Diversão e Arte

Brasilienses mantém o ritual de ouvir long plays

Amantes da música ganham novo ânimo com o renascimento da fábrica Polysom, no Rio, a única da América Latina. No exterior, os bolachões estão em alta

postado em 04/07/2009 09:00

Foi-se o tempo em que botar um disco de vinil para rodar na vitrola era algo corriqueiro. Hoje, tirar o bolachão da capa, encaixá-lo no prato do toca-discos e colocar a agulha em cima para a música começar a surgir pelas caixas de som é quase um ritual. Os long plays, no entanto, nunca saíram de moda. Andaram meio sumidos, é verdade, mas sempre tiveram seus adeptos, para quem não faltam motivos para apreciá-los.

[SAIBAMAIS]Lançado em 1948, o disco feito de vinil (em substituição ao material utilizado anteriormente, a goma-laca) completou 50 anos em 2008. Mas, pelo menos no Brasil, não havia motivos para celebrar o cinquentenário. A Polysom, única fábrica que ainda produzia os vinis no país, fechou as portas. A demanda das grandes gravadoras e dos selos independentes não era suficiente para manter o negócio. As tiragens dos LPs, pequenas, encareciam o produto final, afastando o possível consumidor.

Foi preciso encerrar um ciclo de cinco décadas para que o vinil ;renascesse; por aqui. Recentemente, a Polysom foi adquirida pelos sócios da gravadora carioca Deckdisc. As reformas no local já estão em andamento e, possivelmente, ainda em 2009, serão lançados os primeiros vinis. O empresário João Augusto, um dos novos proprietários, explica que a Deckdisc será tão cliente da fábrica quanto as gravadoras interessadas em lançar discos de vinil. ;O objetivo é atender a todo o mercado, sem quaisquer preferências ou distinções, mesmo porque estamos cientes de sermos a única fábrica do tipo na América Latina.;

Durante muitos anos, os brasilienses interessados em comprar um LP ou recorriam às encomendas pela internet ou iam a algum dos sebos da cidade ; no segundo caso, as compras ficavam limitadas ao acervo disponível nas lojas. ;O legal é que, nesses lugares, se você estiver com sorte, encontra muita coisa boa e num preço acessível;, avalia o estudante Fabrício Melo, 25 anos. ;Comprei recentemente o Som, sangue e raça, disco de 1971, de Don Salvador e Abolição. Saiu por R$ 50, zeradaço. Lá fora, cobram até R$ 400 por ele.;

O crescente interesse pelos discos de vinil no exterior e o número cada vez maior de lançamentos refletiram também por aqui. ;Quando houve esse ;retorno; do vinil, comecei a comprar edições importadas de discos que já tinham em versões antigas em vinil ou CD; discos significativos para mim, coisas da década de 1960, clássicos do rock, do jazz e do blues;, conta o servidor aposentado e músico Antônio Augusto de Almeida Neto, 58 anos.

Consumidores de música como ele têm, atualmente, duas lojas em Brasília para comprar novos bolachões: a Modern Music e a Livraria Cultura. ;Percebemos uma tendência no exterior: os discos têm lançamentos simultâneos em vários formatos, CD, vinil e digital;, relata o diretor de marketing da Cultura, Fábio Herz. ;Nem só o audiófilo ou o DJ compram vinil, mas também o consumidor mais jovem, o mesmo que usa iPod e que nunca tinha visto um LP antes. Não existe um comportamento linear quanto a isso;, continua. Até maio, a rede vendeu 70% mais vinis do que em todo o ano passado.

A qualidade sonora é o principal motivo festejado pelos entusiastas. ;A tecnologia de hoje é melhor do que a de antigamente. Mas tenho edições do mesmo disco e a diferença é incrível. O som fica mais puro, quente, dá para perceber detalhes que não eram notados nem no CD;, diz Antônio Augusto. Quanto a esse aspecto, o diplomata e colecionador de discos Sérgio Bath, 51, reforça que é preciso ficar sempre atento quanto às reedições. ;Tem muita malandragem nessa história, como discos que não correspondem à gramatura indicada na capa ou feitos a partir da matriz do CD, o que é um contra-senso.; Enquanto o futuro do compact disc ainda suscita muita discussão, uma coisa é certa: o vinil tem uma longa vida pela frente.

Amantes da música ganham novo ânimo com o renascimento da fábrica Polysom, no Rio, a única da América Latina. No exterior, os bolachões estão em alta

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