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Livro: jornalista francês experimentou viver como um dalit durante seis semanas

postado em 16/07/2009 08:30 / atualizado em 24/09/2020 12:15

NA PELE DE UM DALIT <BR> De Marc Boulet. Tradução: Ana Luísa Dantas Borges. Editora Bertrand Brasil, 322 páginas, R$ 39.Vida de intocável não é fácil. Que o diga o jornalista francês Marc Boulet, que, em 1992, aos 32 anos, viveu seis semanas como mendigo em Benares, cidade sagrada fundada há 3 mil anos. Com 2 mil templos, é banhada pelo Ganges, rio de 2.600km comparado a um esgoto a céu aberto. ;Há de tudo flutuando no Ganges: lixo, resíduos da destilação de petróleo, peixes mortos, cadáveres de vacas.;

No livro Na pele de um dalit, Boulet resume: ;A sociedade indiana é um vestígio da Antiguidade; e dispara a criticar tudo o que vê pela frente, como o hábito de assoar o nariz sem usar lenço. ;Fazem isso em público, na rua, quando sentem vontade.; Ele repara que o mesmo ocorre em relação ao lixo, jogado na calçada ou na porta do vizinho. O escritor ainda completa: ;(O indiano) Faz o mesmo com os excrementos. Quando sai e tem vontade de urinar ou defecar não se controla;.

É nesse cenário que o autor circula vestido como um dalit. Para convencer e não levantar suspeitas, Boulet tinge a pele com tinta de nitrato de prata e ingere comprimidos de metoxipsoraleno. Aos poucos, a cor desbotada de europeu ganha tonalidades regionais. O idioma, para ele, nunca foi problema. Nascido em Paris, em 1959, graduou-se em línguas orientais e, antes de se aventurar pelas ruas, criou rotina de ler os jornais locais e contratou um professor particular.

Nas páginas iniciais, o jornalista leva o leitor a conhecer um pouco aquele país e informa que 48% da população da Índia são analfabetos e 23% são intocáveis. A essa casta pertencem garis, lavadeiras, coveiros, sapateiros. ;Vivem em bairros específicos, separados dos outros. Até mesmo sua sombra pode poluir;, confirma ele.

A alta casta tampouco escapa de ser espinafrada. ;A sociedade dos brâmanes, fechada e intolerante, incita as pessoas de casta alta a desempenhar um papel duplo. Assumem uma aparência honesta e civilizada e difamam os intocáveis. A única coisa que os difere é a hipocrisia. Não são mais puros.; Boulet destaca também que esses nobres seguem dieta vegetariana e sem álcool. Carne de porco nem pensar. Já os intocáveis não rejeitam esses prazeres e costumam consumir álcool sintético vendido em saquinhos plásticos. Entretanto, todos são iguais em outro hábito difundido no país: ;Os indianos de todas as castas coçam os testículos publicamente;, afirma o escritor.

Nem os macacos ficam fora das críticas: ;Eles correm livremente pelas ruas, voam de casa em casa, sempre procurando algo para furtar;. Publicado em 1994, na Europa, o livro chegou ao Brasil, possivelmente na trilha da onda indiana, detonada pela novela das oito. Para Boulet, o país não representou mero acidente geográfico. Antes, havia vivido e lançado, em 1988, Na pele de um chinês, ainda inédito no país.

; Leia trechos do livro


* Os indianos são incapazes de fabricar um objeto perfeito. Daí as bacias de plástico que vazam desde a compra, os cadeados que emperram depois de uma semana de uso, as solas de sapato que descolam depois de um dia de caminhada, as canetas que não escrevem, o despertador que não toca

* Comem com a mão direita. A esquerda é usada para fazer as necessidades

* Os hindus de casta elevada são anormais. Seguem dieta vegetariana e sem álcool, mas consomem drogas à base de canabis. Os mais ortodoxos não comem sequer cebola ou alho, considerados impuros

* O filme hindi é uma diarreia de imagens e sons. Não é um cinema experimental, é malfeito ou negligente

* Os indianos andam como patos, com os pés abertos e, para dizer sim balançam a cabeça da esquerda para a direita

* Na França, li que os indianos eram tolerantes e não violentos. É a sociedade mais violenta do mundo. Os poderosos tratam os pobres como escravos

* No livro Nós, os indianos, Khushwant Singh explica por que o povo coça os órgãos genitais, escarram, urinam, defecam e jogam o lixo na rua. Segundo ele, os maus modos dos indianos vêm do "egoísmo exacerbado, da falta de sentido cívico e de consideração pelos outros"

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