Ricardo Daehn
postado em 12/07/2009 13:14
Com a câmera já na mão ; ou numa realidade muito próxima das filmagens ;, os cineastas de Brasília têm, em comum, ideias que fervilham na cabeça: alguns desafiam a existência divina, outros atacam o dégradé social que contracena na capital, enquanto terceiros bebem de inspiração estrangeira para materializar peculiares histórias nacionais. Certo mesmo, é que muitos dos enredos contados abaixo, em breve, como diz o bordão, estarão numa ;sala perto de você;.
Dedicados por meses, e até mesmo anos, aos projetos em vias da realização, os diretores locais, muitas vezes, vislumbram a sala do Cine Brasília ; mais precisamente as sessões do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ; como meta para as futuras exibições. Com antecedência de meio ano, na finalização do média-metragem Ratão, o diretor Santiago Dellape não segreda a intenção com o sétimo projeto: ;Gosto de guardar os filmes para o festival da cidade, apesar de várias decepções. Sou brasiliense, cabeça-dura e persistente;, afirma, aos 26 anos.
Influenciado pelo cinema noir e pela literatura de Raymond Chandler, Dellape filmará (com R$ 70 mil do Fundo de Apoio à Cultura, FAC) em setembro, tendo planejado 27 locações. ;Vamos ter muita ação e perseguição, num filme realmente difícil, com cenas em galerias de águas pluviais e nas ruas. Estamos em pré-produção dessa comédia policial que tem pegada meio ;sessão da tarde;. É sobre um garoto órfão, que vive com o tio, e se envolve em negociatas. A inspiração maior vem de O grande Lebowski e do Queime depois de ler (ambos dos irmãos Joel e Ethan Coen), mas tem um tanto de Os goonies também. Mostraremos policiais do serviço secreto brasileiro, o Bina (num trocadilho com a Abin);, adianta Santiago Dellape. Ratão deverá ser concluído, depois da segunda montagem, ;sem lição de moral;, para uma fita institucional destinada ao combate da exploração sexual de jovens.
Índio Galdino
O pano de fundo social transparece em A noite por testemunha, o segundo curta-metragem assinado por Bruno Torres, em adiantada etapa de finalização. ;O recorte do filme é o tratamento da inconsequência e da culpa. É o registro de uma noite fatídica, com os processos de elaboração e sentimentais associados à banalidade da violência, ressaltando o pensamento de coisas vistas como descartáveis;, conta Torres.
Baseado no caso do crime contra o índio Galdino, o filme terá estrutura fora da ordem linear, feito com negativos de última geração e apurada maquiagem de Vavá Torres (da telessérie Hoje é dia de Maria). ;A intervenção tinha que ser perfeita, porque um dos personagens fica bastante degradado;, aponta Torres, que ressalta não se tratar de mera reconstituição do fato verídico. ;Em relação ao O último raio de sol, a violência é menos explícita e há menos verborragia. É um curta bem superior, do ponto de vista de produção, por ter 21 atores e 150 figurantes;, observa o realizador. Contemplado em edital do Ministério da Cultura, o filme teve assegurados R$ 80 mil e conta com interpretações de Alessandro Brandão, Túlio Starling e do ator manauara Fidélis Baniwa.
Crítica social
Prestes a ser rodado (com set previsto para o começo de agosto), o curta infanto-juvenil Procura-se será a quinta incursão em cinema de Iberê Carvalho. Mais amena, a crítica social também transparece na trama desenvolvida para público com idades entre 8 e 12 anos. ;Vamos apostar na promoção da amizade entre crianças de classes sociais distintas. Tivemos 300 crianças testadas para o filme, numa parceria entre a Cufa e ponto de cultura Menino de Ceilândia. Além disso, foram selecionados atores entre estudantes do Plano Piloto;, conta Iberê.
O conflito do filme alcança uma menina rica que perde um cachorrinho, em seguida, encontrado por um catador de papel que adota novo ;integrante; para a família. As coisas se complicam com os R$ 5 mil envolvidos na recompensa. Correndo atrás de apoios e até de pré-venda do filme, o diretor, atuante no audiovisual há uma década, quer aumentar os R$ 70 mil já assegurados. A pretensão é que as filmagens em digital encontrem como suporte final o 35mm, isso a tempo de possível competição no Festival de Brasília, marcado no calendário para novembro.
42; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Ainda sem definição do filme de abertura ; que, por enquanto, é tratado apenas como ;uma homenagem a Brasília; ;, o evento ocorrerá entre os dias de 17 a 24 novembro. Por enquanto, os interessados em encaminhar filmes devem aguardar, uma vez que as inscrições se estenderão entre 12 de agosto e 30 de setembro. O valor total das premiações do evento ainda está indefinido.
Produtor do curta "Nós Vivendo", Anderson Floriano