Diversão e Arte

Músicos de várias gerações mantêm vivo o jeito caipira de ver o mundo

Irlam Rocha Lima
postado em 17/07/2009 08:01
Ricardo Lima lançou em 2006 o CD De volta para o sertão, de produção independente, com 12 faixasO som da viola caipira ecoa pelos quatro cantos do Distrito Federal e adjacências. Ouve-se o instrumento em teatros, clubes, shoppings, casas noturnas, festivais, encontros e residências, tocada por músicos profisionais, amadores e, também, pelos estudantes da Escola de Música de Brasília e da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, em aulas regulares.

De tão apreciado, o instrumento ganhou até uma entidade denominada Clube do Violeiro Caipira de Brasília, criada em 1993 e hoje reconhecida nacionalmente, principalmente por suas realizações. Há nove anos, o clube promove, por exemplo, o Encontro de Folia de Reis, que em março voltou a ocorrer na Granja do Torto, com a participação de músicos de várias regiões do país. Uma das atrações foi o rabequeiro pernambucano Siba, ex-Mestre Ambrósio.

Nos dias 7 e 8 de agosto, o clube organiza, na Praça do Laço, o 9; Encontro de Violeiros de Brazlândia, que deverá contar com a presença de 12 instrumentistas, entre eles Roberto Corrêa, Pereira da Viola (de Minas Gerais) e a dupla Zé Mulato & Cassiano como destaques. ;Eventos itinerantes como esse são importantes para divulgar e difundir manifestações ligadas à viola e à cultura caipiras na região e nacionalmente;, explica Volmi Batista, mineiro de Coromandel, brasiliense há quase 40 anos, presidente do Clube do Violeiro.

[SAIBAMAIS]Sucessora de Pena Branca & Xavantinho, a dupla formada pelos mineiros-brasilienses Zé Mulato e Cassiano tornou-se referência nacional quando o assunto é música caipira de raiz. Juntos na música há mais de 30 anos, os irmãos originários de Passebem (MG) já lançaram 11 discos e preparam-se para chegar ao mercado com mais dois: um instrumental (de viola) e Sertão ainda é sertão, com músicas cantadas.

;Estou vendo muita semente (da música feita com viola) plantada. Algumas vão vingar e fazer história, enquanto outras são como aqueles ramos que nascem fracos;, afirma Zé Mulato. ;Mas fico contente com o surgimento de novos violeiros, de novas duplas, e ver como a juventude tem abraçado a nossa bandeira;, acrescenta.

Nascido em Campina Verde (Triângulo Mineiro), portanto conterrâneo de Roberto Corrêa, Ricardo Lima, morador de Santa Maria, está no DF desde 1987. Inicialmente ele tocava violão, mas, por influência de Corrêa, optou pela viola, assim que se matriculou na Escola de Música, como aluno de Marcos Mesquita.

Juca Violeiro: Além de violeiro, Ricardo é compositor e, em 2001, formou o grupo Som do Verde, que se apresenta no Di Girotto (ao lado do shopping CasaPark), em eventos particulares e, eventualmente, na Igreja de Fátima, na entrequadra 307/308 Sul. Além disso, participa de festivais pelo país, tendo sido premiado em Alegre (ES) e Luziânia (GO).

Músicas autorais
Em carreira solo, Ricardo lançou em 2006 o CD De volta para o sertão, de produção independente, com 12 faixas ; todas músicas autorais e, entre elas, Viva a viola, Catira do amor, Filosofia cabocla e Chão nativo. Hoje, o cantor e violeiro faz show às 12h, no restaurante Casarão (Acampamento do DFL), na Vila Planalto.

Outro violeiro com trabalho reconhecido é Carlos Pacheco. Ex-maestro das orquestras sinfônicas de Goiás e Maringá (PR), ele mora em Brasília há 20 anos. Nascido em Ipameri (GO), lembra que o gosto pela viola caipira vem da família, apreciadora da música interiorana. E explica por que, há 16 anos, passou a dar importância maior ao instrumento: ;Vi que a cultura popular brasileira autêntica estava sendo deixada de lado pelas pessoas, principalmente os jovens, ligados em gêneros musicais importados, como rock, reggae, hip hop;.

Em 1993, o maestro trocou o nome ; próprio ; de Carlos Pacheco, para artisticamente seguir adiante como Juca Violeiro. E foi com esse pseudônimo que passou a fazer apresentações em Taguatinga, Sobradinho, Águas Claras (onde mora), Brasília e Goiânia. ;Em 1998, lancei o CD Meu caminho e, de lá para cá, tenho incorporado ao repertório tradicional de música caipira temas de Heitor Villa-Lobos, Geraldo Vandré e outros compositores;, destaca.

Mas há quem mantenha fidelidade total à tradição da música caipira. É o caso de Badia Medeiros. Nascido e criado em Formosa (GO), ele foi ;descoberto; por Roberto Corrêa em sua incursão pelo Entorno com o projeto Sertão ponteado. Violeiro desde sempre, tem três discos lançados (o mais recente é Mestres do sertão, de 2004) e, em 40 anos de trajetória musical, participou de vários outros (como Esbrangente, de Corrêa).

;Conheci o Roberto em 1997. Tomei parte no Sertão ponteado e depois disso ele nunca mais me perdeu de vista. Tenho sido convidado por ele para apresentações pelo Brasil, principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Em 2002, fizemos uma excursão de 46 dias pelos teatros do Sesc, com o show Sonora Brasil;, diz, orgulhoso. ;Roberto tem importância fundamental para o movimento da viola caipira;, prega.

; Aulas de tradição

Nem só de aulas de piano, violoncelo, violino, violão, bandolim, cavaquinho e saxofone vive a grade dos cursos oferecidos pela Escola de Música de Brasília e pela Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello. Em ambas estudantes ; jovens e adultos ; também aprendem a tocar viola caipira.

Professor de viola, há 18 anos na Escola de Música, Marcos Mesquita tem formação em violão clássico. ;Me encantei com a sonoridade da viola ao ouvir o LP Doma, de Almir Sater, em 1982. Eu estudava no Departamento de Música da UnB e tinha como colega Roberto Corrêa, que acabara de fazer o curso de física. Dele comprei minha primeira viola profissional;, recorda-se.

Com dois discos lançados (o segundo, Planalto Central, saiu em 2005), ele tem 17 alunos no curso de viola caipira e alguns particulares. ;Há muito interesse tanto dos jovens quanto das pessoas com mais idade por esse som extraído da viola, que tem tudo a ver com a nossa cultura popular autêntica;, diz, convicto.

Quem dá aula de viola na Escola Brasileira de Choro é Cacai Nunes, que foi aluno de Marcos Mesquita. ;Sou professor da escola há três anos e, no momento, tenho 20 alunos na faixa dos 20 aos 50 anos. Alguns até já tocam por aí. Todos são influenciados por mestres como Roberto Corrêa, que representa a modernidade, e Zé Mulato & Cassiano, ligados à tradição;. (IRL)

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