Daniela Paiva
Nahima Maciel
Rosualdo Rodrigues
A andança pelo mundo aforainicia em Honduras, onde Indiana nasceu. De lá, caminhou pelo México, Portugal, Nicarágua e Alemanha Oriental. Aos 12 anos, parou na capital. Errante como os imigrantes que desbravaram o planalto central. Aqui, encontrou o lar para as tantas influências. Desde 1996, fez dos palcos da noite sua casa ; ainda que hoje ela esteja meio distante. Cantou em inúmeras bandas, abriu show para artistas como Jorge Ben Jor, Pato Fu, Alceu Valença, Billy Paul, Gloria Gaynor. Por mais que seja quase um patrimônio cultural da cidade, Indiana Nomma tem apenas 33 anos. Está aprendendo a andar com as próprias pernas. Delicia-se com a arte de compor as músicas que expressam sua bela voz. Como é hoje a sua ligação com Honduras?
Minha mãe era gaúcha, meu pai, baiano. Exilados do Brasil em 1964, eles sobreviveram através de convites de emprego até meu pai virar funcionário das Nações Unidas. Meu pai está fugindo do golpe (ocorrido recentemente naquele país). Ele tem casa em Rondônia, mas está há três anos em Honduras. O gosto pela música cubana, latino-americana, visceral, de cânticos chorosos e revolucionários é uma característica muito forte na minha personalidade. De gritar, levantar bandeiras. Faz uma diferença porque você não pega qualquer música para cantar. Tem que ter um sentido, um porquê, um grito de guerra na história. Qual a influência dessas peregrinações pelo mundo na sua vida?
A gente nunca se sente muito de um país. Fica difícil estabelecer uma identidade só, com uma característica. Você acaba multifacetada. Foi o que aconteceu comigo. A música latina, a influência do meu pai, que era jazzista, a rigidez alemã. Chegando aqui no Brasil, descobri esse país com tudo que é tipo de cultura ao mesmo tempo. Dá uma pirada na cabeça. Influenciou bem e me confundiu por muitos anos. Até hoje, às vezes, me confundo. Mas é muito bom. Você é casada? Tem filhos? Como é ser mãe e cantora? Sou casada. Tenho um filho de outra relação. Ele se chama Tagore, de 11 anos. O nome é por causa de um poeta indiano, Prêmio Nobel de Literatura, que sempre gostei muito. Você já quis ser cantora lírica? Estudo música desde os 8 anos. Tenho formação na Alemanha Oriental em canto solo e lírico que ensinavam nos colégios. Sempre quis ser cantora desde os 4 anos, quando vi um desenho animado com uma menina que engolia o microfone e dava um agudão. O lírico aconteceu quando estava com 16 para 17 anos. Descobri que tinha voz grave. Isso é um diferencial. Na época, queria ser rebelde e cantar com os meninos. Fui ser tenor. Só que, na universidade, eles não iam aceitar. Tinha que ser contralto. Achei comum, e falei: ;Não quero;. Com 18, não queria mais música erudita. Eu e uma amiga cantávamos em mesa de bar até que nos chamaram para fazer um backing vocal. Todo mundo começou a falar. Você consegue viver de música?
Vivo da música. Faço produção, shows, projetos, consultoria, produzo casas noturnas, outros músicos. Vivo do que a música oferece. Você não vive de música. Paga as contas. A minha atividade hoje é só música. Não tenho outro emprego. Poucas pessoas conseguem isso. Faço um programa de graça (Anjos da noite, todas às terças, às 22h, na Rádio Cultura FM 100,9), oriento outros músicos a entenderem o mercado musical. Isso me leva a ter um carro do ano? Não. Mas também atualmente isso não é o maior desejo. Prefiro trabalhar com o que gosto. A famosa rivalidade feminina existe também no meio musical? Não, não. Todas as cantoras que eu conheço se admiram muito. O fato de Brasília ser uma cidade relativamente pequena em comparação a São Paulo, por exemplo, faz com que se tenha talentos expressivos em cada estilo. Rivalidade mesmo, acho que não tem isso não. Em São Paulo, Rio, ainda pode existir isso. Em Brasília, todo mundo quer aprender. Brasília tem muita cultura para fornecer, ser formada e batalhada. Quanto mais lugares são fechados por causa de alvará e tã-nã-nã-nã, mais isso faz com que a gente se alie. Nada de criar uma rivalidade desnecessária. Qual o melhor e o pior de morar em Brasília? É uma cidade do interior grande. Ou seja, você chega em qualquer lugar rápido e encontra as mesmas pessoas nos mesmos lugares, mas se você quiser sumir, pode também. Isso eu acho genial. A pior parte hoje é o trânsito, que me dá saudade de quando eu chegue aqui. Aliás, antes do trânsito chato, a falta de educação das pessoas. Elas não falam bom dia, boa tarde. Você agradece elas não respondem. Você leva muita cantada na noite? Mais de homem ou mulher? Cantada, cantada, não. Acho que eu tenho uma imagem que deixa a pessoa meio longe da ideia da cantada. Mas existe uma aproximação sim, é claro, muito bem-vinda, que é sempre gostoso e dá em grandes amizades, conhecimento, troca de energia. Acho isso muito legal. Não me incomoda. Nesse momento agora, até pela energia que eu estou vibrando, mais homens. Mas eu já tive uma fase só das mulheres. Depois que eu fui para o jazz, a coisa ficou mais masculina. Antes quando era discoteca, voz e violão, o público feminino caía matando.
A cantora Indianna Nomma fala sobre o que não gosta de cantar