Diversão e Arte

Michael: Mais um sobrevivente

Especial para o Correio
postado em 07/07/2009 08:36
O corpo de Michael Jackson será baixado hoje, mas a imagem do astro está longe de virar cinzas. Ao contrário, a morte da celebridade vem sendo acompanhada pela sobrevida do artista talentoso, graças a um fascínio extemporâneo que, por macabra ironia, parece contagiar uma geração até então imune a sua influência e que não chorou sua morte. São as crianças que vão ajudar a perpetuar o mito. É uma geração que não parece preocupada com as esquisitices que fazem a alegria de outro tipo de fã, mais interessado na vida pessoal e que pouco se lixa para a música e atuação. As crianças de agora estão enfeitiçadas pelas coreografias e pelas canções e não pelo dono de uma casa que parecia um centro de aliciamento de menores. Essas redescobertas são permanentes - certamente todos os dias os Beatles ganham um novo fã. No caso de Michael Jackson, a superexposição ajuda, mas não basta para explicar a febre que tomou de assalto gente que nasceu 10, 12 ou mais anos depois de ele ter lançado seus clipes mais famosos - sim, porque a mania é audiovisual, em mp4, como demonstram os mais de 48 milhões de acessos do vídeo de Thriller no YouTube... e contando. Michael não morreu como Elvis, fora de forma, mudando o repertório e transformado em autoparódia; a comparação mais próxima pode ser com John Lennon, que estava lançando um segundo disco para tentar retomar a carreira interrompida para criar o filho Sean, quando foi baleado. Michael estava preparando uma retomada, como Lennon, embora por um viés retrô, oferecendo mais do mesmo a uma massa faminta. A obra de Michael Jackson estava encerrada antes de sua morte; o auge da carreira já tinha recebido até edições comemorativas - caso do relançamento do álbum Thriller, repleto de convidados moderninhos - e o artista parecia não encontrar saída que não fosse a aposentadoria depois de uma despedida triunfante. Como sobreviver ao auge? Esta é uma receita que Orson Welles - caso raro de um artista que não sucumbiu à própria obra-prima - não deixou escrita. Aos herdeiros do cantor - não à turma interessado nos milhões, evidente - resta buscar o legado do artista para que novas levas de crianças se encantem com o mito. O desafio agora é encontrar a caixa-preta do talento perdido, uma vez que haverá a oportunidade de escarafunchar arquivos de obras deixadas inacabadas ou simplesmente não lançadas, como já se fez com dezenas de artistas. É possível, a partir desses vestígios, determinar o rumo que ele e seus produtores andavam imaginando para a sobrevivência. A meninada que não ficou triste com a morte de Michael Jackson, até porque não o conhecia, agora se diverte com suas canções e seus vídeos. As esquisitices estarão dentro do caixão. Paulo Pestana Jornalista

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