura. De O gabinete do Dr. Caligari (1919) a Os idiotas (1998), a programação não se limita a determinados gêneros ou épocas. O número de tÃtulos parece grande. Mas, para o curador Daniel Caetano, não seria complicado definir uma outra seleção de longas-metragens sobre esse assunto - e tão parruda quanto. "A cada semana encontramos filmes com personagens neuróticos, psicóticos e perversos. A loucura sempre esteve muito presente no cinema", afirma.
Em conversas com a psicóloga Bianca Novaes, mestre em Teoria PsicanalÃtica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Daniel começava a definir o perfil da mostra: dividida em cinco módulos (neurose, perversão, psicose, hospÃcio e sociedade), ela reúne produções que observam certos comportamentos definidos pela Psicanálise. Na hora de escolher os tÃtulos, e diante de um repertório tão extenso de opções, pesou o gosto pelo cinema. "Acima de tudo, são filmes de grande força cinematográfica", ressalta Daniel, codiretor do filme coletivo Conceição - Autor bom é autor morto (2007).
Para o cinéfilo, será a oportunidade de ver ou rever, em pelÃcula, obras-primas como Crepúsculo dos deuses (1950), de Billy Wilder, A história de Adèle H. (1975), de François Truffaut, e A bela da tarde (1967), de Luis Buñuel. Já o público que procura na tela investigações da psiquê humana encontrarão fascinantes "estudos de caso" em personagens como Norman Bates (de Psicose), o sorveteiro João de Deus (de A comédia de Deus) e o herói brasileiro de Louco por cinema. "No geral, a arte traz olhares para o que não é certinho, para o que é difÃcil de compreender. Tratar de pessoas que estão no limite sempre foi uma tendência muito forte. Nos revela que é normal ser diferente", observa.
Daniel encontrou no documentário inglês The pervert's guide to cinema, de 2006, o ponto de partida para a composição da mostra - que será exibido em DVD. Dirigido por Sophie Fiennes, o longa de 2h30 se deixa conduzir pelas reflexões do filósofo, sociólogo e psicoanalista esloveno Slavoj Zizek, que interpreta cineastas como Alfred Hitchcock e Charlie Chaplin à luz da Psicanálise. "O interessante é que o filme dá uma outra perspectiva para o cinema", comenta. Outra raridade da programação é o polêmico Titcut follies (1967), de Frederick Wiseman, que desnuda com imagens duras o cotidiano de uma instituição psiquiátrica. "A loucura aà também é da sociedade", nota Daniel.