Diogo Nogueira é um privilegiado. Herdeiro da arte de João Nogueira, nome que faz parte da história do samba, o cantor e compositor, com apenas três anos de carreira, já ostenta posição de destaque na música brasileira. Assina, por exemplo, os sambas-enredos que a Portela levou para a Marquês de Sapucaí em 2008 e 2009. Na semana passada, o cantor lançou Tô fazendo minha parte, o segundo disco. Na etapa de finalização do CD, recebeu a ligação de ninguém menos do que Chico Buarque lhe oferecendo música. E não foi só: o autor de clássicos da MPB como Quem te viu, quem te vê se prontificou a juntar sua voz ao coro de Sou eu ; o samba que compusera para Diogo. ;Eu era um moleque quando conheci Chico Buaque;, conta. ;Meu pai sempre me levava ao campo do Politheama, o time que o Chico mantém. Depois disso não tivemos mais contato. Quando ele me ligou para oferecer Sou eu, que fez com Ivan Lins, tive uma baita surpresa. O CD ia começar a ser prensado quando chegou esse samba. Imediatamente, pedi para que parassem tudo. Afinal de contas, era um samba do Chico e do Ivan, um presente do céu;, comemora. Forte candidata a hit radiofônico, Sou eu tem suingue delicioso e letra de autoria facilmente identificável. Começa dizendo: ;Na minha mão/ O coração balança/ No salão/ Pra esse, ela bamboleia;. E Diogo teve mais o que festejar: ;Pude contar nesse samba com o bandolim virtuoso do brasiliense Hamilton de Holanda;. Para compor o repertório de Tô fazendo minha parte, Diogo recorreu a compositores consagrados e aos da nova geração, quase todos seus amigos. No primeiro caso estão Arlindo Cruz, parceiro de Jorge David e José Franco Latari em Luz pra brilhar meu caminho, e de Wilson das Neves em Não dá. Xande de Pilares é coautor de Deus é mais e Tô te querendo, que fez com Adalto Magalha e Almir Guineto. Já Fred Camacho e Alceu Maia assinam Presente de Deus. Quis também, no disco, Malandro é malandro, mané é mané, de Neguinho da Beija-Flor, que entrou como faixa bônus e na trilha da novela Caminhos das Índias. Entre os novos, há um compositor que iniciou a carreira em Brasília, Leandro Fregonesi. Com Ciraninho, ele compôs Amor imperfeito e Força maior (esta também com Diogo). Inéditos ou não, em cada samba gravado há a marca registrada do jovem sambista, que imprime sua personalidade tanto na escolha do repertório como na interpretação. Diogo Nogueira deixa claro que, mesmo tendo o pai como referência, possui estilo próprio e peculiar. Tô fazendo minha parte, além de ser nome da faixa de abertura do álbum, deixa implícito o conceito do trabalho. ;A letra desse samba de Flavinho Silva e Gilson Benini traz a mensagem que queria passar neste momento, sintetizada no verso inicial: ;Tô saindo pra batalha/ Pelo pão de cada dia/ A fé que trago no peito/ É a minha garantia;. É a luta do trabalhador brasileiro, que acorda cedo para ir atrás do sustento dele e dos familiares;, explica. O álbum tem produção do experiente bandolinista e cavaquinista Alceu Maia e reúne músicos do primeiro time, como Joel Nascimento (bandolim), Dirceu Leite (sopros), Fernando Merlino (teclados), André Neiva (baixo), Camilo Mariano (bateria) e Pirulito (percussão). Há ainda a participação especial de Júnior (ex-jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira e amigo de Diogo) no pandeiro. ; Na tevê É Diogo Nogueira quem comanda Samba da Gamboa, programa exibido às quartas-feiras, às 20h30, pela TV Brasil. Gravada no Trapiche Gamboa, antigo armazém na região portuária do Rio de Janeiro, a primeira temporada da série contou com a participação de grandes nomes do gênero, como Zeca Pagodinho e Monarco. ;Quando comecei a gravar o programa, tive alguma dificuldade, mas logo fiquei à vontade para receber e conversar com os mestres do samba. Tenho aprendido muito com eles;, comenta. Uma segunda fase vai ao ar a partir de outubro, tendo também como convidados sambistas de outras regiões do país. ; Ouça trecho da música Sou eu, de Chico Buarque, interpretada por Diogo Nogueira