Paraty (RJ) ; O primeiro dia de debates da 7; Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começou com uma novidade. Pela primeira vez, o evento teve uma sessão inteira consagrada aos quadrinhos brasileiros. Rafael Grampá, Fábio Moon, Rafael Coutinho e Gabriel Bá subiram ao palco para falar de um gênero que arrebata principalmente jovens e adolescentes. Mas foi o último debate da noite que encheu os 850 lugares da Tenda dos Autores, destinada a receber os convidados para palestras e conversas com o público. O biólogo Richard Dawkins, autor de Deus, um Delírio, arrancou aplausos ao expor suas reflexões sobre a origem do homem.
Para celebrar o bicentenário do nascimento de Charles Darwin, autor da teoria da evolução, Dawkins lança no Brasil A grande história da evolução, o maior estudo já feito sobre o pensamento do formulador da idéia da seleção natural e da sobrevivência das espécies. O biólogo britânico é um dos ateus mais famosos do mundo da ciência e defende com veemência a inexistência de Deus. Durante a palestra, ele contou que estruturou o livro como se fosse uma grande viagem de romeiros em busca da história da origem do homem. A romaria seria realizada de trás para frente, como se os tempos atuais fossem o fim do caminho da evolução e o homem precisasse fazer uma viagem ao passado para compreender de onde veio.
Questionado pelo mediador do debate sobre o objetivo da vida para aqueles que não creem em nenhuma religião, Dawkins foi científico. ;Um dos objetivos é a propagação do DNA e isso é uma inspiração poética, mas cada indivíduo vai construir seu objetivo;, disse, lembrando que ele é um evolucionista e que, de acordo com a ciência, não há evidências nem de Deus nem da vida após a morte. Indagado pela platéia sobre o medo de morrer e o que diria caso encontrasse uma divindade após a morte, Dawkins foi irônico: ;Eu perguntaria: ;que deus é você?;. E depois diria que não tenho evidências suficientes para acreditar nele.;
Chineses
Antes do britânico subiram ao palco os chineses Xinran e Ma Jian para o debate China no divã. Autora do beste-seller As boas mulheres da China, Xinran aproveitou a Flip para lançar Testemunhas da China, seu terceiro livro em português e uma grande reportagem sobre pessoas comuns que viveram os mais importantes acontecimentos históricos da China nos últimos 50 anos. ;Levei duas décadas para fazer esse livro. Foi publicado por lá, mas, dois meses depois de sair, quando comecei a dar entrevistas, ele foi retirado de circulação;, contou a autora, que hoje vive na Inglaterra, mas tem na história do país natal e especialmente na condição das mulheres o alvo de suas pesquisas.
Ma Jian, que há 15 anos se mudou para a Inglaterra, lembrou que muita coisa mudou na terra natal desde que estudantes tomaram a Praça da Paz Celestial em protesto pela liberdade de expressão, há duas décadas. Pequim em coma, o primeiro livro de Ma Jian em português, conta a história de um estudante envolvido nos protestos. ;Temos 5 mil anos de civilização e nunca conseguimos realmente construir uma sociedade civilizada. Estamos mais uma vez chegando a um momento de mudança, em que cada chinês tem de se tornar um indivíduo que pensa.; Segundo o autor, a China comunista e fechada politicamente vem passando por processos de abertura econômica intensos, o que tem aumentado as diferenças sociais e gerado um sistema selvagem de exploração dos mais pobres e deterioração ambiental.