postado em 23/07/2009 10:04
Após cinco anos cantando na noite, em lugares intimistas como o All of Jazz e o Baretto (do Hotel Fasano), em São Paulo, Ana Cañas teve recepção calorosa ao seu disco de estreia, Amor e caos. Mas os elogios não levaram a cantora paulistana de 27 anos à acomodação. Ela reaparece com uma sonoridade bem diferente no recém-lançado Hein?. Está mais para rock que para jazz. Produzida por Liminha, apresenta 13 músicas, quase todas próprias (a exceção é Chuck Berry fields forever, de Gilberto Gil), assinando sozinha ou em parcerias com o próprio Liminha, mais Arnaldo Antunes, Dadi, Fabá Gimenez e Flávio Rossi. O tempo em que achava estranho cantar as próprias canções ficou para trás. "Hoje até sinto prazer maior em cantar as minhas", afirma. Outra novidade é a oportunidade de cantar para grandes públicos. "Em Porto Alegre, cantei com Nando Reis para 70 mil pessoas; em Ribeirão Preto, com Os Paralamas, para 50 mil. É assustador, meio surreal, parece viagem de ácido", descreve Ana. Ela sabe que, por enquanto, a multidão tem mais a ver com os companheiros de palco, mas não tem pressa. "É pé no chão, pedra por pedra. Não quero sucesso, busco reconhecimento."
Depois de um primeiro disco bem recebido, pintou ansiedade em relação ao segundo?
Acho que dá um frio na barriga, porque, de certa forma, quando se tem um primeiro disco que gerou contentamento isso acaba trazendo muita expectativa. Claro que me perguntei muito sobre que caminhos tomar, o que encontrar de novo... E esse é um momento importante, de relevância significativa, porque é quando você está formando seu público.
Quando Hein? começou a tomar forma?
Quando estava na estrada divulgando Amor e caos, ouvia muito a frase "seu CD é ótimo, mas seu show é melhor". Comecei a questionar o que tinha no show que não tinha no disco. O Amor... é curto, apenas 10 músicas, e acabei colocando mais músicas para rechear o show. Naturalmente, escolhi músicas de Raul Seixas, Gilberto Gil, Cazuza, sentia que estava buscando um contrapeso às músicas de Amor e caos.
Como se deu o encontro com Liminha?
Antes de conhecê-lo, comentei com Bruno Batista (diretor da Sony) que queria um disco com pegada mais forte, e ele disse "tem o Liminha". Lembrei do nome dele dos encartes de discos dos Mutantes, que comecei a ouvir depois que o Sérgio Dias tocou comigo em um show. Perguntei: "Liminha?! Aquele do Mutantes?" Ele foi muito importante nesse momento em que eu estava descobrindo o rock. Pude compartilhar toda essa minha vontade de ter uma pegada forte, sem ficar enlatada no rock, mas com um espectro colorido, com outras fontes como o blues, reggae, pop. Foi mais que um produtor, foi uma verdadeira enciclopédia de como criar um disco.
E o trabalho de criação com ele e Arnaldo Antunes?
Foi tão bom encontrar o Liminha e o Arnaldo e ficar todo mundo bêbado, fazendo música. O Arnaldo é genial, ele cria rapidamente uma letra inteira para uma música de cinco minutos, e você não tem que trocar uma vírgula. Da mesma forma que foi legal trabalhar com o Dadi, um cara que tem história.
Como encara as comparações com outras cantoras?
Tenho musas e musas, mas busco não me parecer com ninguém, não copiar uma estética. Sou influenciada, com certeza. Temos aqueles gigantes nos quais tentamos subir no ombro e enxergar o horizonte. Mas temos que processar, digerir, chegar à célula e ter o próprio DNA.