Diversão e Arte

Pesquisador de viola caipira, Roberto Corrêa lança mais um CD

Irlam Rocha Lima
postado em 17/07/2009 08:00
Uma verdadeira arqueologia musical. É assim o levantamento realizado, em 1997, sobre música tocada na região do Distrito Federal e Entorno antes mesmo da fundação de Brasília. O autor do feito foi o violeiro Roberto Corrêa. Grande parte do trabalho está registrada no álbum intitulado Sertão ponteado ; Tradições musicais do Entorno do DF. O lançamento desse raro documento, CD com 23 faixas, ocorreu em 1998, conta o violeiro, que hoje e amanhã, às 20h, no Teatro da Caixa, apresenta mais uma pérola: Temperança, seu 16; disco.

Roberto Corrêa reencontrou parte dos músicos da pesquisa em 2005 para gravação de documentário para cinema, dirigido por Ângela ZoéIndagado sobre o Sertão Ponteado, o músico lembra do esforço para produzi-lo. ;O trabalho foi duro. Levamos às cidades visitadas equipamento de gravação, para fazer o registro nos próprios locais. Houve, anteriormente, prospecção dos lugares e das manifestações, conduzida pelo Carioca (Valério Bernardo). O material que resgatamos foi vasto, mas muita coisa ficou de fora do disco e poderá ser aproveitada futuramente, num desdobramento do projeto;, afirma.

Em seu trabalho investigativo, que abrangeu Planaltina, Luziânia e Formosa (GO), Bonfinópolis, Buritis, Paracatu e Sagarana (MG), Corrêa contou com a colaboração da mulher e produtora Juliana Saenger e de Valério Bernardo, que trabalhava, na época, em uma secretaria do GDF ligada ao Entorno.

Sempre atento a detalhes, o violeiro dividiu o Sertão ponteado em funções (categorias): cantoria de devoção (folia do Divino, folia de reis e folia de São Sebastião); cantoria de diversão (catira, lundu e curraleira); cantos de trabalho (bendito de engenho) e canto de fuandeiras); e mais cantigas de roda de Paracatu, terços cantados e dança de São Gonçalo. ;Em todas essas manifestações, a viola é o instrumento básico no acompanhamento;, faz questão de destacar.

[SAIBAMAIS]Durante a pesquisa, o músico ficou conhecendo compositores e violeiros que ele considera de importância fundamental para a preservação desse gênero de música, entre os quais o goiano Badia Medeiros, os mineiros José Nucias (grupo de folia Irmãos Vieira) e Joaquim de Felipe, guia da folia de roça de Planaltina. ;Aliás, há quatro anos, em 2005, voltei a me encontrar com o Joaquim de Felipe e seu grupo de violeiros (em Planaltina), na gravação de documentário para cinema, dirigido por Ângela Zoé;, conta.

A sina do violeiro, assumida por Roberto Corrêa desde sempre, se faz presente, também, em Temperança. Trata-se de um CD de canções, gravado apenas com voz e viola. Nele foram reunidas 18 composições autorais, com poesias dele e de parceiros. ;As músicas foram gravadas sem dobras ou efeitos e, por meio delas, falo de episódios importantes da minha vida;, comenta.

Temperança traz mais uma vez, de forma intensa, o compositor. Disco difícil de classificar, apresenta temas que vão além do regional, com sonoridade moderna da antiga viola caipira. Como violeiro e como homem, esse mineiro-brasiliense contempla sua trajetória e escolhas como ;artista renascido (que enfrentou e venceu a morte, quando um tumor no cérebro começou a afetar sua área motora) e libertado, pleno, vasto enfim;, se emociona.

; Temperança
Show de lançamento do 16; disco de Roberto Corrêa, hoje e amanhã, às 20h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (estudantes, professores, maiores de 60 anos e funcionários da Caixa). Classificação indicativa livre. Informações: 3206-9448.

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