Diversão e Arte

Poder paralelo emerge no atual panorama pouco criativo da dramaturgia

Mariana Trigo
postado em 13/07/2009 08:50
Poder paralelo é uma novela para adultos. Há diálogos consistentes, cenas densas da máfia, abordagem ponderada dos casos de infidelidade e até o núcleo mais jovem apresenta conflitos convincentes, sem linguagem pueril. Esse conjunto de ingredientes traz novo conceito para a dramaturgia da Record. Apesar da insatisfatória média de 11 pontos, pela primeira vez uma novela da emissora desperta o interesse do público de classes e faixas etárias mais elevadas. Mas, apesar da quantidade de acertos da trama, como elenco afinado, direção bem acabada de Ignácio Coqueiro e um diálogo embasado, alguns detalhes ainda incomodam. A começar pela música de fundo das cenas, em tom de suspense, que sempre proporciona clima amadorístico. Isso sem falar nos cenários pouco criativos, que visivelmente carecem de mais investimento. Os deslizes, porém, são ofuscados pela atuação de grande parte do elenco. Paloma Duarte, por exemplo, tem convencido na pele da descolada Fernanda. A atriz conseguiu preencher a personagem com diversos matizes, sem pender para a vilania, e fez da artista da trama um papel crível e humanizado. Mérito também de Gabriel Braga Nunes e Marcelo Serrado. É perceptível a dedicação de ambos em tornar seus papéis - Tony e Bruno, respectivamente - em criaturas enigmáticas sem escorregar em caricaturas. Isso sem falar das interpretações concentradas de Paulo Gorgulho e Antonio Abujamra, como os poderosos da máfia Santana e Iago, respectivamente. No núcleo mais jovem, que poderia ter conflitos mais superficiais, o autor destilou seus 43 anos como autor de novelas em discussões embasadas. Exemplo disso é o triângulo amoroso formado por Luísa (Fernanda Nobre), Dog (Miguel Thiré) e André (André Bankoff). Os diálogos são bem amarrados e não existe a ingenuidade comum dos textos para personagens mais jovens. Por outro lado, é possível notar exageros no núcleo italiano. Lu Grimaldi e Gracindo Jr, como Don Caló e Freda, têm exacerbado nos gestos e no sotaque. Nos núcleos restantes, porém, até os personagens que poderiam ser mais caricatos, como o bicheiro Pavão (Castrinho), estão cuidadosamente trabalhados, sem excessos. Entre erros e acertos, mas sem alarde, Poder paralelo emerge no atual panorama pouco criativo da dramaturgia.

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