postado em 02/07/2009 09:33
A primeira coisa que chama atenção na música de Ellen Oléria é a naturalidade com que a cantora emite a voz, aparentemente sem esforço, ainda que soe forte. A segunda é a facilidade para adequar essa voz a diferentes estilos. Passa pelo forró, samba, soul e o que mais vier sem nunca parecer inadequada. O que não é para qualquer um - Cássia Eller, por exemplo, a possuía. Usadas sem parcimônia nas apresentações ao vivo de Ellen, essas qualidades também podem ser percebidas em seu disco de estreia, Peça, embora o repertório, quase todo limitado a composições próprias, acabe por restringi-la um pouco.
O repertório desigual é provavelmente o único pecado de um disco de produção bem cuidada. Músicas como Posso perguntar?, Brado e Natural luz parecem pequenas para a grandeza da intérprete. Por outro lado, há momentos inspirados como a contagiante levada soul/funk de Feira da Ceilândia e Pedro falando ao reflexo, o intimismo blue de Ato II ou samba à maneira de Elis Regina em Só pra constar, que permitem à cantora mostrar com mais clareza do que é capaz.
Dona de um suingue incomum %u2014 trunfo ainda mais forte quando aliado à sua bela estampa negra %u2014, Ellen acerta também na escolha da única música que não é de sua autoria, Forró de tamanco (Antônio Barros e Ceceu), em versão que moderniza o forró e se alinha totalmente com o discurso antidiscriminatório da cantora ("no meu forró entra preto e branco"). Discurso que, justiça seja feita, apesar de incisivo, nunca cai na repetição panfletária.
Por isso, mesmo com senões, Peça ainda configura como um bom cartão de apresentação da cantora brasiliense, que depois de afiar sua música em palcos dos quatro cantos da cidade, parece mais do que pronta para ganhar a estrada.