Mirella D'Elia
postado em 07/07/2009 08:30
Jovens que nem eram nascidos quando Michael Jackson já estourava em emissoras de rádio e tevê de todo o mundo vão se unir a milhares de fãs de outras gerações no dia dedicado a homenagear um dos maiores astros da música pop de todos os tempos. De uma forma ou de outra - muitos até mesmo sem entender bem -, adolescentes trazem algo do cantor. Do jeito de vestir à forma de dançar, Michael Jackson é referência no comportamento de pessoas de todas as idades.
Não é preciso ir muito longe para encontrar marcas da herança Jackson. A garotada do Centro de Ensino Médio Elefante Branco, na Asa Sul, é um exemplo. Aos 15 anos, Luiz Gustavo Alves Edwards se destaca entre os colegas de turma não só pelos quase dois metros de altura. De vez em quando, ele arrisca uns passos de Thriller. Quando o ídolo morreu, não foi diferente. Bastou a célebre canção ecoar na rádio da escola para que ele começasse a dançar no pátio, como no filme musical Moonwalker (assista ao vídeo). "Sempre gostei dele, desde pequeno. Meu pai já gostava, aprendi em casa, diz. Quando me contaram que ele tinha morrido, fiquei parado, sem reação. Não consigo acreditar até agora", declara. Como forma de reverenciar o ídolo, Luiz Gustavo diz que vai ouvir uma canção dele hoje.
Jeilson Ferreira Nunes, dois anos mais velho, tem um grupo de street dance junto com amigos. Conta que Michael Jackson foi uma das mais importantes influências na hora de desenhar os passos. "Foi uma grande inspiração. Gosto muito dos passos dele, foi um grande dançarino", afirma. Ao contrário do amigo, ele não programou nada especial para o dia em que o mundo vai dar adeus ao cantor. "Para mim, todo dia é dia. É como se fosse uma homenagem que faço, dançando todos os dias", relata.
Ao lado de Jeilson, Helbert Souza, também de 17 anos, já usou o grafite para explicitar o que aprendeu com Michael Jackson. "Já fiz um mural com o estilo de Thriller", diz o jovem, que também é craque em passos de break. "Fiquei abalado como todo mundo ficou. Ele é um ícone", afirma.
Luto
A escola teve espaço até mesmo para manifestações de luto. As estudantes Hellen Cristina Lisboa Moreira e Débora Luiza dos Santos Barbosa, de 15 anos, resolveram tomar a iniciativa de prestar uma homenagem, ainda que singela, ao cantor: no dia em que ele morreu, resolveram espalhar pelas salas de aula do Elefante Branco cartazes improvisados, em que se lia a palavra "luto". "Eu vi que tinha que fazer alguma coisa, tinha que ter uma homenagem. Por isso, tomei essa iniciativa", diz Hellen. Os cartazes, na verdade folhas de papel arrancadas de cadernos, foram retirados das paredes da escola. Mas Débora e Hellen, assim como milhares de jovens, fazem parte das inúmeras comunidades espalhadas por sites de relacionamento, como o orkut.
A tristeza explícita dos covers
Eles estão bem longe do estádio Staples Center, em Los Angeles. Não foram sorteados para, junto a milhares de fãs, se despedirem hoje de Michael Jackson. E não teriam como arcar com as despesas de uma viagem até os Estados Unidos. Mas também vão chorar a perda do Rei do Pop e reverenciar a memória do artista com homenagens no Brasil.
Giulliano Lennon Bezerra Cardoso e Ferdinando Luiz Neto dedicaram boa parte da vida a imitar Michael Jackson. Giulliano, de 26 anos, tem o sobrenome do beatle John Lennon na certidão de nascimento. Mas seu ídolo sempre foi outro. Giu Jackson, como é conhecido, é cover de Michael Jackson desde os 15 anos. Influência dos mais velhos, como muitos jovens de sua geração. "Desde que nasci, só dava ele no rádio, na TV, nos jornais", diz. Sua canção favorita é Thriller, que marcou o auge da carreira do cantor e inaugurou a era moderna dos videoclipes. "Sou autodidata. Aprendi tudo o que sei ao imitar os clipes dele", conta. A inspiração não se limitou ao inconfundível jeito de dançar. "Eu me projetei mentalmente para ser bem parecido com ele, fisicamente, no modo de dançar, de vestir", explica.
Giulliano começou as imitações meio de brincadeira, se apresentando apenas para os amigos. Mas, com o passar do tempo, o negócio foi ficando sério e ele passou a cobrar cachê. Hoje, consegue faturar uns trocados com o que faz. "No começo eu não cobrava, mas todo mundo gostou e eu continuei. Ele já se apresentou em programas de TV e, orgulha-se, chegou a vencer duas vezes um concurso de covers do astro. Mas não vai conseguir realizar o maior sonho: se apresentar ao lado do ídolo. 'Não era a hora dele'", lamenta. Em homenagem ao norte-americano, o brasileiro vai se apresentar em uma casa noturna de Taguatinga Sul. Mas não adianta detalhes.
Em Sobradinho, Ferdinando - ou melhor, Mr. Jackson - passará o dia colado na telinha da TV acompanhando o velório de Michael Jackson. "Será uma perda de tempo (ir ao estádio Staples Center), os fãs não vão ter acesso a nada", lamenta, resignado. Ele imita o cantor há 15 anos. Diz que já fez shows em cinco estados brasileiros e que prestigiou as únicas duas apresentações do Rei do Pop no Brasil. Mas hoje não vai executar uma coreografia sequer. "Estou de luto."