postado em 29/07/2009 07:52
[FOTO1]Há pelo menos um ano, o maestro Silvio Barbato preparava uma homenagem ao mestre Claudio Santoro, que faria 90 anos em novembro próximo. Porém, uma fatalidade ; o acidente com o avião da Air France em maio ; acabou tirando a vida de Barbato. Mas o que foi planejado não deixará de se concretizar. Começa hoje o projeto Santoro 90 anos, série de cinco concertos que acontece no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e vai até novembro.O primeiro deles, Canções de Amor, traz parcerias entre Claudio Santoro e Vinicius de Moraes. ;Toda a concepção foi feita por Barbato, vamos fazer uma homenagem ao maestro também, já que ele seria o regente de todos os concertos da série. Além das músicas de Santoro, vamos apresentar duas peças de Barbato: Xaxado e Prelúdio;, revela Joaquim França, que assumirá a batuta durante a primeira apresentação.
Algumas manifestações pontuais em reverência a Santoro vêm sendo realizadas desde janeiro. Além do aniversário de 90 anos, 2009 marca duas décadas da morte do maestro e 30 anos de criação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, fundada por ele. ;É muito gratificante ver que a cidade está reverenciando sua obra. Brasília continua muito saudosa do maestro. É claro que o reconhecimento dele é sempre aquém do esperado, mas, de uma maneira geral, as pessoas estão se lembrando;, comenta a pianista e presidente da Associação Cultural Claudio Santoro, Jaci Tofano, que conviveu durante muitos anos com o maestro nascido no Amazonas. ;Ele tinha um vigor, uma energia que encantava a todos. Agitava a vida cultural da capital e exercia uma influência muito grande sobre todos na Universidade Brasília (UnB) e no meio erudito daqui. Ainda hoje é assim. Tanto que de uns tempos para cá, Santoro virou tema de teses de mestrado e doutorado não só no Brasil, como no exterior;, comenta Jaci.
Versatilidade
O professor da UnB e compositor Sérgio Nogueira, que chegou a ser aluno do maestro, é um dos que desenvolveram teses de mestrado e doutorado baseadas nas obras de Santoro. Para Nogueira, a versatilidade e a polivalência do maestro sempre o destacaram dos demais, fora a maneira prática e eficiente em que compunha. ;Ele sempre se preocupou mais com a parte prática do que com a teórica da música. Era muito intuitivo na hora de compor e tinha tanta facilidade para fazer as coisas que parecia automático. Compunha a toque de caixa;, revela.
A facilidade de explorar estilos e sua versatilidade, são para Sérgio Nogueira, um dos principais motivos do reconhecimento de Claudio Santoro no meio erudito. ;A diversidade musical dele fazia diferença. Ele transitou de um extremo ao outro ao longo da carreira. Tem a fase nacionalista, a fase experimental, a vanguardista e até a mais popular. Isso o destacava dos demais;, opina o estudioso.
[SAIBAMAIS]O pianista e vice-presidente da Academia de Letras e Músicas do Brasil, Dib Franciss, um fã confesso de Santoro, compartilha da opinião de Nogueira e também acredita que o maestro foi e será uma referência na música erudita justamente por sua versatilidade. ;Ele consegue transitar nas diversas linguagens musicais de uma maneira suprema. Para mim, depois de Villa-Lobos, ele foi o maior compositor erudito brasileiro e conseguiu ser respeitado não só no meio acadêmico mas fora dele também;, declara.
Já Sérgio Nogueira afirma que, do ponto de vista acadêmico e do meio intelectual, o maestro realmente ocupa um espaço merecido. Ele não se destaca mais porque a música clássica não é difundida no Brasil. ;O problema não é com Santoro em si, mas com a música erudita que não consegue romper essa barreira. Ele tem o seu espaço, conseguiu o reconhecimento, mas, ainda tem o fato de a música dele ser um pouco mais restrita, exigir mais para ser compreendia e entendida, tanto que suas composições ditas como ;mais populares; são as mais conhecidas;, explica.
A viúva do maestro, Gis;le Santoro, também aponta o fato que a tal ;complexidade; e modernidade das músicas do maestro podem ser um problema para que ele não seja tão divulgado. Porém, acredita também que a dificuldade de encontrar suas obras e partituras seja um outro sério obstáculo. ;Aos poucos, estamos digitalizando e disponibilizando as peças dele. Mas é um trabalho árduo, minucioso. Existem poucas editoras de música para produzir essas impressões. É complicado. A própria cultura do país que acaba prejudicando isso. A música erudita não tem o apoio governamental e não é uma linguagem de milhões;, lamenta.
; SANTORO 90 ANOS
Canções de Amor ; Concerto da série Santoro 90 Anos. Hoje, às 13h e às 21h. Ingressos para a sessão das 21h: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia). Sessão das 13h, grátis. Informações: 3310-7081. Classificação indicativa livre