Diversão e Arte

Exposição de Elder Rocha em cartaz no CCBB resume as duas décadas de trabalho do artista

Nahima Maciel
postado em 07/07/2009 08:20
Elder Rocha: A imagem é familiar. Já foi vista em alguma revista, em ilustrações de livros antigos ou gravura de traços finos e negros. Ao ganhar a tela, assume contornos ampliados e parece derreter, como se a liquidez da tinta escorresse após formar a figura. O artista Elder Rocha não inventou as formas estampadas nas pinturas, desenhos e instalações de Justaposição polar, exposição com 63 obras com curadoria de Cristiana Tejo em cartaz a partir de hoje no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Mas inventou para elas uma nova maneira de enxergar um universo de referências visuais um tanto comum e familiar à maioria do público.

Os trabalhos produzidos entre a segunda metade do ano passado e os últimos meses são inéditos e formam um resumo de duas décadas de trabalho do artista, que nasceu em Goiânia e dá aulas de pintura na Universidade de Brasília desde 1993. As obras não destoam das composições nas quais ele costuma mergulhar desde 2003, quando começou a organizar e sobrepor na pintura e em instalações imagens pescadas num repertório universal. ;Justaposição polar não é uma mudança, mas é fruto de um depuramento de ideias. Foi construído para ser ambíguo, para criar uma zona na qual as pessoas podem exercitar a possibilidade mental de narrativas ou não narrativas;, avisa.

[SAIBAMAIS]A bagagem visual do espectador tem fundamental importância na proposta de Rocha. A partir da impossibilidade de controlar os mecanismos interpretativos de cada um, o artista aposta na construção particular que cada visitante é capaz de elaborar ao juntar as figuras familiares com as próprias experiências. ;Para mim é importante criar um suporte que gere infinitas possibilidades de construção mental. O trabalho se completa com a presença da pessoa. Sem o espectador, o trabalho não existe. Seleciono imagens que já existem no imaginário da gente porque gostaria que elas ativassem a memória da pessoa. Cada um tem uma história de vida e isso amplia a leitura do trabalho.; O artista deseja ativar a memória do visitante como se fosse um gatilho. Ao reconhecer algumas das figuras pintadas, o conjunto narrativo proposto por Rocha seria transportado para o mundo individual de cada olhar presente na mostra e geraria outras histórias.

Mesmo que o tal reconhecimento não ocorra, a simplicidade das imagens está longe de causar estranhamento. Boa parte saiu de livros antigos ou integra banco de imagens de programas de computadores disponíveis em qualquer equipamento. ;Essas imagens são pré-industriais, de um tempo em que os livros tinham ilustrações. Elas buscam um coisa nostálgica relacionada com imaginário infantil, com as histórias contadas e têm mais a ver com a experiência de uma criança, quando compreendemos o mundo antes de compreender a linguagem verbal. O trabalho busca trazer as pessoas que já estão na linguagem verbal para esse momento anterior.;

O aspecto de derretimento presente na maioria das pinturas remete ao universo infantil, mas sobretudo à relação do artista com o material da pintura. É como se Elder Rocha quisesse lembrar a fragilidade da tinta ao explicitar sua liquidez. A intenção fica clara na instalação Mar torto, cuja pintura na parede dialoga com objetos que conferem tridimensionalidade ao conjunto. ;Dou um jeito de revelar a materialidade;, brinca o artista.

JUSTAPOSIÇÃO POLAR
Exposição de Elder Rocha. Visitação até 23 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Galeria 2 do Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Sul, Tc. 2). Informações: 3310-7081

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