Diversão e Arte

Livro conta a trajetória do herói dos quatrinhos Tex

postado em 07/07/2009 08:00
Você pode até nunca ter lido uma história de Tex, mas certamente já bateu os olhos na capa de algum gibi do personagem. Afinal de contas, as histórias em quadrinhos do cowboy (criado na Itália, em 1948, pelo roteirista Gian Luigi Bonelli e pelo desenhista Aurelio Galleppini) são publicadas no Brasil desde a década de 1950 e, ininterruptamente, desde 1971. O personagem é facilmente reconhecido pela roupa: camisa amarela, calça azul, chapéu na cabeça, lenço no pescoço. Nas bancas brasileiras, a longevidade do herói só rivaliza com a da Turma da Mônica (a revista da dentucinha circula direto desde 1970). A popularidade de Tex o tornou um autêntico fenômeno editorial no Brasil ; onde, hoje em dia, são publicadas mais revistas do personagem que em seu país de origem. E esse sucesso que o jornalista baiano (radicado em São Paulo desde 1997) Gonçalo Júnior investiga em O mocinho do Brasil.

Principal referência brasileira no estudo das HQs na atualidade, Gonçalo é conhecido pela pesquisa minuciosa que resulta em seus livros. Ele é autor, por exemplo, do essencial A guerra dos gibis (Cia. das Letras, 2004), sobre a chegada e as primeiras cinco décadas das histórias em quadrinhos no Brasil. Em seu novo livro, o esmero não é diferente. O autor destrincha a passagem de Tex pelas editoras nacionais que já o publicaram (Vecchi, RGE/Globo e Mythos, a atual), apresentando fatos, curiosidades e dados biográficos. Cada etapa é acompanhada de depoimentos e ilustrações. Uma seção em cores, no fim do livro, apresenta todas as capas de Júnior, a primeira a publicar Tex no Brasil. Paralelamente, a trajetória do personagem, Gonçalo traça um panorama dos fumetti, como são conhecidos os quadrinhos na Itália, e sua publicação por aqui ; o que torna a leitura interessante também para quem não é, necessariamente, um fã de Tex.

[SAIBAMAIS]O conteúdo de O mocinho do Brasil estava pronto desde 2002. Naquele ano, parte do livro foi publicada em uma edição comemorativa dos 50 anos de Tex no Brasil (que saiu, na verdade, 51 anos após a estreia nacional). ;Na época, os dois maiores desafios foram ter acesso à coleção completa de Júnior (primeira publicação a contar com o cowboy em suas páginas) e entrevistar alguém que tivesse participado de sua produção na década de 1950. Consegui os dois propósitos. Entrevistei Getúlio Delphim, que fez inúmeras capas da revista;, conta o autor. ;Este livro é uma provocação minha aos prepotentes e arrogantes metidos a entendidos de quadrinhos no Brasil. São os caras que consideram Tex um subproduto descartável, algo consumido por leitores pouco letrados;, esbraveja Gonçalo. ;Tex é melhor e mais divertido do que a maioria dos super-heróis produzidos atualmente;, defende.

O público alvo do Tex é diferenciado dos outros, afirma o servidor público Nélio Oliveira, 35 anos, assíduo leitor de quadrinhos italianos. ;É geralmente um leitor mais velho, mais interessado num roteiro consistente do que numa história de aventura pura e simples. Tendo isso em mente, o que faz as histórias serem apreciadas é uma regularidade sem par em outro tipo de publicação. O leitor médio sabe que ele pode esperar algumas atitudes. O Tex, ao contrário de outros personagens, tem o caráter bem definido;, continua. Essa característica ajuda os novos leitores e acompanhar as aventuras. ;Você não precisa saber a cronologia do personagem para apreciar uma história dele. Você pode pegar qualquer revista dele na banca para ler e vai entender tudo. É faroeste bang-bang ;para meninos;, bem na tradição dos filmes de western. Diversão garantida;, avalia o artista plástico Lucas Gehre, 27 anos. ;A forma segura na condução dos textos e roteiros sempre me deu a certeza de que com Tex haveria uma linha firme de argumentação na construção das histórias que nunca seria quebrada;, elogia Gervásio Santana de Freitas, do site TexBR. Ao que tudo indica, tiroteio após tiroteio, Tex continuará por um bom tempo sua cavalgada pelas boas histórias.

; Quem é quem

<i>O MOCINHO DO BRASIL %u2014 A HISTÓRIA DE FENÔMENO EDITORIAL CHAMADO TEX</i><BR>De Gonçalo Júnior. 212 páginas. Lançamento Editora Laços. R$ 39,90Tex
Dono de um inabalável senso de justiça, o ranger (agente da lei) Tex Willer está pronto a ajudar qualquer um numa situação de perigo. Rápido no gatilho, habilidoso com os punhos e sempre com um semblante sério, o cowboy é temido pelos foras-da-lei e respeitados tanto pelo homem branco quanto pelos peles vermelhas ; aliás, o grande amor de Tex é a índia Lírio Branco, com quem teve um filho. Seu principal companheiros de aventura é Kit Carson.

Gian Luigi Bonelli
Atualmente, as histórias do personagem são escritas por Sergio Bonelli (filho do criador do herói, Giovanni Luigi Bonelli) e, eventualmente, roteiristas convidados. Astros das HQs, como Ivo Milazzo, Joe Kubert, Jordi Bernet e José Ortiz já desenharam o personagem. No entanto, ele é mais conhecido no traço de seu co-criador, o ilustrador Aurelio Galleppini.

Gonçalo Júnior
Pesquisador de quadrinhos, artes gráficas e televisão, o jornalista Gonçalo Júnior já lançou, entre outros, os livros País da TV (Conrad), Alceu Penna e as garotas do Brasil (Cluq), A guerra dos gibis (Cia. das Letras), Benicio (Cluq), Tentação à italiana (Opera Graphica), O homem-Abril (Opera Graphica), Enciclopédia dos monstros (Ediouro).

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