Diversão e Arte

Festa cheia de rock e rap marcou o fim de semana em Recanto das Emas

postado em 30/06/2009 10:18
Mão pra cima, mão pra baixo. Amontoados em frente do palco, é assim que os fãs do rap nacional aplaudem as músicas sob o comando dos vocalistas e ao ritmo das picapes. Na noite gelada de domingo, no Recanto das Emas, aproximadamente 500 pessoas lotaram a Quadra 101, durante a 6ª edição do Poerão do Rock, isso mesmo, "poerão". Grupos de longa estrada e gente nova subiram ao palco, tocaram, cantaram por mais de cinco horas acompanhados do coro da plateia. O festival começou no sábado com shows de bandas locais de rock e com o 3º campeonato de skate da cidade. Os agora dinossauros Raimundos encerraram a noite. No domingo, oito grupos de rap do Distrito Federal e um de São Paulo se revezaram no palco. "O evento é para os artistas mostrarem a cara. É uma grande festa para os jovens do Recanto", disse o produtor Tiago Barros, 20 anos. O local improvisado para a pista de skate, em uma antiga construção desativada, serviu de arquibancada. Mas o agito estava mesmo em frente ao palco. Com bermudões, camisetas largas e compridas, bonés, correntes e gestos, meninos e meninas acompanharam as rimas que, em sua maioria, falavam de temas que eles conhecem bem: a realidade na periferia. Na noite do rap, houve espaço para o reggae também. O grupo Caffé Roots, de Taguatinga, foi o primeiro a subir ao palco, às 19h. Há quatro anos tocando, a banda esquentou o público com sucessos de Bob Marley a Charlie Brown Jr. "A gente sempre acordava cedo aos domingos para ensaiar e tomava café junto, daí veio o nome. Já tocamos em eventos sertanejos, baianos. E hoje estamos ao lado do rap", disse Gilberto Guiotti, 28 anos, um dos sete integrantes do grupo. Durante o show, eles distribuíram de graça o primeiro CD demo. Os Pacificadores, de Samambaia, entraram em seguida. "Somos da paz, o nome veio da Bíblia", explica um dos vocalistas Iassomy Santos, 35. O grupo, com 10 anos de estrada e um CD gravado, canta o otimismo. "Também tratamos do que vemos e vivemos na periferia, mas de uma forma para cima. Se, de 100 pessoas, conseguirmos mudar a vida de uma, para mim já está bom", explica Fábio da Silva, 27, o Neguinho. Em seguida, Rhaymmer Amim, 21 e Lindemberg Pereira, 19, deram uma canja como convidados, cantando um rap de batida mais pesada. "Do romance à tragédia. Queremos conscientizar as pessoas. E aproveitamos eventos como esse", disse Rhaymmer. Voz sem Medo, de Brazlândia, continuou a apresentação. "Eu ouço a letra deles e me identifico. Acho que o rap pode sim mudar o pensamento das pessoas", opina o estudante Wesley da Silva, 19. O Voz Sem Medo, que está na estrada há uma década, tem dois CDs gravados. "Seguimos a linha do protesto e não por acaso o nome do grupo surgiu de um jornal que existia em Brazlândia. Significa que temos coragem de falar", explica Máximo da Silva, 35, o DJ Marola. Com 12 anos de vida, o Comunicação Racial também participou do evento. "Comunicação Racial é ter voz ativa. Fazemos um rap nacional e consciente. Nós falamos para o jovem que é importante curtir a paz. Muitos amigos nossos que não tiveram medo do perigo não estão mais aqui", explica Jean Sousa, 33, o DJ Jean. O Ocorrência Criminal, do Recanto das Emas, com 15 anos de existência, chamou o público para mais reflexão. "O nosso nome já diz. Não queremos que as pessoas cometam os mesmos erros e que esses erros se tornem ocorrência policial", disse Haroldo dos Santos, 27, o Dinho. Entre uma apresentação e outra, o público foi convidado a participar no palco da Batalha de MCs, na qual o autor das melhores rimas vence. "Sem barulho não tem show". Foi assim que os rappers do Realidade Cruel, de São Paulo, surgiram no palco, por volta das 22h30. A última e mais esperada atração da noite tocou sucessos dos últimos 14 anos como Dia de Visita, Quem Vê Cara não Vê Coração e a música de trabalho Resgata. "Falamos de desemprego, falta de saneamento básico, política e polícia corrupta. O público incorpora o show com a gente", disse Marcos da Silva, 34, o DJ Bola 8, pela terceira vez no DF. "Brasília, hoje, é a capital do rap porque tem eventos, gravadoras e divulgação. São Paulo já está fraco o nesse sentido", acredita o DJ.

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