Diversão e Arte

Documentário de Brasília produzido em parceria com a HBO narra a vida de Maurício de Sousa

postado em 18/07/2009 08:30
Pergunte a Maurício de Sousa sobre o segredo do sucesso internacional da Turma da Mônica. Muito possivelmente, ele responderá com uma filosofia tão simples quanto valiosa: criança é igual em todo lugar. Desde a primeira tirinha de jornal, publicada há 50 anos, o artista desenhou uma infância universal. Conhecidos em 120 países, personagens como Cebolinha e Cascão estão muito vivos no cotidiano de uma multidão de crianças e adultos. Mas que o fã não duvide: a vida de Maurício, 73 anos, guarda histórias igualmente incríveis ; e elas não estão no gibi.

A trajetória impressiona por grandes e pequenas ousadias. Na década de 1970, quando produtos estrangeiros dominavam o mercado de quadrinhos, ele destronou até o Mickey Mouse. A coragem do desenhista parece ter contaminado o documentário Biography: Maurício de Sousa, que estreia hoje em toda a América Latina pelo canal Biography (disponível em 79 milhões de lares em todo o mundo, mas ainda não em Brasília). O filme, que será reprisado pelo A Mundo, quebra um tabu: é a primeira criação conjunta entre Brasília e a HBO, empresa da Time Warner que está por trás de coproduções como Mandrake e Alice. ;O Maurício acredita na busca por novos caminhos. É uma grande inspiração;, admite o produtor Marcus Ligocki, 36 anos.

Quando criança, o brasiliense Marcus aprendia a desenhar com Mônica e Cebolinha. Antes disso, nos anos 1960, o paulista Renato Barbieri já devorava as tirinhas de Horácio, o dinossauro vegetariano. ;Fui alfabetizado por Maurício de Sousa e Monteiro Lobato;, reconhece Renato, 50. Pareciam as pessoas certas para o projeto. Mas a ideia para Biography: Maurício de Sousa apareceu quase num estalo. De supetão.

Em 2005, o produtor e o diretor tentaram um acordo com a HBO para a exibição do filme As vidas de Maria, dirigido por Renato. A conversa não rendeu muito, mas abriu portas para os canais A Mundo e The History Channel. ;Sugerimos logo 10 projetos, cinco para cada canal;, lembra Renato, autor de documentários como Malagrida e Atlântico Negro. O entusiasmo valeu: duas sugestões foram selecionadas. Além do filme sobre Maurício, o History Channel vai exibir Cidades inventadas, sobre o planejamento de grandes centros brasileiros como Salvador, Recife e Brasília.

Assinado o acordo, a HBO pagou o filme (via Lei do Audiovisual) e as produtoras Videografia (de Renato) e Ligocki Entretenimento se encarregaram da produção. Foram obrigados a seguir algumas diretrizes da empresa (o modelo dos enquadramentos, por exemplo), mas nada de exagerado. Maurício, no entanto, fez uma ressalva. ;Ele disse que não queria uma biografia purpurina, mas um filme sério, consistente;, lembra Renato. Gostou tanto do resultado que vai exibir a obra hoje na estreia da exposição Maurício 50 anos, no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), em São Paulo. Será o início das comemorações de cinco décadas de arte.

O filme abre um baú com cadernos de anotações, filmagens em Super 8 e fotografias raras. E histórias, muitas histórias. Depois de entrevistar personalidades como Ziraldo, Herbert Vianna, Pelé e Jim Davis, criador do Garfield, a dupla traçou uma tese que esclarece a formação do artista: em Mogi das Cruzes (SP), onde passou a infância, Maurício foi exposto a um intenso caldo cultural. ;Ele sempre se inspirou muito na própria infância, nos causos que ouvia e no contato com várias pessoas do mundo. A cidade permitia tudo isso;, observa o diretor. Renato e Marcus já pensam em seguir o exemplo. ;O audiovisual é uma atividade global. Queremos nos comunicar, encontrar público, achar mercado;, avisa o produtor.

; BIOGRAPHY: MAURÍCIO DE SOUSA
Documentário dirigido por Renato Barbieri e produzido por Marcus Ligocki. Hoje, às 22h, no Biography Channel. O canal ainda não está disponível em Brasília. Em breve, o filme será exibido no A Mundo (Sky/NET e Mais TV).

; Três perguntas - Maurício de Sousa

Para um criador de tantos personagens, é confortável ser objeto de uma biografia?
Olha, biografia de pessoa viva é a coisa mais difícil do mundo. O vivo sempre quer dar palpite. E geralmente tem razão nos palpites. Nesse caso, mais uma vez, morri de medo. Tremi nas bases. Pensei: ;Biografia por quê? Não terminei minha obra ainda;. Mas eles me convenceram a contar o que eu tinha feito até aqui. Aí tudo bem. Eu só não queria uma coisa boboca. Tinha que ser um filme mais para o lado artístico e da importância dos negócios. E eles foram para esse lado.

É possível contar uma carreira de 50 anos em 50 minutos de duração?
Eu não quero fazer um ;E o vento levou (risos). Nos dias de hoje, temos que ir atrás da concisão, da mensagem contada com poucas palavras, com poucas imagens, mas que sejam fortes, marcantes, e que digam bem o que querem trazer.

A principal tese do filme é de que grande parte da sua arte vem das experiências de infância, em Mogi das Cruzes. Você concorda?
Concordo. Todos nós somos filhotes das crianças que fomos. Por isso prego a importância de tratarmos bem das crianças nos primeiros anos. São os anos que vão marcar a personalidade, a parte social do cidadão. Nós temos que dar tudo o que pudermos dar à criançada até os 7 anos. Depois temos que monitorar, cuidar, acompanhar, dar carinho e companhia. Mas o terreno já está semeado. Se semeamos sentimentos legais, a criançada vai levar isso para o resto da vida.

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